2020 foi uma merda, sem dúvida alguma um dos piores anos da história da humanidade, e eu nem preciso dar as razões de por quê, mas isso não se aplica na música. Em 2020 vários artistas lançaram trabalham fantásticos, saindo da sua zona de conforto, aperfeiçoando o que eles já tinham feito de bom antes, e alguns se despedindo em alto nível, no geral foi um ano de surpresas para a música, e é disso que eu vou falar hoje, mantendo minha tradição de fim de ano pelo quarto ano seguido. Esses são meus álbuns favoritos no ano.
10.Lil Uzi Vert - Eternal Atake
A história do Eternal Atake parecia uma daquelas em que o álbum viveria como um mito para os fãs de rap, com o Uzi tretando com a sua gravadora e anunciando aposentadoria, falando que jamais faria música de novo, mas em 2020 Uzi voltou para música, anunciando que o Eternal Atake finalmente seria lançado e ele nem esperou a data programa de lançamento de 13 de março, lançando ele de surpresa no dia 6, e a pergunta que ficava na mente de todos era: o álbum alcançou o hype que ele criou??? na minha opinião sim. Agora, esse não é um álbum revolucionário, ele não trouxe um novo estilo para o trap nem anda disso, esse é só o Lil Uzi Vert no seu absoluto melhor. O rapper consegue passear por traps básicos de festa, traps melódicos, traps orquestrais, e a coisa toda, sem parecer desinteressante vocalmente em nenhum momento, pelo contrário, ele consegue carregar um álbum de mais de 1 hora com 18 tracks muito bem. E se esse álbum é sobre a vibe que ele passa, a produção dele conseguiu trazer isso de maneira espetacular, com vários sons espaciais, dando todo esse clima de "música de outro planeta", enquanto o Little Uzi ta flowzando insanamente em tudo que o álbum joga em cima dele, fazendo o trap emo característico dele, mas também fazendo BANGERS, músicas mais estruturadas, e até fazendo um remake da sua música mais famosa, porra ele faz até a coisa do Balenci funcionar de alguma forma. Esse álbum pode não ser uma evolução do gênero do trap, mas eu realmente vejo ele como uma evolução do Lil Uzi, aqui foi o momento em que para mim ele saiu do mar dos "lil's" que surgiram la por 2016, para se firmar como um dos nomes mais interessantes do trap, fazendo um álbum extremamente fácil e divertido de se escutar, como o trap tem que ser. Os destaques são: Baby Pluto, Lo Mein, Silly Watch, I'm Sorry, Bigger Than Life, Futsal Shuffle 2020, e POP (eu ainda não sei se gosto dessa música de verdade ou ironicamente).
9.21 Savage e Metro Boomin - Savage Mode 2
Hahahahahaha, PUSSIES. A melhor dupla de rapper e produtor do rap atual voltou com tudo em 2020, quando 21 Savage anunciou a continuação da sua famosa mixtape de 2016 Savage Mode, e embora todos sabemos que o 21 é um dos rappers com a melhor evolução dessa nova geração, a pergunta aqui era: ele pode conseguir trazer seu estilo do passado e fazer ele ser interessante no rap atual??? e ele provou que sem sombra de dúvidas ele pode. Como esse é um álbum em conjunto, tem que se dar créditos aos dois, o Metro Boomin conseguiu trazer todo aquele tom dark da primeira mixtape, mas os beats dele estão bem melhores, a escolha de samples é perfeita aqui, até os pequenos detalhes, como aquele começo de "Runnin" com a música da Diana Ross, ou "Many Men" que samplea a música de mesmo nome do 50 Cent, para no final colocar a música original de fundo, que maneira perfeita de encerrar uma música, até as famosas tags do Metro são colocadas nos melhores momentos possível. E do lado do 21 Savage, puta que pariu COMO ESSE CARA TA RIMANDO NESSE ÁLBUM, ele calçou o Air Force One e voltou ao seu flow clássico, mas da para ver o quanto que ele evoluiu em fazer rap, tanto no seu flow e na sua voz, quando nas suas letras, que aqui estão o mais gangsta possível, e as suas one liners estão mais exageradas e engraçadas do que nunca. O álbum é uma grande homenagem para as mixtapes dos anos 2000, da capa até os temas que ela toca, que são completamente auge do gangsta rap, e para mim esse projeto é sem dúvida um dos melhores projetos em questão de gangsta rap dos últimos anos, Metro Boomin e 21 Savage combinam tanto que as músicas mais fracas desse álbum são a que tem um guest verse, simplesmente porque só o 21 rimando nos beats do Metro já parece perfeito o suficiente. O álbum se coloca em uma grandiosidade imensa por ser a continuação de uma mixtape famosa, o retorno de 21 e Metro, e tem até narração do fucking Morgan Freeman durante todo o álbum, e ele com certeza entrega tudo isso, não apenas um dos melhores álbuns de 2020, mas a melhor coisa que esses dois fizeram até agora, juntos ou separados. Os destaques são: Runnin, Glock In My Lap, Many Men, Snitches & Rats, My Dawg, e RIP Luv.
