Abebe Bikila, Ekelele Flow, Robert De Niro, Flow Zidane, BKrack, BKristo, BKfetão ou simplesmente BK' é com toda certeza o melhor rapper dessa geração. Vindo da leva de rappers do ano lírico entre 2016-17 BK' foi apenas evoluindo mais e mais em suas rimas, nas suas temáticas, e cravando a sua persona como uma das maiores da música brasileira na última década, e hoje é o dia que vamos ver e rankear todos os seus 5 álbuns de estúdio, do pior até o melhor. Então venha comigo ver todas as merdas que o BK' já planejou.
Quinto Lugar - Gigantes
Se você é familiarizado com a carreira do BK você sabe que ele não tem um álbum ruim, muito menos um álbum sequer abaixo da média em relação ao que é o rap nacional, mas para mim o seu segundo lançamento de 2018 é o menos coeso com uma proposta clara e com uma temática. O que acaba comprometendo um pouco o Gigantes assim como vários álbuns que eu coloco na parte de baixo sempre que eu faço rankings de álbuns aqui é que esse é um álbum de transição, e não apenas uma transição para o rapper, mas para toda a cena como um todo. Depois do ano lírico ter sido aquela avalanche de ideias e talentos em 2017 o rap entrou em uma fase de experimentação em 2018 e isso também se reflete nesse trabalho do rapper que é o disco do "após". Depois de fazer um dos maiores clássicos do rap nacional com Castelos & Ruinas o Gigantes é a reflexão do que foi aquilo e como o nome diz o BK se sentindo gigante dentro da cena e pensando sobre a sua influência dentro da cena, incorporando bem mais o trap que estava vindo com tudo naquele ano dentro da cena brasileira e largando aquele som mais boombap clássico do seu primeiro lançamento. BK também aposta muito em feats nesse disco, com pessoas que ele também considera gigantes do passado como é o caso de Marcelo D2 e KL Jay e gigantes do futuro como a Juyé e Baco Exu do Blues, assim como os colaboradores clássicos do rapper como o Luccas Carlos e o Akira Presidente. O álbum também é responsável pelo maior hit da carreira do rapper até agora com feat do já citado Luccas Carlos com "Planos" que é aquela love song de trap melódico que é uma combinação perfeita da vibe dos dois artistas. Mas BK também está com suas barras e barras nesse disco como já é esperado dele, como é na faixa "Novo Poder" que abre o projeto fazendo paralelo entre o seu império no rap e a Nova Ordem Mundial derrubando o poder antigo e estabelecendo o novo em um trap mais espalhafatoso e ostentador, não de dinheiro mas sim de poder, a faixa- título com a Juyé também reforça esse tema falando como é de sentir gigante em uma pegada mais melódica, mas para mim a faixa que realmente traz aquele BK assassino na letra é "Correria (Remix)" que ele mostra realmente o que é ser correria tanto antes do jogo do rap até como é correr nos dias atuais nesse jogo, tem dois versos bem competentes do Akira e da Drik Barbosa mas o BK simplesmente engole a música em uma das melhores letras que ele já escreveu. No final Gigantes funciona como uma ótima transição do BK do Castelos para o seu próximo passo e é uma capsula do tempo muito boa para a mudança do cenário do rap de 2017 para o que ele foi de 2018 até a pandemia. Bom projeto que por mais que tenha muitos highlights ainda está abaixo dos anteriores.
