Os 9 Melhores Álbuns que eu escutei em 2022


2022 foi um ano estranho para a música. Sendo o primeiro ano pós pandemia em que os artistas realmente poderia fazer a campanha dos seus álbuns e tocar suas músicas em festas e shows, tivemos alguns dos maiores nomes retornando com álbuns, como Kendrick Lamar e Beyoncé, ao mesmo tempo em que alguns gêneros como o rap e o rock ficaram jogando no seguro com álbuns que não pareciam fugir muito do que a onda desses ritmos esta entregando nos últimos 5 anos. Dito isso claro que 2022 foi um ano de grande música também, não apenas pelos retornos de grandes estrelas com projetos completos, mas também com o estabelecimento de alguns nomes promissores da música moderna. Então pelo sexto ano seguido vamos ver o que de melhor aconteceu em 2022 na minha visão musical.


9.Drake e 21 Savage - Her Loss


Eu não esperava comentar um álbum do Drake nesse blog nunca, quanto mais colocar algum álbum dele na minha lista de melhores do ano, mas o que eu posso fazer? tem ótimos bangers nesse álbum. O Drake tem tido últimos anos interessantes na música, depois de parecer que não tinha como ele errar com hits, ele acabou sendo massacrado pela critica e por boa parte dos seus fãs por fazer monstruosidades de mais de 20 músicas e ainda pior, não conseguir fazer os 4/5 hits do ano que sempre foi a sua especialidade, ele tentou mudar isso com seu álbum solo nesse ano Honestly, Nevermind, onde ele tentou entrar na House Music, com aquelas batidas eletrônicas mais calmas, e o disco foi ainda mais massacrado por critica e pelos seus fãs que não entenderam aonde o rapper estava indo com a sua sonoridade, então por um tempo parecia que a era Drake que estava seguindo firme e forte por mais de 10 anos estava chegando ao seu final, porém o canadense tinha uma última carta na manga: a habilidade de colaborar com artistas que estão explodindo na atualidade. É assim que nasce um dos discos colaborativos mais divertidos de se escutar no rap nos últimos anos, o Her Loss com o britânico (?) 21 Selvagem. Eu acho que o que mais me decepcionou no rap em 2022 foi o quão genérico tudo estava sendo nesse gênero, até álbuns que eu dei notas altas como 7/10 eram projetos que eu não lembrava absolutamente nada sobre na semana seguinte ao lançamento deles, todo mundo estava tentando fazer o que estava funcionando para os artistas mais famosos, ou tentando fazer o que já tinha dado certo para eles antes, e é esse o grande trunfo de Her Loss, esse é talvez o disco com mais personalidade que eu ouvi no rap/trap em 2022. Eu não vou mentir, o disco tem sim seus defeitos pra mim, a maioria deles envolve essa persona de "super milionário com coração quebrado que odeia mulheres" do Drake que eu acho bem chata desde sempre, eu também achei bem cansativo as 200 disses subliminares dele pra um monte de artistas, e seja lá quem teve a ideia de samplear "One More Time" do Daft Punk (uma das melhores músicas de todos os tempos) pra "Circo Loco" essa pessoa deveria estar presa até agora, porém tudo isso acaba ficando de lado para o tanto de entretenimento que esse álbum trás. Drake e 21 Savage não reinventam a roda dentro do que eles já normalmente fazem, mas a persona de superstar que conquistou tudo do Drake combina perfeitamente com a persona de gangster das ruas prestes a atingir o topo do 21 Savage, e pra mim nada mostra isso melhor do que na primeira música do álbum "Rich Flex", com o Drake pedindo para o 21 droppar uma barras para a sua ex com o 21 fazendo os seus adlibs, se essa não é uma das melhores introduções de um álbum de trap de todos os tempos eu não sei o que é. Eu tinha expectativas altas para esse álbum pelo 21 Savage, que na minha opinião é um dos maiores rappers daquela geração surgida em 2016, e de alguma forma elas foram superadas, os beats são incríveis, o 21 ta com flows ainda mais criativos do que nos seus últimos projetos, e o Drake esta fazendo sua coisa de trazer os hits com seu toque, não tem como pedir algo diferente vindo dos dois, eu já quero o segundo álbum, até lá as pessoas vão falar desse por muito tempo ainda. Os destaques são:  Rich Flex, Major Distribution, On BS, Privileged Rappers, Pussy & Millions, Broke Boys, e 3AM on Glenwood.
   


