Eu não acredito que exista uma "melhor música de todas", mas eu acredito que existam músicas que sejam perfeitas em tudo o que eles tentam, seja sonoridade, letra, e mensagem geral. Esse quadro é para falar dessas músicas, com os meus comentários sobre as músicas e minha interpretação geral delas. Então venha comigo ver dez músicas de dez artistas diferentes que com certeza estão ali no panteão das melhores já criadas nessa arte.
Queen - Bohemian Rhapsody
Is this a real life? is just a fantasy?
Claro que eu não poderia começar com outra se não essa que é considerada por muitos a melhor música de todos os tempos. Acho que o que mais impressiona em Bohemian Rhapsody é que ela não tem uma estrutura de uma música popular, pelo contrário, ela parece aquela música que fica no final do álbum e os fãs aficionados da banda diriam que é a melhor e que você tem que escutar, mas a coragem da banda de lançar ela como single não só foi uma aposta acertada na época, como fez esse o grande clássico deles. A música tem seis partes diferentes durante seus 5 minutos cada uma com sua parte distinta. Com a introdução do Freddy Mercury junto com um coral sendo a primeira, para então irmos para a segunda onde entra o piano e começa aquela balada leve, entra a guitarra junto com a bateria para então nos levarmos para a terceira parte que é o solo de guitarra sensacional do Brian May, um dos melhores da história. Então o piano volta para chegarmos a quarta sessão da música, que é a sua mais famosa, a parte da opera, com o Fígaro, Galileu, mama mia, e a coisa toda, um dos momentos mais memoráveis da história da música. E a descida do personagem ao inferno, como a parte da ópera costuma ser descrita explode em um riff de guitarra partindo para o hard rock, até apenas ficar a melodia da guitarra do Brian May e a voz calma do Freddy Mercury encerrando a música. Mas claro que além do instrumental e como tudo consegue fluir de uma coisa para a próxima, o outro grande destaque faz Bohemian Rhapsody tão fantástica é a sua letra, que conta a história desse garoto pobre que matou um homem e esta se confessando para sua mãe enquanto reflete sobre a sua vida. Até hoje muitos discutem qual é o verdadeiro significado dessa letra, o próprio Freddy Mercury nunca se quis explicar ela, e os outros membros do Queen também sempre disseram que não sabiam, apesar do Brian May já ter dito que podia ter haver com traumas que o Freddy enfrentou durante a sua vida. Essa música sem refrão, que vai de ópera até hard rock e com uma letra estranha é tão única e tão espetacular em tudo que o mundo não teve outra escolha a não ser tornar ela uma das mais populares de todos os tempos.
The Beatles - Yesterday
Como eu disse no meu ranking de álbuns dos Beatles, essa música é 2 minutos de pura perfeição. A composição dela é muito simples, com um arranjo tocado pelo Paul MacCartney em um violão acústico, mas a melodia parece algo que a gente sempre ouviu, e esse é o trabalho de um bom single, parecer que você já conhecia ele antes de algum lugar. Isso aconteceu com o próprio Paul, segundo ele certa noite ele estava dormindo e sonhou com essa melodia, pulando da cama e começando a tocar ela no piano, ele então achou que inconscientemente tinha plagiado a música de outro artista sem perceber, e passou meses conversando com outros artistas até se convencer que aquela era uma melodia autoral dele mesmo. Porém claro que apesar da ótima melodia, o grande trunfo de Yesterday é a sua letra aliado a performance vocal do Paul. A música fala sobre o sentimento de melancolia, o personagem principal quer reviver dias mais fáceis enquanto o dia atual que ele esta vivendo parece mais e mais difícil, por isso ele quer voltar para o ontem. Embora a interpretação mais comum é de um relacionamento acabado com o personagem que canta a música sofrendo por isso, muitos também ligam a letra a morte da mãe do Paul quando ele era adolescente, com ele querendo voltar para o ontem quando a sua mãe ainda estava viva. Essa foi a música que provou que Paul era um artista tão introspectivo quanto John, e que os Beatles podiam fazer bem mais do que letras bobas sobre relacionamentos adolescentes. Tem uma razão pela qual essa é a música com mais covers da história, e apesar de ter algumas muito boas por ai, a versão original do Paul continua insuperável pra mim.