Quarto Lugar - Icarus
Icarus é o quarto álbum do rapper lançado em 2022 e ele vem com uma temática muito interessante para a sua história. BK usa o mito de Ícaro, que na mitologia grega criou asas para voar mas voou mais e mais até que o sol queimou as suas asas e o derrubou lá de cima fazendo com que ele caísse no mar e morresse afogado, e o rapper então traça um paralelo entre esse mito e a sua própria carreira, com a sua ambição crescendo cada vez mais enquanto as suas frustrações e decepções amorosas estão o perseguindo cada vez mais para derruba- lo mostrando que a maior guerra para o BK é a guerra pessoal dentro dele mesmo. Evoluindo cada vez mais na sua produção o disco tem um estilo mais contido e introspectivo mas também utilizando RnB e Funk indo sempre para um caminho reducionista como já é visto na faixa que abre o disco "Luzes" que já trás toda a coisa do mito de Ícaro com as luzes que nos iludem, as sirenes, flashes, e estrelas cadentes, ao mesmo tempo em que ele reflete que deve ir até lá porque se não ele quem vai salvar esses meninos e meninas perdidos??? É uma faixa introspectiva que para mim dá todo o tom para o que vai ser esse projeto. Nessa primeira parte do disco vimos muito o BK bater nessa tecla do sonho que já não é mais dele mas de todos que ele representa, como na "Continuação Do Sonho" onde ele fala ser a continuação do sonho da sua mãe, do seu pai, dos seus avós e de todos que vieram antes dele, e como ele batalhou para ter esse lugar na mesa e ter o seu nome falado nas ruas nas faixas "Nome nas Ruas" e "Lugar na Mesa" bem nesse estilo ostentador do BK, quase como se ele tivesse recontando a sua ascensão que nos foi passada nos outros três álbuns. Então na segunda metade do disco vemos todas as inseguranças e confusões que passam na mente do artista, como a reflexiva "Em Nome do Que Sinto" que fala sobre todas as contradições que formam a persona BK, com o hino anti música de amor com a "Músicas de Amor Nunca Mais" para então irmos para uma música de amor logo em seguida com "Se Eu Não Lembrar", e logo depois "Carta Aberta" sendo uma sessão de conselhos que funciona para os seus ouvintes e para ele mesmo. Aqui também é onde o BK melhor escolhe os seus feats e onde eles mais brilham, "Foto Armado" é o verso da carreira do Major RD, é algo completamente fora do que ele normalmente faz e encaixa perfeito na faixa, Marina Sena faz um refrão super gostosinho em "Se Eu Não Lembrar", Bebé e o BK tem uma química perfeita em "Em Nome do Que Sinto", e mais uma vez temos uma pedrada de BK e Luccas Carlos em "Músicas de Amor Nunca Mais" que mais uma vez estoura um hit saindo da bolha do rap. Icarus só está um pouco atrás porque ele também parece um pouco um álbum de transição para o que o rapper faria bem melhor no seu quinto álbum, principalmente em questão de sonoridade, mas Icarus também é coeso e uma ótima jornada pela mente desse artista refletindo sobre o seu lugar enquanto ele voa mais e mais perto do sol.
Terceiro Lugar - O Líder Em Movimento
O próximo passo pós Gigantes que a carreira do BK precisava era uma porrada de representatividade racial em forma de música que veio na forma do terceiro álbum do artista, O Líder Em Movimento. Inspirado em líderes como Nelson Mandela, Marthin Luther King, e Malcolm X, BK se coloca como uma liderança para as pessoas que vieram da onde ele veio como se ele estivesse fazendo uma palestra sobre ativismo em forma de álbum. A faixa que abre o projeto "Movimento" já trás toda a vibe do que vai ser esse disco, com um discurso lindo da cantora e atriz Polly Marinho que diz "Os que têm a sensibilidade e a frieza na hora de olhar o mundo Serão os responsáveis pelos outros olhares. Os que nada temem, serão responsáveis por corajosos e covardes. Ser a força, o amor, o poder, a sabedoria... E a luta pela liberdade só acabe quando ela for encontrada, para que a nossa poesia não seja mais escrita com sangue" para então o BK entrar com "eles mataram Pac, mataram Biggie, eles querem matar um mano que resiste" para então na mesma música soltar barras como "eles colocaram as drogas no meio dos Panteras, baixa autoestima no meio das negras" e "Malcolm X eu não tõ bem com isso, mataram Marielle e ninguém sabe o motivo", essa música é a porrada que você precisa pra entrar no que vai ser esse disco e ver que ele está com uma pegada completamente diferente do que o rapper vinha fazendo nos últimos anos. Bk então no resto do disco discorre sobre temas que são trazidos nos títulos das músicas, dinheiro e como ele enxerga ele em "Porcentos 2" falando que para ele dinheiro não é luxo e sim proteção, "Visão" que é ele passando a sua visão sobre o jogo do rap, falando que eles estão esperando a sua versão branca chegar, tomar seu lugar e falar do seu lugar e ele inclusive sampleia um discurso de Abdias do Nascimento, um importante ativista negro, que toca inteiro no final da música. "Amor" parece que vai ser uma love song mas logo vira uma critica do rapper as pessoas que agora fingem que amam ele, agora com a carreira de sucesso e seu nome em todo lugar é fácil fingir amor, e ele reverte isso em "Pessoas" em que ele fala das pessoas que realmente amam ele como a sua família e os seus amigos dentro da indústria. O Líder em Movimento é o álbum mais difícil de se adentrar do BK, ele não tem trap melódico, a produção é bem crua e mais puxada para o boombap do começo dos anos 90 como o artista fazia no começo da sua carreira, ele não tem versos convidados e nem músicas de amor e sacanagem, mas ele era o álbum necessário no momento certo. Esse disco foi lançado em 2020 e você provavelmente lembra a loucura que aquilo tudo foi com a ascensão da direita conservadora no Brasil, as tensões raciais gigantescas nos Estados Unidos e as inúmeras mortes de COVID em lugares pobres, então BK não fez o álbum que iria vender mas sim 10 faixas apenas dele rimando tudo o que ele julgava que o seu público precisava ouvir para viver aqueles momentos difíceis e seguir em frente. Eu mesmo não sei se estava tão preparado para ouvir esse disco na época mas hoje eu consigo ver toda a importância e principalmente a representatividade que ele trás, então embora eu ainda tenha dois discos aqui que eu gosto mais e considero um pouco superiores eu não tenho nenhum problema com você se esse for o seu álbum favorito porque eu consigo ver perfeitamente porquê seria.