8.Arctic Monkeys - The Car

Eu já falei sobre esse álbum em uma critica completa que eu fiz nesse blog mês passado, então eu vou ser mais breve aqui. Para mim o grande trunfo sobre o The Car é ver a evolução do Arctic Monkeys, da banda que definiu o que era o indie rock dos anos 2000, investir em sons mais pesados até o rock de estádio que foi uma mudança de paradigma dentro do rock na década de 2010, até o final dessa mesma década com o Tranquility Base Hotel & Casino quando eles foram na direção contrária fazendo um rock espacial com melodias mais lentas, e tudo isso evolui para o sexto álbum da banda onde eles mostraram todo o potencial criativo que tem na cabeça do Alex Turner. The Car nos leva a uma viagem que passa por desilusões amorosas, reflexões sobre passado e futuro e questionamentos sobre a vida em geral, misturando esse rock lento com jazz com coisas que a banda nunca tinha experimentado antes como funk e soul. A banda pega muitas referências usando desde Beatles na sua segunda fase mais experimental, como David Bowie na construção toda desse álbum com o tema da viagem de carro. The Car é um dos álbuns mais atmosféricos lançados em 2022, toda a ambientação dele é perfeito para você entrar na vibe calma e melancólica que ele quer te passar, então se um dia você estiver andando de carro com uma chuva caindo lá fora, ou estiver apenas deitado na sua cama fazendo nada, esse é o álbum perfeito para fazer você sentir tudo e nada ao mesmo tempo. Esse é pra mim o melhor álbum de rock de uma banda famosa nesse ano, e o auge da criatividade do que os macacos artísticos podem fazer, ficando com o oitavo lugar. Os destaques são: There'd Better Be a Mirrorball, I Ain't Quite Where I Think I Am, Sculputures Of Anything Goes, Body Paint, The Car, Big Ideas, e Perfect Sense.



7.Florence + The Machine - Dance Fever


Florence + The Machine é uma banda que eu não tive a oportunidade de falar muito aqui nesse blog, mas eles são um dos meus atos indies favoritos dos últimos anos, eu simplesmente amo a vibe de "músicas que a personagem Misty Day de American Horror Story ouviria em sua cabana" que a banda traz, eu conheci eles através do álbum High As Hope de 2018, que é um dos meus álbuns de rock indie favoritos de todos os tempos, e só agora, 4 anos depois que eles vieram com outro projeto, que eu amei também. Pelo nome pode parecer que esse álbum é animado talvez indo para uma vibe mais dançante que os seus últimos lançamentos, mas é o contrário. O título Dance Fever na verdade se refere e um bizarro fenômeno social que aconteceu na Idade Media chamado de Coreomania (inclusive é o nome da terceira faixa do álbum) e consistia em um grupo de pessoas dançando de forma incontrolável até desmaiarem de exaustão, e o conceito todo do disco é pautado nessa ideia, de como a arte pode libertar mais também enlouquecer e como ela se comunica com a vida pessoal do artista. Isso já é mostrada na maravilhosa faixa que abre o álbum, que também é minha favorita dele, King, com uma sonoridade épica, um refrão que parece ir até o infinito no vocal sensacional da Florence e uma letra que fala sobre o papel da mulher diante da própria humanidade, é lindo de se escutar. O disco ainda discorre sobre outros temas sobre os desafios da vocalista com a maternidade, autoreflexão sobre quem ela quer ser no futuro, e como a música ajudou a vocalista com a depressão e a ansiedade que são transtornos que ela tem desde sempre, tudo isso ainda balanceado por algumas baladas indie pops leves aqui e ali como "Free" que vem logo depois de "King" e tem uma sonoridade que lembra bem o começo da banda, e "My Love" que é um dance pop levinho e deve ser a música que mais bombou na playlist de galera alternativa saída desse álbum. A produção do disco ficou por conta da própria Florence, Dave Bailey vocalista da banda Glass Animals, e o famoso produtor Jack Antonoff que foi responsável pelos últimos trabalhos de Taylor Swift, Lana Del Rey e Lorde dentre outros, e uma critica que eu ando vendo sobre ele nos últimos anos é que a produção dele parece igual em todos esses últimos álbuns que ele tem colaborado, e isso com certeza não se aplica aqui, Dance Fever mistura o pop indie calmo conhecido da banda com industrial e rock progressivo, abusando bastante de guitarras e sintetizadores, fazendo músicas que podem sair de minimalista para uma expansão que daria inveja em qualquer banda dos anos 70, inclusive a própria Florence disse que se inspirou muito em Iggy Pop na composição geral do álbum, e isso é bem visível pelo tanto de experimental com outros estilos que tem aqui em contraste com seu último álbum que tem uma produção um pouco mais polida centrada no piano da vocalista, criando uma identidade singular para esse projeto. Dance Fever é a maturidade sonora e pessoal de uma das minhas vocalistas favoritas mostrando a eterna busca por si mesmo enquanto luta para continuar na dança, é tão poético quanto é caótico, assim como esse álbum. Os destaques são: King, Free, Choreomania, Girls Against God, Cassandra, My Love, The Bomb, e Morning Elvis.