8.Logic - No Pressure
Eu me surpreendi com muita coisa na música em 2020, mas com certeza uma das maiores surpresas na música para mim foi o comeback do Logic. Em Julho desse ano o Logic anunciou seu novo álbum, que segundo ele seria seu último, não só eu não acreditei como eu não tive a menor vontade de ouvir, visto que os seus últimos 3 projetos foram péssimos, e ele claramente estava priorizando quantidade acima de qualidade, nem parecendo mais o mesmo rapper de antes, porém depois que ele lançou e eu vi tanta gente elogiando eu decidi dar uma chance, não poderia ser tão ruim assim, e é irônico que isso aconteceu no final da sua carreira, mas finalmente O LOGIC VOLTOU. O álbum claramente é uma volta as raízes para ele, fazendo um paralelo com seu primeiro álbum Under Pressure, que é o seu melhor e para mim um clássico moderno do rap, e ele realmente trás o seu estilo antigo aqui, com as batidas bem boom bap misturada com jazz, mas principalmente, Logic voltando a mandar muito em questão de letra. O álbum todo foca no tema dessa despedida de carreira do rapper, e os seus pensamentos sobre isso, com ele falando sobre a sua experiência no rap game, sua saúde mental estando tanto tempo nessa vida, e a vida que ele quer ter agora, ostentando não o seu dinheiro e a sua influência, como ele estava fazendo nos seus projetos mais recentes, mas ostentando sua felicidade, e a sua vida com a sua esposa e o seu filho, o que claro, é muito bonito. Para quem estava criticando as letras do Logic nesses últimos álbuns, aqui ele mostra que still got it, vários wordplays inteligentes, barras de alto nível, e aquelas one liners que só o Logic consegue fazer, intencionalmente engraçadas, sério, se você não riu com ele dizendo "eu amo a minha esposa como se eu fosse o Chance", você esta morto por dentro. Mas não apenas suas letras estão no seu alto nível, ele ta flowzando de forma incrível aqui, mostrando que ainda é aquele Logic, literalmente quando ele faz um remake de uma de suas melhores músicas do seu primeiro álbum, "Soul Food II", e eu não consigo decidir qual das suas versões é melhor, esse é o nível de bom que o Logic esta nesse álbum. No geral é um disco com uma mensagem bem positiva, tanto dentro das letras, com o Logic bem feliz com esse novo capitulo da sua vida, o que combina bastante com toda a vibe de happy go luck guy que o Logic tem, mas também fora do álbum com o contexto todo de ser o seu último disco, e com um último grande projeto de alto nível o Logic conseguiu afastar a imagem do rapper cringe, para mostrar porque é, ou era, um dos melhores da sua geração. É o último álbum do Logic mesmo??? eu não sei, mas se for, ele fez uma grande despedida. Os destaques são: No Pressure, Hit My Line, Celebration, Open Mic/Aquatius III, Soul Food II, DadBod, 5 Hooks, e Amen.