Segundo Lugar - Castelos & Ruinas
Querido no céu e amado no inferno, um homem desconhecido morrendo atrás da fama, a glória e o fracasso, castelos e ruinas, não tem palavras que façam jus para o impacto que teve o primeiro álbum do BK lançado em 2016 não apenas na cena do rap como na minha vida como um fã desse gênero. Eu já falei algumas vezes aqui no blog que uma das minhas coisas favoritas no rap é conhecer um rapper faminto no começo da sua carreira dando o máximo de si para alcançar todo o reconhecimento que ele já acha que merece, e poucas obras me passaram esse sentimento tanto quanto esse primeiro projeto do rapper. Quando o álbum abre aquele começo com Stonedage do Grupo Fein e ele introduzindo o nome do disco para então cuspir um dos melhores e mais complexos versos da história do rap nacional trazendo o conceito desse personagem cheio de defeitos e dúvidas mas pronto para pegar o mundo para si aprendendo com os erros dos que falharam antes dele em "Sigo na Sombra" eu arrepiei de escutar e arrepio até hoje, foi a primeira música do BK que eu escutei e ainda deve ser a minha favorita até hoje, eu ainda sei o verso todo de cor. Castelos & Ruinas é um álbum sobre a dualidade entre um homem mortal que tem inúmeros erros e defeitos mas ao mesmo tempo sabe que é o cara ao ponto de separar brigas de demônios e anjos e ser amado pelos dois, como é visto na icônica "Caminhos" onde todo o conceito da faixa é esse paralelo entre o bem e o mal, o Deus e o humano, e inclusive eu acho genial como o refrão é mudado entre o primeiro e o segundo verso, o primeiro com o personagem escolhendo o ódio vendo que o mundo não vale a pena e o segundo o personagem escolhendo a esperança para que o mundo possa recomeçar. Toda sonoridade e os temas pelos quais o BK são conhecidos estão nesse primeiro álbum, o jeito arrogante, o estilo pegador com a clássica frase "ela dava pra outro cara, deu pra mim, viu que eu sou o cara" na icônica música "Amores, Vicios e Obsessões", as colaborações com o Luccas Carlos na famosa "O Que Sobra Disso Tudo" e toda a complexidade que as vezes cercam uma única frase das suas letras. Eu lembro a primeira vez que eu ouvi todos os álbuns do BK mas a primeira vez que eu ouvi Castelos & Ruinas foi especial, o rap entre 2012 a 2014 era apenas aqueles sons acústicos de love songs e então veio esse cara de drad jogado junto com nomes como Froid e Sant lá por 2015 e quando eu soube do lançamento desse disco eu ouvi não esperando nada demais e a impressão que eu tive foi que ninguém estava fazendo um som nesse nível naquela época, um álbum em que eu conseguia ver esse balanço entre topo e queda dentro da sua cabeça de forma tão clara ao ponto de todas as músicas parecerem uma parte de uma história ainda maior, e depois eu fui pesquisar sobre a criação do álbum e realmente ele fez as músicas para soarem dessa forma, e isso fez eu olhar esse projeto com ainda mais brilho. Quase 10 anos se passaram e a minha impressão é de que ninguém está fazendo um som assim até hoje, é um dos melhores álbuns que a música brasileira já produziu, pode colocar lá junto com discos como o Sobrevivendo no Inferno e O Rap É Compromisso, ele foi responsável por rappers dessa época levarem álbuns como trabalhos completos ao invés de uma coleção de músicas que não se ligam de forma nenhuma. Um dia com certeza vai sair um CLÁSSICOS desse álbum destrinchando faixa a faixa todo o seu conteúdo e o seu legado para o rap nacional, e caso você ainda não tenha escutado escute pois é uma das melhores obras produzidas musicalmente em solo brasileira.