6.Benny The Butcher - Tana Talk 4


Talvez meu subgênero favorito nos últimos anos tenha sido o "cocaine rap" ou como eu gosto de chamar "raps que vão te dar problemas com a policia" que basicamente são rappers rimando sobre seus dias de traficantes de drogas e a vida perigosa e maluca que eles levavam nesse tempo, todo ano eu pego um álbum para ser o representante de cocaine rap nessa lista, ano passado eu escolhi um álbum do membro do Griselda (griselda... griselda...) Conway The Machine, esse ano eu escolhi outro membro do Griselda mas dessa vez o Benny The Butcher com a quarta parte da sua série Tana Talk. Depois de lançar seu primeiro álbum de estúdio em 2018, o Tana Talk 3, Benny retorna com um projeto completo, voltando ao básico que fez ele um dos nomes mais interessantes do rap underground no começo da década de 2010, e esse clima de retrospectiva de acontecimentos como a narração de The Goodfellas já pode ser sentida na primeira faixa do álbum "Johnny P's Caddy", com esse boom bap anos 90 clássico remanescente de algo que o Guru rimaria em cima, o nome da música sendo referência a um Cadillac que o pai do Benny tinha quando ele era adolescente, e um verso convidado espetacular do J. Cole, que a uns bons 3 anos está em uma streak de versos convidados, mas ainda assim sempre me impressiona o quão bem ele consegue encaixar em produções diferentes, e aqui ele cria esse cenário de escolhido durante o nascimento com suas rimas ("na noite em que eu nasci, a chuva estava caindo, Deus estava chorando, um raio caiu, queda de energia, faíscas estavam voando. O mais verdadeiro está aqui, o garoto que anda com leões, ao redor dos contornos de giz onde estão os cadáveres"), é simplesmente uma das melhores aberturas de álbum do ano. Tem um cheat code dentro do cocaine rap que se chama The Alchemist, o lendário produtor já trabalhou com os maiores nomes do gênero antes, e agora esta tendo uma segunda fase de ouro em sua carreira colaborando com nomes como Freddie Gibbs, Roc Marciano e os membros do Griselda, com ele produzindo a maioria das 12 faixas do disco, e é um trabalho fantástico com essas batidas mais secas e nostálgicas para o Benny refletir sobre a sua vida de crime, se você ouvir esse álbum em um ônibus em um dia chuvoso vai parecer que você esta sendo transportado para a periferia de Buffalo, Nova York nos anos 80. Benny não reinventa a roda no que já esperado dele, mas eu acho que ele refina melhor a sua lírica, trazendo contos da sua infância e adolescentes de uma forma muito vivida, enquanto também consegue trocar barras com seus parceiros de grupo Conway em "Tyson vs Ali" e Westside Gunn em "Guerrero", como também prestando homenagem a suas inspirações como na excelente faixa "10 More Commandments", que é uma sequência espiritual da clássica faixa de Notorious B.I.G "Ten Crack Commandments", com o Conway inclusive trazendo o maior colaborador do Biggie em vida, P. Diddy, para fazer um verso convidado. Tana Talk 4 é talvez o maior projeto dessa série do Benny, tem grandes barras, grandes histórias contadas, grandes participações, embaladas em grandes beats que fazem esse o álbum mais gangsta de 2022. Os destaques são: Johnny P's Caddy, Back 2x, 10 More Commandments, Tyson vs Ali, Thowy's Revenge, Billy Joe, Guerrero, e Mr. Chow Hall.



