Minha Crítica: Mac Miller - Circles


O "Blackstar" do Rap.


Eu conheci o Mac Miler através do verso do Kendrick Lamar em "Control", ele era um dos poucos artistas que eu não conhecia na lista de 11 rappers que o K. Dot chamou para tentar pegar a coroa de "rei do Rap" dele, e ai eu fiquei interessado por saber quem era aquele único rapper branco que o Kendrick considerava tão bom para bater de frente com ele, e assim eu escutei o "KIDS", depois o "GO:OD AM", "Divine Feminine", etc e assim o Mac foi se tornando um dos meus rappers favoritos, toda aquela aura good vibes dele que depois foi evoluindo para os elementos de Soul e RnB fez dele um dos rappers com uma das melhores evoluções musicais na memória recente. Então foi um grande choque para mim quando eu soube que ele havia falecido com apenas 26 anos de uma overdose em 2018, ainda mais porque ele parecia estar se recuperando dos seus problemas com drogas e com depressão, principalmente pela mensagem positiva do álbum que ele havia lançado aquele ano "Swimming", que tinha uma mensagem sobre recuperação e auto aceitação, e por muito tempo parecia que esse seria o último registro oficial que teríamos dele, mas então no dia 8 de Janeiro deste ano a família dele avisou que o Mac tinha deixado um álbum quase pronto, que deveria ser a continuação do "Swimming" chamado "Circles", que foi lançado oficialmente no dia 20, e abaixo está o que eu tirei do álbum.

Se o "Swimming" tinha uma mensagem mais de volta por cima e auto aceitação, quase como o Mac analisando ele mesmo de fora, o "Circles" é um álbum que entra mais dentro da cabeça dele, e mostra o que estava rolando lá antes da sua morte. Acho que eu nunca vi alguém detalhar pensamentos tão confusos de forma tão clara como o rapper fez nas letras desse álbum, não foi a primeira vez que ele expressou seus problemas com drogas e sua depressão em sua músicas, porém ele nunca foi tão sincero assim e acho que nunca deu para entender tão bem o que ele estava passando como aqui. Por 12 faixas o Mac passa por sentimentos como depressão, isolamento, sua dificuldade em largar as drogas, e principalmente seu relacionamento consigo mesmo, querendo que tudo fique bem no final, mas caindo de volta na depressão, e por consequência voltando a usar drogas, fazendo assim um círculo sem fim, e o Mac claramente se mostra cansado disso, ou como ele mesmo diz "cansado de estar tão cansado". O álbum é uma completa auto crítica, com o rapper deixando bem claro que os seus problemas foram causados por ele mesmo, como no single "Good News" onde ele diz que sabe que as pessoas já não falam mais tanto dele, mas isso é consequência de estar sempre com a porta sempre fechada, ou todo o conceito da música "Thats On Me". É quase como se ele não visse uma saída para todos esses problemas que ele estava enfrentando e se culpasse por eles.

A produção do álbum foi feita em parte pelo próprio Mac Miller e pelo produtor Jon Brion que completou o que ele não conseguiu terminar, e o instrumental do disco segue muito a pegada do "Swimming", com bastante Neo-Soul misturado com RnB. As batidas mostram toda a originalidade que o Mac tinha na produção e são perfeitas para a sua performance vocal. Esse é o álbum mais cantado que ele já fez e esse não é um problema, o Mac consegue passar a emoção de cansaço mental dele ao mesmo tempo em que nos momentos mais upbeats do álbum ele traz toda aquele vibe calma e tranquila que ele sempre conseguiu fazer de forma perfeita, além de trazer aqueles refrões cativantes que sempre foi um dos pontos fortes dele. A única música que é mais rap puro mesmo é "Hands", que inclusive lembra muito algo que sairia do "Faces", tanto na produção, como na letra e no flow do rapper.

Não tem como indicar uma ou outra música das 12 que compõem esse projeto, a coisa toda é uma experiência, a cada música você vai entendendo mais e mais sobre a mente bagunçada do Mac, com ele falando sobre esse círculo dele na faixa- título, sobre como queria que a vida fosse menos complicada em "Complicated", refletindo sobre sua vida e como esse mundo estava deixando ele louco em "Blue World", falando mais abertamente sobre seus problemas de depressão e seu isolamento em "Good News", vendo seus problemas e tentando procurar respostas em "I Can See", falando sobre como todo mundo tem que viver e morrer em "Everybody" que é um cover de "Everybody's Gotta Live" da banda Love, falando sobre o seu próprio relacionamento com a fama e o sucesso comparando com um relacionamento amoroso em "Woods", falando sobre seu uso de drogas para preencher o espaço na sua mente em "Hand Me Downs" com um feat sensacional de Baro fazendo o refrão, falando sobre como seus problemas são culpa apenas dele em "Thats On Me", tentando passar uma mensagem positiva através dos seus pensamentos negativos em "Hands", falando mais uma vez sobre o que estava passando na sua cabeça em "Surf", e no final falando sobre suas vitórias e derrotas diárias na última música "Once A Day", provavelmente a última música oficial dele. As letras misturadas com a incrível produção fazem dessa uma experiência linda, triste, mais linda, tristemente linda.

Como eu disse no começo eu comparo esse álbum com o "Blackstar" do David Bowie, tem inúmeras linhas no álbum que podem dar indícios de que o Mac sabia o que estava vindo na direção dele e estava completamente bem com isso, toda a vibe do álbum na verdade é como se ele estivesse escrevendo e mandando essas músicas direto do outro lado, fazendo a trilha sonora final para sua vida enquanto comunicava todos que ele ta suave onde ele esta agora. Porém embora o Bowie estivesse com 69 anos e com um câncer em estágio avançado, o Mac Miller era um rapaz de 26 anos que morreu de uma overdose de drogas acidental, o que deixa a coisa toda mais trágica, já que a voz dele transmite uma experiência de alguém que viveu uma vida inteira com começo, meio, e fim, nesse curto tempo, ele já tinha visto tudo e feito tudo, e estava totalmente preparado para o inevitável fim. No que diz respeito a qualidade eu acho que esse é de longe o melhor álbum que o Mac já fez, talvez não seja meu favorito, "GO:OD AM" ainda vai ser o álbum dele que mais vai tocar na minha casa, já que eu prefiro lembrar do Mac good vibes que eu conheci pesquisando sobre ele a uns anos atrás, porém nós fãs do rapper, e de música como um todo, não poderíamos pedir por uma despedida melhor do artista.

E essa é a gif que representa minha reação com esse álbum:



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