Uma viagem calma e melancólica.
A maior banda de indie rock da nossa geração está de volta. Depois do seu sexto álbum Tranquility Base Motel & Casino em 2018 o Arctic Monkeys teve quatro longos anos para decidir em qual direção eles iriam seguir com o seu novo projeto, voltar para o rock pop que fez eles gigantes na década de 2010? continuar com o tema de "rock espacial" do Tranquility Base? ou apostar em algo totalmente novo? O primeiro single do álbum "There'd Better Be a Mirrorball", lançado em 30 de Agosto, já respondia parcialmente essas perguntas, mas foi apenas em 21 de Outubro quando o álbum foi lançado que nós podemos ver exatamente qual era o quadro que a banda estava pintando com esse novo lançamento, e abaixo esta o que eu achei dele.
Saímos do tema espacial do último álbum para entrar em uma estrada, provavelmente em um dia nublado com poucos carros, aquelas estradas onde você apenas vai, deixando o momento levar você. Pelo menos essa é a minha sensação ao ouvir os quase 40 minutos de rock orquestral que a banda nos proporciona, criando uma atmosfera que embala todas as músicas mesmo que elas tenham uma pegada diferente entre elas e até temas diferentes em suas letras. Todo o disco tem um tom cinematográfico sobre ele com músicas que contam casos de traição e desilusão que nem sempre tem todas as informações dentro das letras mas você consegue sentir de onde o sentimento está vindo nelas. É como ver paisagens e momentos passando de carro, fica uma imagem e você constrói o resto da história na sua cabeça.
O álbum começa com "There'd Better Be a Mirrorball" que além de ter sido o primeiro single dá uma boa prévia do que vai ser as próximas 9 músicas, sendo esse jazz suave junto com rock clássico anos 60, uma vibe totalmente calma e com uma letra bem Arctic Monkeys sobre um fim de um relacionamento em que a pessoa que está cantando claramente não está levando bem, é um dos melhores singles da banda nessa nova fase de 2018 para cá e com um potencial comercial muito maior do que qualquer um dos singles no álbum anterior. O segundo single "Body Paint" eu sinto que é tão bom ou até melhor que o primeiro, com uma pegada bem "segunda fase da Era Beatles", com um arranjo de cordas lindo, cada vez mais coisas sendo acrescentadas dentro da música até o final quando você consegue entender o andamento dela na sequência final e assim querer ouvir tudo de novo, ver isso tocando em arenas lotadas vai ser LINDO. Outro ponto muito alto do álbum é a excelente "I Ain't Quite Where I Think I Am" que mistura Funk e Soul de um jeito que eu nunca tinha visto a banda fazer antes, toda a sonoridade parece mais algo que o Tyler The Creator faria uma música de 10 minutos em cima do que algo que o Alex Turner cantaria junto, porém eu acho que ele arrasa na performance vocal trazendo um grande carisma para a música. Do clima de tensão e mistério nos sintetizadores em "Sculputures Of Anything Go" até a classe que é colocada na última faixa "Big Ideas" eu não acho que tem uma faixa no disco que pareça abaixo ou que pelo menos não mostre que a banda tentou ser criativa com as suas inspirações.
Eu penso que a banda não só nas ideais musicais como na ideia geral do álbum nunca pareceu tão David Bowie quanto aqui. Quando você ouve um álbum do David Bowie nem sempre você sabe para onde ele esta indo com aquela ideia, e nem entende muito bem como aquela música está ligado com a ambientação geral do álbum, mas eventualmente tudo se encaixa, e essa é a minha impressão com The Car. O álbum inclui ainda mais estilos do que o anterior, indo de soul para bossa nova e glam rock, com letras que falam de desilusões amorosas, problemas de auto aceitação, reflexões sobre a vida utilizando personagens diferentes e muitas referências e situações sendo ligadas a carros, utilizando passagens de tempos falando sobre lembranças do passado e expectativas para o futuro, como se cada uma das 10 faixas fossem curtas diferentes que não tem ligações umas com as outras. Como eu disse pode parecer confuso mas em algum momento toda a atmosfera construída pelo álbum, o que acaba sendo o grande trunfo dele, vai conectar tudo e fazer essa viagem de carro fazer sentido para você.
Eu sinto que todo mundo precisa "sentir" o que um álbum quer dizer quando escuta ele, sentir o que o artista queria colocar ali, é um processo que é diferente para cada pessoa e varia para cada projeto, as vezes eu escuto um álbum uma vez e eu consigo entender tudo o que se tem para tirar dali, enquanto tem álbuns que eu já escutei inúmeras vezes e eu continuo sem entender o que se tem para gostar nele. Comigo Arctic Monkeys sempre foi do tipo que eu sentia de primeira, todos os seis álbuns da banda que entendi tudo logo na primeira vez que eu escutei eles, incluindo o Tranquility Base que demorou muito para ser entendido por muitos fãs, porém com The Car foi diferente. Eu ouvi esse álbum uma vez e pensei "ok, é legal, mas eu definitivamente não consegui pegar tudo desse disco", então eu tentei mais umas duas vezes e nada, até que um dia eu estava deitado na minha cama ouvindo esse álbum e veio... eu consegui entrar dentro da vibe do The Car e começar a sentir o que aquele álbum queria dizer, e foi incrível. Eu estou contando essa experiência para dizer que esse provavelmente não é um álbum muito fácil de se conectar, apesar dele musicalmente ser muito mais acessível que o seu anterior, ele tem letras mais confusas e mais experimentações, porém quando você finalmente entra dentro da proposta dele é uma ótima viagem. Eu ainda prefiro o Tranquility Base Hotel & Casino porque eu gostei mais de como a ideia foi apresentada ali, mas o The Car é uma prova do quão versátil é a banda que começou como sinônimo de só indie rock, e o quanto eles ainda irão evoluir como artistas. Eu ainda vou escutar muito esse álbum, e "There'd Better Be a Mirrorball" e "Body Paint" entraram na minha playlist de favoritas da banda. E essa é a gif que representa minha reação com esse álbum:
muito bom, me identifico com a sensação que descreveu sobre o álbum
ResponderExcluirObrigado pelo comentário ❤
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