5.Denzel Curry - Melt My Eyez See Your Future


Outra tradição que eu tenho aqui na lista de melhores do ano é: Denzel Curry lança um álbum, Denzel Curry entra na lista de melhores do ano, e não é porque eu sou um super fanboy dele, e sim porque Denzel Curry é um dos artistas mais profundos e versáteis do rap atual. Isso é mostrado nos seus dois últimos álbuns em que ele conseguiu fazer ao mesmo tempo um álbum super maduro desconstruindo toda a cena de sad trap com o TA13OO e no ano seguinte trazer um álbum leve com um clima festeiro estilo west coast rap, e agora mais uma vez Denzel mostra outro lado da sua persona artística fazendo um álbum muito introspectivo sobre o ser humano por de trás do artista  e os tormentos dentro da sua mente. Tem um tema recorrente que está em todos os trabalhos de Denzel Curry que é o pessimismo, o rapper é uma pessoa muito pessimista e ele mostra bastante esse sentimento com o álbum TA13OO em que ele reflete sobre como a mídia espera que ele se autodestrua para que eles possam vender a história de mais um rapper morrendo de overdose ou assassinado, mas nunca ele se abre tanto sobre a razão por trás de tanto pessimismo, e para mim esse é o álbum em que a gente entende melhor porque o rapper é tão pé atrás assim com tudo. Logo na primeira música do projeto "Melt Session #1" Denzel se abre como um livro falando sobre sua depressão, ele ter sido molestado sexualmente quando era criança, e os diversos hábitos autodestrutivos que ele tem em sua vida pessoal, particularmente eu adoro a linha "eu continuo andando, eu e as pessoas que eu chamo de melhores amigos não nos falamos muito", porque eu me identifico bastante com esse nível de distanciamento pessoal. A música seguinte que é também o primeiro single do disco é "Walkin" e assim como é repetido o "eu continuo andando, eu continuo andando" na primeira faixa, esse conceito é mais explorado aqui com o rapper elaborando mais nos seus problemas na vida adulta como a indústria musical e as diversas armadilhas da vida de um rapper famoso, enquanto ele continua andando pela vida apesar de tudo. Inclusive uma referência que é muito usada nesse álbum é a da figura do homem sem nome que aparece na "trilogia dos dólares", não apenas no clipe de "Walkin" que tem esse cenário de faroeste, como durante as músicas fazendo citações sobre os três filmes durante o disco, se colocando como esse anti herói de faroeste que passa por cidades, sem passado e sem futuro, apenas passando pela vida enfrentando situações perigosas, esse também é o tema central da faixa "John Wayne" que é uma das melhores do álbum. Denzel sempre foi conhecido pela sua habilidade vocal, conseguindo fazer flows energéticos, esquemas de rimas extremamente complexos, ou fazer traps extremamente pegajosos com poucas frases, e aqui ele talvez esteja no seu melhor em diversidade musical, passeando por produções que vão desde coisas bem antigonas como a faixa de abertura, coisas mais experimentais como "John Wayne" que é produzida por ninguém menos que JPEGMafia, "Mental" que é algo totalmente Lo-fi, algo que você nunca esperaria o Denzel de alguns anos atrás rimando em cima, e a jazz rap "The Smell Of Death" produzida por Thundercat que em apenas 1 minuto mostra o melhor dos dois artistas misturando jazz com cultura japonesa como uma faixa da Wu- Tang Clan. E o Denzel Curry esta fazendo tudo nesse álbum, dos seus flows mais animados que ele ficou famoso por fazer lá em 2016, até flows mais old schools em boom bap, até vocais melódicos, o homem realmente esta provando ser um dos artistas mais versáteis dentro do rap. Denzel no seu quinto álbum continua a evoluir mais e mais, entregando uma obra que parece extremamente madura, tocando em pontos bem complicados de se falar como racismo estrutural na indústria e a cultura de derrubar pessoas que o público de dentro da música tem, sem nunca parecer clichê ou apenas falando o senso comum, colaborarando com nomes que vão desde hitmakers como T- Pain até pessoas extremamente ortodoxas como a Rico Nasty. Eu não sei se considero Melt My Eyez  meu álbum favorito vindo dele, mas eu posso dizer com certeza que é mais completo do rapper em questão de letra e diversificação musical, isso vindo de um mc de 26 anos que ainda parece que vai nos dar o seu maior trabalho no futuro, com 3 entradas em 6 anos não vai ser a última vez que o Zel  aparece nas minhas listas de fim de ano. Os destaques são: Melt Session #1, Walkin, John Wayne, Mental, Troubles, Ain't No Way, X-Wing, The Smell Of Death, Zaitochi, e The IIls.
  