7.Freddie Gibbs e The Alchemist - Alfredo
O que dizer de Freddie Gibbs??? O CARA NÃO ERRA. O rapper de Indiana depois de lançar dois álbuns sensacionais com Madlib, um deles ano passado, dessa vez se uniu com o produtor The Alchemist, com quem ele já havia trabalhado em 2011 no álbum Fetti, e mais uma vez entregou tudo o que podia em outro álbum fenomenal. A produção do The Alchemist é sensacional, tem um clima bem urbano no álbum todo, e ele deixa o Freddie no seu habitat para contar suas aventuras das ruas, é uma produção que parece ser feita no auge do rap nos anos 90, mas ao mesmo tempo é atual. E embora não tem um beat abaixo da média aqui, a estrela desse álbum é Freddie Gibbs, mostrando porque ele pode meter a banca de se auto proclamar um dos melhores rappers da atualidade, ele ta com a barrinha no máximo em tudo aqui, o seu flow que parece fluir como jazz, sua entonação de voz e mudanças de fluxos são perfeitas para a vibe das músicas, e as suas letras estão perfeitas como sempre, com suas já conhecidas referências a cocaína, toda a sua personalidade intimidante se comparando ao próprio Frank Lucas, e suas barras sensacionais, o cara conseguiu criar barras com Tiger King e The Last Dance, não fica mais rap de 2020 que isso. Os feats também estão muito bem aqui, para mim todo guest verse do Rick Ross é um dos melhores versos dele, mas nessa é sério, é sem dúvida um dos melhores versos que ele já fez, até fazendo uma homenagem para o Kobe no final, Benny The Butcher e Conway The Machine estão completamente confortáveis nas músicas que eles participam, e como é bom ver o Tyler, The Creator rimando de novo, eu até esqueci que ele fazia isso. Em 10 músicas, 35 minutos ao todo, Freddie consegue fazer o que muitos rappers não conseguem em toda uma carreira, trazer o verdadeiro espirito do rap, coisas que a gente via com o Gang Starr e o Rakim, ele ta fazendo em pleno 2020, esse cara esta em uma sequência de projetos fodas, e parece completamente imparavel, sem dúvida alguma top 3 rappers atuais, mais uma vez aparecendo aqui com outro grande álbum. Alias encerrar um álbum o áudio do Walter White explodindo a sala do Tuco é provavelmente o melhor encerramento de qualquer disco EVER. Os destaques são: 1985, God Is Perfect, Scottie Beam, Frank Lucas, Something To Rap About, Skinny Suge e All Glass.
6.BK - O Líder em Movimento
A verdadeira marca de um grande artista é ele sempre estar evoluindo, e o BK mostra mais uma vez isso no seu terceiro álbum. Enquanto o seu primeiro álbum era um trabalho conceitual sobre os altos e baixos da vida, e o seu segundo era o BK se colocando como um gigante do rap, sendo essa criatura mitológica da música, aqui o rapper fala para os seus seguidores, se colocando como um verdadeiro líder para o seu povo e para a sua geração, e por isso o nome desse álbum é perfeito, um líder para o seu povo, constantemente em movimento na sua carreira musical. É até difícil encontrar coisas novas para elogiar no BK, é claro que as barras são incríveis, ele passa metade de um verso só fazendo punchlines incríveis com futebol, claro que as letras são inteligentes para caralho, como aquela linha do alvo no sobrenome, e claro que o seu flow continua perfeito. BK ainda rima sobre altos e baixos e sobre o quão gigante ele é, a grande mudança aqui é que o discurso ideológico do rapper esta bem mais agressivo, incisivo, não é como se ele já não tivesse deixado suas ideias bem claras antes, mas aqui você sente como se fosse realmente um líder politico dando uma palestra para aqueles que ouvem ele, passando por quase todo tema "polêmico" que tem para se passar, armamento, igrejas, ideias de direita, tudo isso de forma bem inteligente com analogias muito bem pensadas, ao invés de apenas gritos e insultos, e claro falando do racismo estrutural no Brasil. A verdadeira mensagem de BK nesse álbum é querer formar mais pensadores, logo na primeira música ele fala "eles mataram PAC, mataram Biggie, eles querem matar o mano que resiste", deixando claro que mais pessoas tem que se levantar e ir para a luta contra o inimigo. Esse é de longe o álbum menos acessível do BK, ele tem um grande hit, ele não tem batidas chicletes de trap, ele não tem mistura de rap com funk, mas ele é um álbum necessário, que veio no momento certo, não apenas para a situação atual do país e do mundo, mas também para a carreira de BK, mostrando que não precisa fazer nada além de ser completamente incrível para ganhar a completa atenção do público de rap sempre que ele retorna, fazendo outro álbum sensacional, já da para chamar de Hat Trick. Os destaques são: Movimento, Porcentos 2, Visão, Poder, Megazord, Lugar, e Universo.
