Minha Crítica: Tyler, The Creator - CHROMAKOPIA


A crise dos 30 chega para todo mundo.


A última vez que eu falei do Tyler nesse álbum foi com a minha crítica do seu último álbum de estúdio lançado, o Call Me If You Get Lost, em 2021, porém o Tyler não ficou sem aparecer nesses últimos 3 anos, ele continuou fazendo shows, em 2023 lançou um deluxe do Call If You Get Lost chamado The Estate Sale com 8 músicas novas e 4 vídeo clipes para esse deluxe. E isso nos leva ao glorioso ano de 2024 que já é um dos meus anos favoritos em questão de música quando no dia 16 de Outubro Tyler anuncia o nome do seu novo álbum, CHROMAKOPIA, com o lançamento sendo feito no dia 28 de Outubro, e abaixo está o que eu achei dele.

Tyler nesse álbum assume mais um nome, agora ele é Saint Chroma, que nos é apresentado na primeira música por uma narração de ninguém menos que a própria mãe do artista como um ser de luz, quase como um santo mesmo, alguém que veio para a terra para trazer alegria. E ao longo do álbum o Tyler vai usar essa persona para fazer a sua jornada de herói superando as suas inúmeras inseguranças, que aqui são muito bem detalhadas, para se tornar esse ser de luz que a sua mãe profetizou que ele seria na primeira música. Um conceito muito bem trabalhado aqui é essa coisa da máscara, com o artista falando que teve que botar uma máscara do próprio rosto dele para conseguir colocar para fora as coisas desse álbum, o que também pode ser interpretado com ele tendo que criar um personagem para ele ser ele mesmo, já que o Tyler, The Creator é sinônimo de momentos engraçados, músicas divertidas e nada de maturidade, e aqui o Tyler traz o álbum mais maduro da sua carreira enquanto faz uma personagem mais próxima de quem ele é de verdade fora das câmeras.

Mas quais são esses temas maduros que o Tyler toca nesse álbum??? Bem podemos dizer que o artista retrata perfeitamente a crise dos 30 anos, onde todo mundo pensa que deveria estar fazendo o contrário do que está fazendo, então mesmo que o Tyler seja uma pessoa jovem, extremamente bem sucedida e está na fase mais prolifera da sua carreira, ele começa a refletir sobre o seu estilo de vida e como talvez ele já devia ter um filho a essa altura da sua vida, já deveria ter achado o amor, já deveria ter uma família constituída e coisas do gênero. Após a música de introdução que nos coloca na mente dessa "personagem" e na vibe do álbum, nós conhecemos um pouco mais o estilo de vida caótico do Tyler com "Rah Tah Tah" com o rapper naquele seu modo mais rap agressivo do seu inicio de carreira com uma vibe bem ostentadora mesmo, com ele inclusive terminando o quarto verso da música com a linha "o maior da nossa cidade depois do Kenny, isso é um fato agora", se referindo ao Kendrick Lamar e a cidade em que os dois nasceram Los Angeles. No single "Noid" o Tyler continua descrevendo o seu estilo de vida agitado porém com um twist de uma paranoia constante do rapper em relação a fãs e a papparazis entrando em sua privacidade e tirando fotos. Mas é só após essas três primeiras músicas que a gente entra realmente fundo nas duvidas e problemas do artista. Em "Darling I" o Tyler ignora os conselhos da sua mãe para nunca falar "eu te amo" para uma mulher e embarca em um amor intenso em que hora ele não sabe se realmente é isso que ele quer e hora ele pensa se essa é a mãe dos filhos dele ou não. Em "Hey Jane" o Tyler mais uma vez ignora os conselhos da sua mãe sobres sempre usar camisinha e a música nos apresenta uma gravidez, provavelmente com a mulher que ele estava se relacionando na música anterior, e a letra é genial porque ela traz o ponto de vista dele pedindo que ela aborte, o ponto de vista dela com 35 anos não querendo abortar e vendo essa oportunidade como a última chance de ter um filho, e o nome da música Hey Jane é em referencia a uma clinica de abortos online dos Estados Unidos de mesmo nome. E isso nos leva a faixa "I Killed You" deixando subentendido que embora o Tyler tenha deixado a decisão do aborto com a Jane na faixa anterior, provavelmente ela fez o aborto, com ele novamente refletindo sobre a sua posição na sociedade, os seus rótulos, "assassinando" eles para se libertar e ser a sua melhor versão. E a partir dai temos a guinada do Tyler em busca da sua luz, com "Take Your Mask Off" sendo sobre ele expor a verdade de quatro perspectivas diferentes, um bandido, um padre gay, uma dona de casa e por fim ele mesmo, com ele tocando nesses temas de empoderamento e ser quem você quer ser até a última faixa "I Hope Your Find Your Way Home" com ele explicando mais uma vez porquê ele não está disposto a largar sua carreira agora para ter um filho, mesmo sendo o desejo da sua mãe, com o álbum encerrando em um tom meio agridoce com o Tyler refletindo que todas essas dúvidas provavelmente iriam passar com o tempo. 