4.Gang Of Youths - angel in realtime


Eu conheci a banda Gang Of Youths esse ano e eu não lembro exatamente como, talvez eu tenha visto a capa desse disco em algum lugar e achei legal, eu realmente não sei, mas eu me lembro claramente da primeira vez que eu escutei angel in realtime e logo quando ele acabou eu abri o meu bloco de notas do celular e coloquei ele na minha lista de melhores do ano, porque esse disco é simplesmente a melhor coisa que o indie rock produziu em 2022. angel in realtime é um álbum que fala sobre luto, em 2018 o pai do vocalista Dave Le'aupepe morreu de câncer (é o homem na capa), e como é de costume dessa banda que sempre trouxe assuntos pessoais do seu líder dentro de suas letras, como divórcio e seu vicio em drogas, esse álbum serve quase como o processo das cinco fases do luto para lidar com uma perda tão grande quanto perder um pai. Todo o conceito e temas que vão ser explorados nas 13 faixas desse disco estão resumidas na sua primeira música "you in everything" que começa com essa guitarra com sintetizador dando indicio de algo épico, para então tudo ir se acalmando e o vocalista começar a cantar "eu rezei no dia que você faleceu, mas os céus não me ouviram", segundo o Dave foi a primeira música que ele escreveu para o álbum ainda lá em 2019, e é uma abertura perfeita não apenas em conteúdo lírico sobre sentir falta de alguém que não esta mais aqui como sonoramente com essa mistura de world music com guitarras que permeia quase todo o álbum. Depois dessa faixa nós temos o primeiro single do disco "in the wake of your leave" que já é um rock indie mais animadão vibe final de filme romântico com uma letra que fala sobre a relação do cantor com o próprio sentimento de luto, é uma letra bem complexa sobre a dependência da dor para fazer arte mas tem um clima super upbeat nela dando pra tocar em qualquer lugar, desde viagem de carro até em estádios lotados. Depois disso temos o segundo single "the angel of 8th ave." que continua na mesma vibe do outro com muita guitarra e sintetizador como um clássico do indie anos 2000, e com uma letra mais positivista sobre achar um novo amor na sua vida em uma nova cidade, com a banda se mudando da Austrália para Londres em 2017 e ter conhecido sua esposa nas ruas da cidade. O disco também toca em temas como o vocalista questionando sua própria religião, a sua posição perante o capitalismo tendo que fazer inúmeros shows mesmo estando com sua saúde mental arrasada apenas por causa do dinheiro, e passar por tudo isso para no final ver o lado bom da vida e ter uma perspectiva diferente de si mesmo e do  mundo a sua volta. Para mim o conteúdo lírico e a complexidade desse álbum esta no seu melhor na faixa "brothers" onde o vocalista revela que investigando o passado do seu pai depois de sua morte descobriu que ele não era exatamente a pessoa que ele dizia que era, com ele dizendo ter nascido em 1948 quando na verdade ele nasceu 10 anos antes, e mentindo sobre ser só metade samoano e metade alemão quando na verdade ele era totalmente samoano, com o vocalista se questionando o por quê dessas mentiras até perceber que provavelmente o pai mentiu sobre ser metade branco para dar chances melhores a eles. É uma pira muito doida sobre o que você conhece sobre alguém querido de uma forma que eu nunca vi ninguém fazer em nenhuma música, e ela ainda é uma balada super lenta só com um violão, sendo uma das melhores músicas do ano para mim. Uma coisa que nem tem muito a ver com a história do álbum mas eu achei muito maneira foi uma homenagem ao Maradona que a banda fez com a penúltima e última música do disco se chamando respectivamente "hand of god" e "goal of the century", os nomes dos dois lendários gols que o Maradona marcou contra a Inglaterra na copa de 1986. angel in realtime é um álbum que musicalmente consegue ir de momentos épicos misturando pop barroco com guitarras e bateria alucinada, até baladas super calmas e fáceis de se tocar, e é pra mim o segundo álbum com as letras mais bem escritas desse ano ficando apenas atrás do primeiro lugar dessa lista. Esse disco não é apenas uma coleção de músicas, é uma jornada de autodescoberta para com a vida ficando perto do meu podium. Os destaques são: you in everything, in the wake of your leave, the angel of 8th ave., returner, the kingdom is within you, brothers, forberance, the man himself, hand of god, e goal of the century.
      