Bob Dylan - Blowin' in the Wind
"Quantas estradas um homem precisa caminhar, antes que você possa chama- lo de homem? quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar, antes que ela possa dormir na areia?". Eu não preciso dizer o quão boas são as letras do Bob Dylan, é basicamente por isso que ele é conhecido, por ser um dos maiores compositores de todos os tempos, e se eu fosse falar de todas as letras incríveis que ele já escreveu eu teria que fazer um artigo próprio só pra ele, mas de todas as clássicas do Bob a minha favorita, e uma das suas melhores letras é Blowin' in the Wind. Eu gosto como o refrão dessa música é tão simples mas é tão universal e ambíguo que fica muito poético, "a resposta esta sobrando com o vento", eu acho que qualquer um pode tirar sua própria interpretação dessa frase. O próprio Bob Dylan ao explicar a sua letra disse que a resposta para todas as perguntas importantes da vida não estão em nenhum livro, filme, programa ou roda de discussão, a resposta esta soprando com o vento. A música foi um hino para o movimento de direitos civis dos anos 60, com a cantora Marvis Staples ligando o tema do vento com a liberdade e dizendo que Bob Dylan, um rapaz branco, conseguia capturar perfeitamente a frustração e aspirações da juventude negra. Todo o clima calmo da música e sua mensagem acabaram fazendo ela ser usada como um hino anti guerra, tanto na guerra do Vietnã que teria seus protestos pouco tempo depois do lançamento dessa música, até a guerra do Iraque de 2003, com os manifestantes cantando ela em seus protestos contra o confronto. Esse é considerado o primeiro clássico do Bob Dylan, e se ele começou com algo assim dentro do folk autoral, dá para ver porque ele se tornou um dos maiores artistas de todos os tempos.
The Rolling Stones - Sympathy For The Devil
Sempre que eu penso em Sympathy For The Devil eu fico imaginando o nível de criatividade que você tem que ter para pensar em um conceito assim para uma música, uma faixa em que o diabo em primeira pessoa se apresenta para o ouvinte listando todas as contribuições importantes que ele teve no decorrer da humanidade, o Mick Jagguer é um gênio não só por ter tido essa ideia mas pela execução perfeita dela. Então na música nós somos apresentados para esse homem de riquezas e bom gosto, ele esta por aqui a muitos anos roubando a alma e a fé de vários homens, e então ele pede para que você adivinhe o nome dele. Então Lúcifer começa a descrever para o ouvinte toda a influência que ele teve nos momentos mais cruciais da humanidade, ele estava lá quando Jesus Cristo foi crucificado, ele assistiu as guerras religiosas europeias com alegria vendo homens se matarem pelos Deuses que eles criaram, ele matou o Czar e a família Romanov, ele estava em um tanque durante a segunda guerra mundial vendo o Holocausto, e estava lá gritando "quem matou os Kennedys?" quando na verdade foi ele junto com a gente. No final o diabo não fez pessoalmente todas essas atrocidades, ele estava dentro das pessoas que fizeram, com a mensagem final da música ser o Diabo deixando claro que ele e a humanidade são inseparáveis. Eu amo essa letra demais, e a performance do Mick Jagguer tanto na gravação quanto no ao vivo é sensacional. Quando eu imagino o diabo na minha cabeça não é um monstro de chifres e pele vermelha, mas sim esse cara super malicioso com uma lábia de fazer qualquer um cair na tentação dele, e é assim que o Mick Jagguer interpreta ele, se você fechar os olhos e ouvir a música parece que o diabo é o cara com mais classe do mundo, pronto para te oferecer um acordo que você não vai recusar. E se a letra é incrível o instrumental dela é muito interessante, porque ela não vai para aquele blues rock que geralmente é associado com "música do Diabo", mas na verdade ela é um samba com batuques de candomblé, com aquela conga e um ritmo meio africano nela, isso faz ela ficar mais estranha, mais ortodoxa, como se não fosse algo que era pra você ta ouvindo, e eu acho que encaixa demais com toda a temática da faixa. É uma das músicas mais macabras e ao mesmo tempo bonitas que já foram feitas, e um dos grandes exemplos do que os Rolling Stones podia fazer no seu auge.
Creedence Clearwater Revival - Have You Ever Seen The Rain
Creedance Clearwater Revival é popularmente conhecida como a banda desconhecida com mais hits, isso porque embora o nome deles não tem a popularidade dos Beatles ou Beach Boys, mas inúmeras músicas dos anos 60 que são extremamente conhecidas, foram feitas pela banda, e uma delas é a maravilhosa Have You Ever Seen The Rain?. O som dela é um rock bem clássico que era o que a banda era conhecida por fazer, mas o que realmente chama a atenção dela e faz ela entrar nessa lista é a complexidade da sua letra. A música se inicia com John Forgety cantando que alguém disse para ele a muito tempo que existe uma calma antes da tempestade, e que sente que ela esta vindo a muito tempo, e que quando tudo passar choverá em um dia ensolarado, antes de perguntar se o ouvinte já viu a chuva. A letra é poética, tem um significado universal, e rapidamente todos tentaram interpretar o significado dela, o que era a metáfora da chuva??? ou passagens na letra como "o sol era frio e a chuva era forte"??? com muitos interpretando ser uma música anti- guerra para o confronto no Vietnã com a chuva sendo uma metáfora para bombas caindo do céu, já o critico Mark Deming achava que a letra era sobre como o idealismo das pessoas morreu dos anos 60 para os 70, com os mesmos problemas persistindo do final de uma década para o começo da outra mas pessoas perdendo sua vontade de lutar pelo que acreditavam, com a chuva representando a apatia delas, porém a explicação oficial de John Forgety sobre a música é bem mais simples e talvez até mais interessante. Have You Ever Seen The Rain? é sobre os desentendimentos dentro da banda e o eminente fim dela, com ele explicando que durante essa época eles estavam no auge de suas carreiras, no topo das rádios e cheios de dinheiro, porém todos os membros da banda estavam tristes, não só pela relação dentro da banda mas também com suas vidas pessoas. Então a fama que não trouxe felicidade para eles seria o sol frio, a tempestade seria todos os problemas que a banda estava enfrentando, mas John considerava ela necessária para que eles pudessem ver a chuva ensolarada depois, com um olhar positivista que talvez a banda passasse por tudo isso e ficasse ainda mais forte. Infelizmente não foi isso que aconteceu na trajetória da banda, eles lançariam mais um álbum chamado Mardi Grass que é considerado um fracasso e uma representação musical sobre o quanto a banda estava disfuncional (nem todos podem ser Fleetwood Mac), com ela chegando ao fim logo depois e todos os membros ainda se odeiam e se processam até hoje. Ainda assim eles nos deram esse último hit que é tão universal e tem uma visão tão melancólica mas tão positivista sobre a vida, que não poderia faltar aqui.