5.The Strokes - The New Abnormal
Outra das maiores surpresas de 2020 foi o retorno do Strokes. O último grande álbum da banda havia saído em 2003, e depois disso foi apenas projetos medianos, com recepções mistas, e muitos concordando que AQUELE Strokes lendário do Is This It não existia mais, e então chega esse ano completamente fora da curva, e a banda lança seu sexto álbum, um disco igualmente fora da curva, e completamente fantástico. Esse é o primeiro álbum do Strokes desde os 2 primeiros que parece que a banda sabia exatamente o que queria fazer, ouvir ele foi como voltar ao auge do rock indie dos anos 2000, mas já como um adulto, e essa é toda a vibe do álbum, a maturidade finalmente chegando ao Strokes, isso se reflete tanto nas letras do álbum que tratam bastante do divórcio do Julian, como na voz dele que parece bem menos aquele cara sarcástico que quer que se foda, para um cantor bem mais centrado nas suas emoções, apesar dele ainda ter seus momentos, tipo ele perguntando aleatoriamente se pode ir para o refrão no meio da música e pedindo para a bateria entrar em outra. O álbum consegue também mesclar melhor estilos do que os anteriores tinham conseguido, trazendo uma vibe toda anos 80, combinando o indie perfeito deles com new wave e glam rock. Para mim esse álbum é o equivalente ao fim de uma noitada, você já fez tudo que tinha para fazer, e então você começa a refletir sobre a vida enquanto o sol ainda não nasceu, isso é o Strokes em 2020, e é exatamente o que eles precisavam ser. Se você gosta de rock essa é a sua trilha sonora para esse ano maluco e confuso, a produção do Rick Rubin no disco é fantástica, os riffs são a coisa mais Strokes ever, o Julian ta arrasando nos vocais, e é de longe o melhor álbum deles desde aqueles dois primeiros clássicos que eles fizeram, com o Strokes mostrando que ainda tem criatividade para ser uma das melhores bandas de indie de todos os tempos, e que ainda são relevantes no cenário atual do rock, mais que isso, em 2020, eles ditaram qual era o novo normal no gênero. Os destaques são: The Adults Are Talking, Brooklyn Bridge To Chorus, Bad Decisions, At The Door, Why Are Sunday's So Depressing, Not The Same Anymore, e Ode To Mets.
4.The Weeknd - After Hours
Ok, quando foi que o The Weeknd ficou tão bom??? eu lembro claramente de não achar ele tudo isso um tempo atrás, o que aconteceu??? como ele me chega com um álbum desses??? melhor ainda, como ele tem um ano desses??? pessoas falaram por anos e anos sobre o 2020 do meu garoto Abel. O álbum, assim como todos dele até agora, é conceitual, e fala da espiral que o personagem principal se encontra, tentando concertar seus erros e ser uma pessoa decente, mas não conseguindo e terminando exatamente onde ele começou, porque ele não consegue mudar mais quem ele é, uma pessoa quebrada e sem coração, e você não faz planos de casamento com quem não tem um coração. A obra é fortemente inspirada nos filmes do Martin Scorsese, tanto pelo nome do álbum que é o mesmo que um filme do diretor que fala sobre esse exato mesmo tema, como o terno que o The Weeknd usou na capa, em todos os clipes, e nas suas apresentações, que é o terno do Robert De Niro em Cassino, que também tem essa mensagem de "foi tudo por nada", que costuma ser o final de vários filmes do Scorsese. Porém não se engane, esse álbum embora seja bem dark, é extremamente divertido de se escutar, isso porque o The Weeknd finalmente abraçou os anos 80, usando um monte de sintetizadores e influências diretas do A- Ha, e do cara que comparam ele toda hora, o Michael Jackson, fazendo assim músicas nostálgicas que parecem ter saído diretamente daquela década, como "In Your Eyes", e claro, "Blinding Lights", O HIT POP DO ANO. O Abel também mostra o quanto é incrível nesses traps downbeats, "Escape From LA" é fantástica pelos quase 6 minutos que ela dura, e "Heartless" é minha música favorita do álbum, talvez seja minha música favorita do The Weeknd, é o que resume o álbum como um todo para mim, alias o The Weeknd flui tão bem nos beats do Metro Boomin nesse álbum que poderia competir com o próprio 21 Savage. Sempre que eu via as pessoas falando sobre o artista maravilhoso e complexo que o The Weeknd era eu não via essa criatividade e grandiosidade refletida nos álbuns dele, que eram bons, mas não eram obras primas, isso mudou com After Hours, sem dúvida o seu melhor álbum, que traz perfeitamente o retrato da sua persona sombria e trágica enquanto faz hits que marcaram o ano, isso somado aos clipes conceituais, e as suas apresentações seguindo a história dos clipes, fazem não apenas esse o melhor álbum de pop/RnB do ano, como faz The Weeknd o artista de 2020. E FODA- SE O GRAMMY. Os destaques são: Alone Again, Too Late, Hardest To Love, Scared To Live, Snowchild, Escape From LA, Heartless, Faith, Blinding Lights, In Youir Eyes, After Hours, e Until I Bleed Out.