3.J.I.D - The Forever Story


Acompanhar artistas novos é uma jornada interessante, as vezes você aposta tudo em uma nome contanto que ele vai fazer uma obra que vai definir quem ele é, e tudo que ele faz é jogar no seguro e fazer a mesma coisa de novo e de novo (o nome Jack Harlow me vem a cabeça), e outras vezes ele simplesmente fica muito ruim, o fato é que tem muitos artistas que lançam inúmeros projetos sem nunca conseguir atingir aquela obra que mostraria para o mundo quem ele realmente é, bem, depois de 2022 o rapper  J.I.D não precisa se preocupar com nada disso, porque finalmente depois de tanto hype colocado sobre ele o artista da Dreamville finalmente nos deu o álbum que todo o potencial dele mostrava que ele poderia. The Forever Story, terceiro álbum de J.I.D, na verdade é uma sequência ao seu primeiro álbum The Never Story, que foi sua estreia no rap por uma grande gravadora, The Forever Story também fala sobre começo mas sobre o começo da vida do artista, funcionando quase como uma história de origem dele, desde a sua escolha de largar a faculdade para focar na sua música, como ele acabou entrando para a Dreamville e todas as responsabilidades que ele tem para com o seu povo e com o lugar que ele nasceu. Já vemos isso na primeira música do álbum "Raydar" em que ele fala sobre como o sistema todo é corrupto, o racismo policial, e o que ele pode fazer por isso sendo essa figura dentro do sistema, e é um começo de álbum incrível, J.I.D faz três flows diferentes, muda a entonação de voz, traz barras atrás de barras, o cara veio para jogo. Depois disso temos o primeiro single do álbum "Dance Now" e meu Deus, essa música é O HIT, o começo com esse sample de música africana, todo o carisma do J.I.D na música com seus flows super criativos e a letra sobre a "dança com o Diabo" com ele explorando esse conceito de "vender a alma por fama" de vários ângulos possíveis, e um refrão super cativante, tem poucas músicas que eu ouvi mais que essa no ano. O tema de família também é muito trazido nesse disco, a música "Crack Sandwitch", uma das melhores do álbum, fala sobre a dinâmica entre J.I.D e seus 6 irmãos, com a personalidade e a peculiaridade de cada um, com toda a música culminando nos 7 entrando em uma briga generalizada em um bar com outro grupo de pessoas e o a reação dos pais deles após a briga, é mais uma vez o J.I.D mostrando o quão bom ele é em storytelling desenhando esses cenários vividos na nossa cabeça. O álbum deveria acabar com uma faixa chamada "2007" que seria o resumo todo das ideias do rapper aqui contando sua trajetória da escola até onde ele está agora com áudios do seu pai e do próprio J. Cole na música, mas acabou não saindo por causa de uma liberação de sample que eles não conseguiram fazer até o projeto ser lançado, porém o rapper lançou uma versão extendida do disco logo depois com essa música como última faixa como era para ser o tempo todo e ela é sensacional, são 7 minutos do J.I.D rimando tudo que ele pode e pintando em cores muito coloridas toda a sua vida, com mudanças de beats e flows, uma das melhores faixas de rap do ano. A coisa que sempre me deixou um pouco com um pé atrás sobre o J.I.D era que ele parecia ser o tipo de rapper que sempre ia ficar em só uma coisa, ele era o rapper que rimava rápido e fazia muitas rimas intercaladas, mas nesse álbum ele se provou completo, ele está fazendo tudo, música séria, bangers como "Surround Sound", mas também sample de soul em trap com 21 Savage de feat é quase um cheat code, ele esta fazendo flow rápido, lento, storytelling, barras, trocadilhos, e até cantando ele está, recentemente ele disse estar fazendo aulas de canto e você pode ver o resultado disso em "Stars", uma das melhores faixas do álbum. The Forever Story é tudo que eu sempre quis ver do J.I.D, esse rapper super divertido de se ouvir, mas com uma mensagem muito importante por trás, e conseguindo fazer um álbum que não poderia ser feito por mais ninguém a não ser por ele, e com batidas incríveis, esse álbum tem os melhores beats de 2022. The Forever Story mostra que apesar do seu currículo cheio de grandes conquistas a história de J.I.D só esta começando. Os destaques são: Raydar, Dance Now, Crack Sandwich, Can't Punk Me, Surround Sound, Kody Blu 31, Bruddanem, Stars, Better Days, e 2007.  