Primeiro Lugar - Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer
Para mim beirava o impossível Castelos & Ruinas sair do meu primeiro lugar por toda a importância que ele teve para mim no momento em que eu o ouvi, porém o impossível veio a acontecer esse ano, sim, esse artigo é um mini Minha Critica disfarçado de Do Pior ao Melhor porque antes dos melhores álbuns de 2025 em Dezembro eu preciso falar sobre a masterpiece que BK nos entregou em janeiro desse ano. DLRE é um álbum de superação do passado, dessa vez o rapper não usa o seu alter ego BK, o Deus da festa e da contradição, mas sim assume a sua própria persona, o álbum todo é sobre a perspectiva do Abebe Bikila, seu nome verdadeiro, e sobre toda a sua jornada musical até ali se apresentando em formas de diamantes (poder), lágrimas (sentimentos) e rostos (pessoas) que ele vai revisitar pela última vez nesse disco para que ele possa por fim esquece- las para sempre. Isso também acontece com o material musical do rapper com ele revisitando no disco algumas de suas letras e as respondendo, como em "Quadros" do C&R em que ele diz "viver pouco como um rei ou muito como um zé? Essa eu ainda não sei responder" e aqui ele termina esse ciclo em "Só Eu Sei" onde ele diz "viver muito como um rei, essa é a minha resposta", ou quando ele revisita o mito de Icaro quando diz em "Você Pode Ir Além" a linha "eu não impeço ninguém de voar, mas não permito que roubem minhas asas", o disco é como uma celebração de todas as quatro obras que vieram antes dessa respondendo perguntas e usando o que de melhor tinha ali para fazer uma obra de arte ainda maior. Porém por mais que o conteúdo lírico desse álbum seja sensacional sendo o mais honesto que o rapper já esteve em toda a sua carreira o que faz esse disco ser um outro nível de tudo que ele já apresentou antes é a sua sonoridade. DLRE é uma grande celebração a música brasileira como um todo, tendo samples de músicas muito famosas e transformando elas em rap de qualidade, pegando obras de Milton Nascimento, Evinha, Djavan, Luciana Mello, Fat Family entre outros, fazendo quase um álbum de MPB em forma de rap, e é uma produção que normalmente não se vê aqui no Brasil principalmente em música de artistas mainstreams. Logo na primeira faixa "Você Pode Ir Além" que começa com um rock anos 70 da banda Karma e você se pergunta "como isso vai virar um rap e como o BK vai rimar em cima disso???" e essa é a vibe de todas as músicas, você se impressionando cada vez mais com os samples e com os flows que o BK inventa em cima deles pra rimar sobre suas desilusões e como vai superar elas para finalmente ir além. BK mais uma vez retira o melhor dos seus feats, se o Major RD tem o melhor verso em um álbum dele dessa vez é a vez do Borges (sim, aquele do Iphone Branco) fazer um dos versos mais honestos e sensíveis que eu ouvi esse ano em "Abaixo das Nuvens", e o refrão cantado pelo MC Maneirinho na última faixa do álbum "Mandamentos" transforma um trap em um funk ostentação sobre vitória de uma forma que só o BK conseguiria estruturar. DLRE não apenas é uma junção de tudo o que veio antes, respondendo as dualidades e confusões de Castelos & Ruinas, fincando seus pés na história como ele disse que faria em Gigantes, trazendo o ativismo do Líder em Movimento e escolhendo continuar voando em direção ao sol em resposta a Icarus, como eu também sinto que esse é o álbum que o BK sempre quis fazer e só não tinha feito antes por falta de recursos, então tudo foi um treinamento para a gente chegar na sua verdadeira obra prima e é isso aqui, um álbum que ao mesmo tempo é uma história de superação também é uma grande homenagem a música brasileira contemporânea, ele colocou a Evinha no topo do Spotify com "Cacos de Vidro" e fez uma nova geração conhecer a carreira de uma das maiores cantoras da música brasileira dos anos 70, isso é a cultura. Esse álbum não tem nem 6 meses de vida ainda mas eu tenho plena certeza que ele vai ser um clássico, eu já guardei a memória de quando eu escutei ele pela primeira vez e pela segunda, é o meu álbum favorito de 2025 com muita pouca chance de ser ultrapassado e só me deixa mais ansioso para saber o que a nova versão do BK' sem erros vai fazer em seguida e como ele possivelmente pode superar DLRE.
E esse é o meu ranking de álbuns desse rapper que foi tão importante para todos que curtem rap da metade da década passada até agora. O BK além dos seus álbuns tem vários EPs e uma mixtape lançada em 2023 chamada Verão Criminoso e todo o seu material é fantástico, então vai escutar tudo dele o mais rápido possível, mas o que mais eu vou indicar são os dois EPs Antes dos Gigantes Chegarem Vol. 1 e 2 que ele lançou entre o Castelos e o Gigantes em 2017, todas as músicas tem clipes e são completas pedradas, e é com uma delas que eu vou encerrar o artigo de hoje, e claro que tem o Luccas Carlos nela. E eu não queria falar nada não mas o próximo artigo do blog é o post de número 150, então vai ser muito especial e eu vou falar de uma das maiores obras de arte da história da música moderna. Até lá e flw.
Comentários
Postar um comentário