3.Mac Miller - Circles
Eu já fiz uma crítica do álbum aqui no blog, então eu vou apenas resumir ela aqui, porque os meus sentimentos por esse álbum continuam os mesmo de lá para cá. O Circles é a continuação do Swimming, sendo gravado inclusive na mesma época, a grande diferença é que enquanto o Swimming era uma mensagem mais geral, com o Mac passando uma mensagem positiva de nadar contra os seus problemas, o Circles é mais um mergulho na mente do rapper, com ele detalhando as batalhas do seu dia a dia, sua depressão, seu vicio em drogas, seu isolamento social, se sentindo em um circulo, tentando lutar contra essas coisas mas sempre parando no mesmo lugar. O álbum é sem dúvida o mais sincero da carreira do rapper, que sempre falou bem abertamente dos seus problemas, mas aqui ele consegue descrever perfeitamente como a mente dele estava antes da sua morte, tudo isso com uma vibe bem calma, quase como se ele já estivesse escrevendo esse álbum na vida após a morte, em paz. A produção do álbum segue bastante a pegada do Swimming, com um Neo Soul com RnB, e é outro mérito do Mac Miller, que produziu a maior parte do álbum, com o produtor Jon Brion apenas finalizando o que ele não conseguiu. Em um mundo em que o legado de artistas jovens que morrem é tão explorado, com os detentores dos direitos das músicas dele lançando qualquer coisa que eles gravaram com 90 feats e chamando de álbum póstumo, Mac Miller teve uma das melhores despedidas da historia do rap, fazendo o seu melhor álbum em questão de letras, trazendo todos os seus pensamentos bagunçados de forma clara em apenas 12 músicas, mostrando o artista versátil e incrível que ele era com um último grande trabalho. O Mac era um daqueles artistas tão fodas que vale a pena até ver os créditos finais da sua vida. Os destaques são: Circles, Complicated, Blue World, I Can See, Woods, Thats On Me, Hands, Surf, e Once a Day.
2.Childish Gambino - 03.15.20
O álbum divisivo que metade odiou e metade amou dessa vez aperece na segunda colocação, e eu entendo quem não gostou tanto desse álbum, eu consigo ver os defeitos que as pessoas apontam nele... mas eu não consigo ligar enquanto eu estou vibezando com todas as músicas do disco. 03.15.20 como o nome já sugere, foi tocado pela primeira vez nessa data no site do rapper, tocando em loop por 24 horas, com essa imagem acima de fundo, sendo lançado oficialmente uma semana depois, a capa do álbum era uma imagem em branco, a maioria das músicas não tem nome, apenas o tempo em que elas são tocadas no álbum inteiro, e isso tudo já da o tom do álbum, é uma arte crua e abstrata sobre os pensamentos do Gambino em relação a sociedade moderna. O artista então passa por assuntos como a vontade de todo mundo em ser especial, o tempo passando cada vez mais rápido para todos nós, nosso anseio em fazer algo para sermos lembrados, aquecimento global na já conhecida "Feels Like Summer" que aqui vira a música "42:26", tudo isso envolto a inúmeras experimentações e influências que o cantor usa, passando por Prince, Michael Jackson, Marvin Gaye, Stevie Wonder, e coisas que sairiam do Yeezus do Kanye West. As poucas colaborações do álbum também fazem o seu trabalho perfeitamente para encaixar nesse quebra cabeças de álbum, Ariana Grande mostra uma química vocal perfeita com o Gambino em "Time", e a música seguinte é basicamente uma preparação magistral de 4 minutos para o 21 Savage chegar com um dos seus melhores guest verses até agora, o que torna ainda mais grandioso ser logo depois de toda a polêmica dele ser preso e ameaçado de extradição. A critica desse álbum feita pelo The Guardian, disse que isso era o Childish Gambino no auge do zeitgeist, eu não costumo usar outras criticas aqui, mas eu não poderia concordar mais com essa, antes mesmo dessa pandemia esses já eram tempos bem estranhos, a tecnologia é uma parte importante das nossas vidas, ta tudo cada vez mais louco e caótico ao nosso redor, e só um álbum igualmente louco, caótico, estranho, sem rumo, mas esperançoso sobre o futuro, vindo diretamente da mente de um dos artistas mais criativos em atividade, para traduzir perfeitamente todo o sentimento que é estar vivendo nesse algoritmo maluco atual, em 2020, logo no inicio da década, Gambino trouxe o zeitgeist da música atual... ou vai ver eu só adoro neo soul experimental mesmo e por isso adorei tanto o álbum, nunca saberemos. Destaques: todo o álbum, AS MÚSICAS NEM TEM NOME.