2.The Weeknd - Dawn FM


Dawn FM, quinto álbum do aclamado cantor The Weeknd, foi lançado no dia 7 de Janeiro desse ano, e é engraçado como eu consegui prever corretamente como esse álbum amadureceria através do ano para mim e para o resto das pessoas. Quando ele foi lançado muita gente achou o álbum muito estranho, o som dele obscuro demais para seu próprio bem e agora passados 11 meses a maioria da fanbase do Abel coloca esse como seu álbum mais underrated da sua carreira, enquanto para mim eu gostei muito logo quando ele lançou, mas foi só comigo ouvindo ele repetidas vezes durante o ano que ele se tornou o meu segundo favorito de 2022. Dawn FM assim como boa parte do material saído da cabeça do cantor tem um conceito bem estranho mas que funciona, basicamente o The Weeknd do álbum passado morreu e as músicas desse álbum são músicas que tocam em uma rádio no purgatório enquanto o personagem principal faz a sua transição para o outro lado, o locutor da rádio é interpretado por ninguém menos que um filosófico Jim Carrey, como eu disse parece uma ideia bem viajada para um álbum conceitual mas ela funciona, e isso se deve por causa do conteúdo lírico e principalmente a sonoridade do disco. A grande diferença do Dawn FM para o consagrado álbum que veio antes dele After Hours, é o quão mais afundado nos anos 80 o Abel está. After Hours é um grande tributo para o que de melhor saiu de popular na década de 80 com tributos as bandas mais famosas e a onda RnB e New Wave daquela época, várias músicas que estão naquele disco tocariam facilmente na rádio daquela época, enquanto o Dawn FM seria o que tocaria nas baladas alternativas da década de 80, com o álbum tendo uma influência gigante de techno pop com EDM, é algo muito mais puxado para bandas mais alternativas da época como Depreche Mode e The Cure. O grande exemplo dessa puxada mais eletrônica dark vem na primeira música do álbum "Gasoline", que é o que dá o tom para o disco todo, um techno disco bem psicodélico com o The Weeknd cantando um timbre de voz completamente diferente na introdução, e uma letra que mostra o estado mental de autodestruição do personagem principal pensando sobre uma possível overdose e falando que na sua eventual morte a pessoa que ele esta usando drogas junto pode enrolar seu corpo nos lençóis e atear fogo porque aquele corpo não significa nada para ele, ele mesmo diz na música o quão niilista o pensamento dele é, é dark e é ótimo. "Take My Breath" que é o primeiro single do álbum é igualmente estranha com essa batida disco com um monte de sintetizador e o The Weekend cantando para a mulher que ele está para "tirar o fôlego dele", foi uma escolha bem estranha colocar essa música como primeiro single mas dentro do conceito todo do álbum ela é uma das melhores, e eu não sei se a intenção foi essa mas eu vi uma teoria que essa música era sobre uma pessoa com fetiche em ser enforcado e pra mim isso faz total sentido. The Weekend sempre foi comparado com o Michael Jackson (assim como todo cantor de RnB/pop pós MJ) ele já fez várias homenagens a ele musicalmente, e é nesse álbum que está minha favorita com o que é pra mim a melhor música do álbum "Out Of Time", aqui o The Weekend pega toda a vibe do MJ no Off The Wall com aquele jeito mais calmo e menos "maior estrela do mundo", e o Abel está cantando como a porra de um anjo nessa música, ela é a mais popzona oitentista, com um sample lindo de uma música japonesa, e tudo funciona, a letra é bonitinha e o refrão não sai da cabeça nunca mais. Todo o álbum tem um tema de isolamento como se você estivesse preso no meio de um ciclo ruim na sua vida, com o cantor falando de problemas existenciais, crises amorosas e todo o comportamento autodestrutivo que ele sempre transmite nas suas músicas, porém se o After Hours explorava o lado "divertido" de comportamentos autodestrutivos com as festas e aquele comportamento de "foda- se tudo que não sou eu" o Dawn FM funciona como o dia seguinte disso, todo as consequências ruins que esse tipo de comportamento trás, é talvez o mais sombrio e autodepreciativo que o cantor já esteve em suas letras. Com Dawn FM o Abel mostra não só que ele pode beber de inúmeras fontes quando se fala de sons nostálgicos, como ele se desafia a sair um pouco do som que fez dele uma super estrela no seu álbum anterior cavando ainda mais dentro da sua persona para ver o que tem ali dentro, e se isso for realmente uma trilogia como ele já disse algumas vezes, só podemos esperar para ver o quão mais obscura e criativa pode ficar as músicas deste que é um dos melhores artistas da nossa geração. Os destaques são: escute o álbum inteiro e tenha a experiência de ser sufocado pelo purgatório musical do The Weekend, você precisa disso, acredite.

  