Para o Tyler não é estranho falar de temas pessoais em sua música, como a ausência do seu pai no Wolf, ou ele se assumindo bissexual e muito sozinho no Flower Boy, mas nunca o tom dele pareceu tão sério como nesse álbum. Nessa persona de St. Chroma ele fala de uma forma muito honesta sobre problemas que qualquer pessoa com a idade dele ou próxima consegue se identificar, como escolher o trabalho e uma carreira de sucesso ou ter uma família, será que já não é tarde demais para constituir essa família??? O que a minha família pensa sobre tudo isso?? E ele faz todos esses questionamentos de uma forma em que claramente você consegue ver como o personagem está confuso mas os pensamentos dele estão organizados o suficiente para o ouvinte conseguir enxergar os prós e os contras de cada situação, principalmente com o lance de ter ou não um filho que é um tema recorrente dentro do álbum com ele até fazendo um aceno ao seu amigo A$AP Rocky que teve dois filhos com a Rihanna e parou a sua carreira para ser pai, enquanto o Tyer diz que a única coisa que a fama deu para ele foi muitos carros e ternos bobos. Então o que eu posso dizer sobre a parte escrita desse álbum é que a caneta do Tyler nunca esteve melhor, de letras extremamente complexas como a de "Hey Jane", para ele assumir outros pontos de vista como em "Take Your Mask Off", e até quando ele escreve versos divertidos e descontraídos como em "Rah Tah Tah" é uma coisa muito bem fluida com flows diferentes que parecem algo que apenas o Tyler poderia fazer.

A parte instrumental do álbum é muito criativa como já é de se esperar de um álbum do Tyler, The Creator, e como sempre ele quer que a gente saiba que todas as faixas foram escritas, produzidas e arranjadas por ele, com bastante Neo- Soul incorporando jazz, RnB e samples bem ortodoxos, acho que a maior prova disso é "Noid" como single, ele tem um sample de "Nizakupanga Ngozi" da Ngozi Family que é uma banda da Zâmbia e o sample toma conta do refrão inteiro, é bem estranho, mas do jeito bom, eu vi que teve muita gente que não gostou mas para mim isso é a essência de quem o Tyler é, pegar estruturas musicais que não deveriam funcionar em música pop e fazer delas... pop, eu mesmo não paro de escutar essa. O álbum também tem presença brasileira, com a faixa "Tomorrow" tendo o sample de "Summertime" da cantora e violinista Rosinha de Valença que pelas minhas pesquisas é bem famosa para os cariocas e quem curte bossa nova no geral, e é uma das melodias mais viciantes do álbum. Além disso eu preciso fazer menção a primeira faixa "St. Chroma" com aquela batida parecendo uma marcha de soldados (inclusive sendo representada no clipe) para então chegar essa ponte cantada pelo Daniel Ceasar para então o beat droppar nesse trap muito louco??? Eu acho que esses são facilmente meus 10 segundos favoritos do ano, quando eu ouvi isso pela primeira vez eu me senti transportado para outra realidade e já fez essa facilmente uma das minhas músicas favoritas do Tyler.

Agora, para não dizer que eu apenas elogiei o álbum, eu realmente não gostei de "Sticky", pra mim essa faixa parece muito bait pra playlist de rap, eu não gostei do Tyler nela mas a Sexxxy Redd e o Lil Wayne que realmente afundaram completamente essa música pra mim, de começo eu achei que era uma daquelas faixas que iria ficar melhor com o tempo para mim, mas a essa altura eu já ouvi o álbum todo umas 5 vezes e ela só ficou mais e mais intragável. "Balloon" também não foi meu copo de chá, eu na verdade acho ela estranhamente mal ordenada na cronologia do álbum para ser a penúltima música e ser uma musica de ostentação aleatória, eu também não gosto da parte da Doechii nela. Essas são as duas faixas que seguram um pouco esse álbum de ser um perfeito 10/10 para mim.

Então o que podemos tirar de CHROMAKOPIA é que Tyler conseguiu fazer de novo e está em uma sequência impressionante de QUATRO álbuns extremamente acima da média, construindo uma das melhores discografias de qualquer artista musical que já viveu. CHROMAKOPIA pode não ser pra quem gostava do Tyler mais divertido dos primeiros álbuns ou o Tyler mais melódico do IGOR mas se você quer ouvir um álbum maduro sobre todos os dilemas que a vida te joga quando você está na casa dos 30 não tem nada melhor lançado em 2024 do que a nova pedrada do Tyler. Para mim facilmente top 3 da discografia do artista até aqui e não vai ser a última vez que eu vou falar dele, porque ele com toda a certeza vai estar na minha lista de melhores álbuns de fim de ano.

E essa é a gif que representa a minha reação ouvindo esse álbum:
 
Can you feel the light inside?

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