1.Run The Jewels - RTJ4
Porém, se Gambino conseguiu traduzir os tempos atuais de forma mais geral, o super duo Run The Jewels conseguiu traduzir de forma mais direta, fazendo um dos melhores álbuns de protestos das últimas décadas, o hype era alto, mas meus garotos EI- P e Killer Mike se superaram de novo. Os álbuns do Run The Jewels sempre soaram como trilha sonoras para tipos de filmes diferentes, mas nesse quarto álbum os dois fizeram a trilha sonora para o caótico filme que foi esse ano. A ligação desse álbum com os tempos atuais já esta bem óbvia pelas letras, mas ficou ainda maior quando aconteceu o caso do George Floyd, uma das coisas mais absurdas de 2020, que fez com que a banda lançasse o álbum dois dias antes do previsto, e veio na hora certa, o que dizer de um disco que contém a letra "você esta tão entorpecido que você vê os policiais sufocarem um homem igual a mim, até minha voz ir de um grito a um sussurro: eu não consigo respirar", uma letra que foi escrita ANTES do caso do George Floyd acontecer, mostrando o quão frequentes esses casos são, para o Killer Mike poder quase prever algo assim acontecendo. É impressionante como absolutamente tudo funciona nesse projeto, você não esperaria que um feat do fucking 2 CHAINZ se encaixaria nesse tipo de álbum, mas lá esta ele inserido de forma perfeita em "Out Of Sight", Zach De La Rocha (porque ele não podia faltar) mostra mais uma vez porque ele deveria ser o terceiro membro do grupo em "Ju$t" em outro verso fantástico com eles, enquanto o Pharaell Williams faz o melhor refrão do álbum todo, e o que dizer de "Ooh LA LA", essa é a ultimate música para dançar enquanto o mundo esta acabando, trabalho perfeito do DJ Premier criando a batida, o refrão chiclete do Greg Nice, e 4 versos cheios de carisma dos dois mc's. Eu não achei que fosse possível eles superarem o segundo álbum deles, que é basicamente um filme de ação em forma de rap, mas aqui eles conseguiram fazer um álbum cheio de criticas sociais pesadas soar divertido de se escutar do inicio ao fim, graças as letras fantásticas do Killer Mike e a produção fenomenal do EI- P. Em 2020 o Run The Jewels criou a soundtrack para o fim do mundo, com o álbum mais necessário desse ano, e o seu melhor projeto até aqui, o que é dizer muito já que os 4 são acima da média, mas esse é especial, esse é perfeito de todas as formas, é o meu álbum do ano, eu sabia que seria quando ouvi ele pela primeira vez, e é um dos melhores da década, quando a sociedade finalmente ruir eu estarei ouvindo isso. Destaques: eu não vou tirar uma música das 11 das melhores, EU AMO ESSE ÁLBUM MAIS DO QUE EU AMO A MIM MESMO.
E essa é a minha lista de álbuns favoritos do ano, claro que tem muitos álbuns fantásticos que faltaram nessa lista, a Dua Lipa fez o álbum puro pop do ano com Future Nostalgia, Chris Stapleton mais uma vez fez um puta álbum country com Starting Over, aquele álbum da Fiona Apple que todo mundo adorou eu também achei bem legal, e o Man On The Moon III do Kid Cudi parece ter sido uma ótima conclusão para a trilogia dos seus álbuns mais famosos, mas eu ainda tenho que ouvir mais vezes ele para tirar uma conclusão, talvez eu faça uma critica dele aqui ano que vem. Esse é o último post do blog no ano, em 2021 eu vou tentar ser tão produtivo aqui quanto eu fui esse ano, eu já tenho vários posts planejados, então até o ano que vem... não, mas sério, FODA- SE O GRAMMY, THE WEEKND MERECIA MAIS.
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