Minha Crítica: Tyler, The Creator - Call Me If You Get Lost

Mixtape Tyler está de volta.


2021 não está totalmente perdido, pois um dos artistas mais criativos e interessantes da música atual está de volta com o seu sexto álbum de estúdio, Call Me If You Get Lost. O último disco lançado pelo Tyler foi o IGOR de 2019, e não só aquele foi meu álbum favorito daquele ano, como é um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos, então dá para dizer que eu estava muito hypado para o que ele faria a seguir, qual direção musical ele iria tomar. Então no dia 25 de Julho o álbum saiu, e eu não parei de escutar ele até agora.

O Tyler foi em uma direção totalmente oposta do seu último trabalho, voltando a rimar mais e trazendo vários elementos dos seus trabalhos mais antigos, principalmente o Wolf e o Cherry Bomb, para assim criar um álbum que propositalmente soa como uma mixtape dos anos 2000 no estilo do Lil Wayne e do 50 Cent, com skits e jingles, mas claro, com toda a marca do Tyler. Aqui o rapper assume mais um pseudônimo, se chamando de Tyler Baudelaire, referência ao poeta francês Charles Baudelaire, um artista controverso que teve a sua obra mais famosa "As Flores do Mal" banida por ser explicita e indecente demais para a época, uma coisa que o Tyler com certeza pode se identificar. O artista no álbum rima sobre desventuras amorosas, sua própria carreira, sua posição na cultura musical atual, e faz punchlines tão boas e ousadas que parecem saídas do Goblin, seu primeiro álbum, mas ao mesmo tempo condiz com essa sua nova fase musical, por exemplo quando ele diz "my nigga tall, look like a bitch, i call her Mulan", o álbum esta cheio dessas bars super engraçadas e eu pelo menos estava com saudade de ver o Tyler mandar elas.

Assim como todos os seus outros álbuns, esse também foi inteiramente produzido pelo Tyler, em colaboração com o lendário DJ Drama, e eu sei que muita gente reclamou dele estar falando por todo o álbum, mas eu acho que isso é um dos aspectos que mais dá esse clima de mixtape para o projeto, e a produção também mostra isso. Enquanto o IGOR tinha uma pegada mais neo soul com aqueles sintetizadores, aqui o rapper tira a sua sonoridade de todo lugar, passeando por soul, synth pop, reggae, jazz, e até os jingles do álbum tem uma sonoridade completamente diferente da música que veio antes deles, por exemplo na música "LEMONHEAD" que tem uma batida super pesada e bizarra, para então mudar para uma bossa nova com o "call me if you get lost" sendo cantado para então cortar para a super animada "WUSYANAME". O álbum esta cheio de influências musicais diferentes mas elas estão ordenadas de uma forma que faz com que não pareça que elas são aleatórias. Eu também adoro como o Tyler esta cada vez mais se tornando esses maestro, criando batidas e temáticas perfeitas para outros rappers brilharem, ele já tinha feito isso no IGOR com aquele verso do Playboi Carti, mas a proposta desse álbum ser mais aberta ajuda ainda mais os guest verses a brilharem. NBA Youngboy que foi uma dos feats mais criticados quando a tracklist saiu, fez provavelmente o melhor verso da sua carreira em um beat que não tem nada a ver com ele em "WUSYANAME", Lil Wayne mostra porque ele ainda é um dos melhores quando se fala de versos convidados, fazendo um dos seus melhores versos em muito tempo em "HOT WIND BLOWS", e outros como Domo Genesis, Lil Uzi Vert, e Pharaell Williams também tem seus momentos de destaque no álbum, esse último rimando, o que era uma coisa que eu não achava que ele sabia fazer mais, e ele killou em "JUGGERNAUT".

Os destaques do álbum para mim são a faixa que abre o disco "SIR BAUDELAIRE" onde o Tyler esta rimando sobre esse lindo sample de um clarinete e se referindo a si mesmo como o nome do seu personagem nesse álbum enquanto o DJ Drama esta hypando ele, dando totalmente o tom do que vai ser essa obra. "WUSYANAME" que parece uma música saída direto do que de melhor tem no Wolf, eu particularmente nunca fui muito fã das "summer songs" do Tyler, então eu posso dizer que essa pode ser a minha favorita dele, tudo funciona aqui, o beat animado, o Tyler começando o verso com uma cantada que eu pretendo usar: "você parece desnutrida", o Ty Dolla $ing com aquela voz de veludo dele na segunda voz e o verso do NBA Youngboy que não é algo que eu esperava dele mas é o highlight da faixa. "LUMBERJACK" que vem logo em seguida, e é o rap mais rap do álbum todo, o Tyler rimando pra caralho nesse beat que parece ter saído direto do que de melhor tem no Cherry Bomb com punchline atrás de punchline. "MANIFESTO" que é o Tyler fazendo algo que eu nunca pensei que ele faria, refletir sobre o passado polêmico dele, tocando em vários pontos importantes sobre o que ele deveria fazer como uma celebridade negra para ajudar a sua comunidade, ao mesmo tempo em que responde sobre toda a sua personalidade antiga que usava o shock value acima de tudo, é uma das letras mais maduras e interessantes que o Tyler já escreveu, e eu acho ainda mais interessante ele mandar esse verso em um beat que poderia facilmente estar no Goblin. "SWEET/I THOUGHT YOU WANTED TO DANCE", provavelmente a minha combinação de duas faixas favoritas do Tyler, como ele conseguiu ir daquele neo soul que poderia facilmente estar no IGOR para ir para um reggae e não só fazer parecer natural mas conseguir criar essa vibe contínua que dura quase 10 minutos, eu acho que isso é o auge do que o Tyler é como... criador. Esses são os highlights do álbum para mim mas de verdade eu não acho que tenha uma faixa abaixo entre as 16 do álbum, ele toca em vários temas, usa várias influências, tem algo nesse álbum para todo mundo que gosta do trabalho do Tyler.

Como você já deve ter percebido esse álbum é basicamente um melhores momentos da carreira do Tyler até agora, se você gostava do Tyler que rimava mais e era mais ousado nas letras da época do Goblin tem muito disso aqui, se você gostava do Tyler que fazia música de amor ao mesmo tempo que falava de desilusão amorosa da época do Wolf com certeza tem isso aqui, se você gostou da experimentação do Cherry Bomb, com certeza tem ela aqui, inclusive provando o quanto esse álbum foi importante para a carreira do Tyler, sendo uma transição super importante para ele ser o que é agora. E claro, tem muito do Flower Boy e do IGOR também, principalmente na produção, um aspecto onde parece que o Tyler esta ficando melhor e melhor a cada projeto. O que eu posso dizer é que nosso Young T' conseguiu de novo, fazendo uma obra sensacional em letras, em produção, em criar uma atmosfera única e te trazer para dentro dela, e até no audiovisual desse álbum, com todos os clipes tendo uma clara influência nos filmes do Wes Anderson, fazendo assim a gente visualizar aquele universo que ele criou para os clipes em todas as músicas do álbum. Eu não sei para qual direção o Tyler vai com o próximo álbum, mas aqui ele mostrou que pode basicamente fazer tudo o que ele quiser musicalmente e vai sempre sair de um jeito que apenas ele pode fazer. 

E essa é a gif que representa a minha reação ouvindo esse álbum:

GANGSTA GRILLLLLLLLLLZ

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