1.Kendrick Lamar - Mr. Morale & The Big Steppers


Quer dizer... alguém esperava outro álbum??? Kendrick Lamar está de volta, depois do seu aclamado álbum devidamente nomeado DANM de 2017 o auproclamado melhor rapper vivo desapareceu fazendo feats esporádicos aqui e ali mas não trazendo nenhum trabalho completo, e no meio disso tudo tivemos conflitos raciais históricos nos Estados Unidos, uma pandemia, figuras famosas falando um monte de besteiras, e nada de Kendrick Lamar para comentar sobre essas coisas com a sua música incrível, sua ausência do rap chegou a níveis em que as pessoas estavam tirando fotos dele em qualquer lugar público em que ele aparecia só para garantir que ele não foi uma espécie de surto coletivo que todos nós criamos de 2012 a 2017, mas nada disso importa mais porque em 2022 ele voltou com um álbum, não o álbum que a gente esperava, mas com o álbum que ele precisava fazer. É estranho pensar que pra um rapper que sempre tocou em temas muito humanitários eu (e a maioria das outras pessoas) nunca viu o Kendrick como só mais outro humano, e isso é um pouco culpa da própria persona artística que o rapper construiu através dos anos, como esse cara maior que a própria vida prestes a desafiar todos os rappers pra um x1 e pegar o trono como o maior da sua geração, e é isso que faz esse álbum especial e diferente de todos os outros que ele fez antes, porque aqui ele se abre completamente nos mostrando o quão humano e mentalmente ferrado ele é, igual todo mundo. "United In Grief" que abre o álbum começa com uma voz feminina falando "fale para eles alguma coisa" várias vezes para então o rapper começar falando que esta passando por algo e então começa nesse flow alucinado trazendo a dualidade entre ser um cara extremamente rico que pode ter privilégios de em suas palavras "sentir luto de forma diferente" enquanto mostra uma síndrome de sobrevivente falando sobre todos os seus amigos que morreram vitima de crimes violentos e como ele não consegue tirar eles da cabeça em nenhum momento, a música começa com um piano melancólico indo então para uma bateria alucinada, Kendrick mostra porque ele é considerado um dos melhores de todos com vários flows diferentes durante a música, é incrível, parece que ele nunca desapareceu. O seu desaparecimento alias é um tema bem recorrente nesse álbum com o rapper revelando que teve um bloqueio criativo na faixa "Worldwide Steppers", e comenta temas que as pessoas queriam que ele comentasse como por exemplo Kyrie Irving e a sua polêmica de não tomar vacina. Porém onde as letras do Kendrick mais pegam nesse álbum é quando ele olha para si mesmo e reflete sobre seus defeitos, ele fala sobre trair sua esposa em "Worldwide Steppers", "Father Time" é uma música inteira sobre os daddy problems do rapper e ele refletindo como sua relação complicada com seu pai teve impactos negativos nas suas relações com outras pessoas, e dando um recado para essa geração ser melhor do que a anterior, é simplesmente uma das melhores letras que ele já escreveu. Outro ponto altíssimo desse álbum é a famosa "We Cry Together" com a Taylour Paige, com esse conceito de um homem e uma mulher brigando e jogando basicamente todos os problemas da humanidade um no outro, o beat dessa música é sacanagem, produzido pelo The Alchemist ele sampleia minha música favorita do Florence + The Machine "June", provavelmente é o melhor beat desse ano. Para mim toda a mensagem desse álbum está na faixa "Savior" em que na introdução o Kendrick cita vários nomes de celebridades negras famosas falando como essas pessoas podem inspirar você mas eles não são seu salvador, e esse é o resumo das ideias aqui, todos estavam esperando o Kednrick voltar com o álbum que iria concertar tudo e falar pelas pessoas, mas ele não é seu salvador, ele é apenas o cara que faz você pensar e assim você ter as ferramentas para salvar a si mesmo. Porém embora ele toque em todos esses pontos sensíveis citados acima esse álbum ainda tem momentos bem divertidos, e isso é uma coisa que as pessoas tendem a esquecer sobre o Kendrick, ele sempre fez músicas muito divertidas com vozes engraçadas e frases irônicas, e aqui ele trás isso, como no single "N95" que é provavelmente a minha música favorita do ano, nos primeiros 2 meses de lançamento desse álbum eu só escutei isso em looping, eu amo os flows do Kendrick aqui, as one liners, o refrão "vadia você é feia pra caralho, você está fora de controle", eu nem sei explicar o que tem de tão bom nessa música ela é só incrível. Tudo que o Kendrick vai fazer vai ser comparado com as suas outras obras que já são clássicos modernos, e eu não sei exatamente onde Mr. Morale & The Big Steppers se coloca na sua discografia, mas se era algo único vindo dele que os fãs queriam eles tiveram aqui, esse é um álbum extremamente aberto, com as melhores letras escritas esse ano vindas do que eu considero um dos três melhores rappers que já viveram, não fica melhor que isso. Os destaques são: United In Grief, N95, Worldwide Steppers, Father Time, Rich Spirit, Purple Hearts, Count Me Out, Crown, Silent Hill, Savior, Auntie Diaries, Mr. Morale, Mother I Sober, e Mirror. 




E esses foram meus álbuns favoritos desse ano, alguns que não entraram na lista mas poderiam ter entrado e eu vou falar brevemente deles são: Jack White com Fear Of The Dawn, esquisito e incrível. Pusha T e Freddie Gibbs fizeram ótimos álbuns de cocaine rap respectivamente com Almost Dry e $oul $old $eparately. Joey Bada$$ teve um dos melhores comebacks do ano com 2000. Logic poderia facilmente ter entrado na lista com Vinyl Days se o álbum não tivesse 400 músicas com um monte delas rebaixando o projeto. Cordae com From a Birds Eye Views e Earl Sweatshirt com SICK! fizeram ótimas sequências para seus álbuns anteriores. O último álbum do Slipknot The End, So Far é meio estranho mas também é meio legal. Avril Lavigne voltou para o pop punk nostálgico anos 2000 com Love Sux e foi legal de ver. Kenny Beats fez um álbum instrumental lindo com visual e tudo chamado Louie. Eu ainda não ouvi o novo álbum da SZA mas estou ouvindo coisas ótimas sobre ele então vamos ver no futuro se ele mereceu uma review. E é isso. Meu plano era ser mais produtivo aqui nesse ano mas as coisas não foram bem como eu planejei, de toda forma eu estou de volta ano que vem, por 2022 é isso.

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