David Bowie - Heroes
Você sabe que a música é lendária quando ela é parte de um dos momentos mais importantes da história da humanidade, é admirada por conservadores ao mesmo tempo que á parte da causa LGBT e esta em filmes até hoje, décadas depois do seu lançamento. Heroes foi gravada durante a famosa "fase Berlim" de David Bowie onde ele se mudou para a cidade em 1976 para se inspirar pelo cenário artístico de lá, no que muitos (incluindo eu) consideram sua melhor fase na carreira. A pegada da música é bem rock experimental europeu mesmo, Bowie já disse ter tirado a inspiração da sonoridade de uma música do Velvet Underground, e o músico Brian Eno disse que o pensamento dele para a faixa era de algo que ficasse mais e mais grandioso de acordo com a progressão da música, e que ele tinha ideia de como ela seria com o termo "heróis" na cabeça mesmo antes de Bowie escrever a letra. Contudo a grande inspiração para essa música veio do produtor da faixa Tony Visconti, com Bowie vendo ele beijando sua amante Antonia Vaas próximo ao muro de Berlim, e assim ele teve essa visão de um amor proibido entre um casal, um estando na Berlim Ocidental e o outro na Berlim Oriental, com Bowie falando do poder do amor desse casal como um ato de heroísmo. Mas claro que a música também tem uma forte mensagem política por trás, porque não era só um muro separando a Alemanha, mas sim uma separação entre duas ideologias com um lado odiando o outro, e a letra falando sobre como esses amantes querem viver esse amor apesar de tudo isso e serem heróis apenas por aquele dia, fazendo um paralelo para as pessoas esquecerem suas diferenças e também se unirem. Assim como muitas obras de arte Heroes não fez tanto sucesso quando foi lançada em 1977 junto como álbum de mesmo nome, contudo com o tempo ela ganhou sua notoriedade, mas o grande momento histórico dela foi quando Bowie a cantou na Berlim Ocidental em 1987, com ela se tornando uma música em prol da queda do muro, que cairia dois anos depois. Quando Bowie morreu em 2016 o órgão de relações exteriores da Alemanha agradeceu ele por ter ajudado a derrubar o muro. Para mim o grande trunfo de Heroes é que ele pode sobre qualquer coisa, pode ser a música de um casal como pode ser uma mensagem para você ser o seu próprio herói, ou o herói para outra pessoa, ela traz perfeitamente o sentimento de se sentir heroico tanto na sua letra quanto no seu instrumental. Parafraseando uma frase do filme As Vantagens de ser Invisível quando os personagens principais escutam essa música pela primeira vez: essa música faz você se sentir infinito.
Amy Winehouse - Back To Black
Aquela batida no começo fazendo o "pam pam pam" já era um indicio do quão bom seria esse soul, mas qualquer soul fica melhor com a voz de Amy Winehouse nele. Composta pela Amy e pelo grande produtor Mark Ronson, Back To Black é a música mais pesada do álbum de mesmo nome que por si só esta recheado de músicas sobre arrependimento e decepção, mas essa faixa é muito crua sobre como é o sentimento de um relacionamento intenso que chega ao final. A história por trás da música é do fim do relacionamento entre a Amy e o seu namorado Blake Fielder-Civil, com ele terminando com ela e voltando para a sua ex- namorada, deixando ela "de volta ao preto". No decorrer da música ela expressa na letra sentimentos como raiva, tristeza, e até superação, com o verso final ela falando sobre manter a cabeça erguida enquanto suas lágrimas secam. Muitas pessoas teorizaram o que seria o "preto" que ela iria voltar dentro do contexto da música, com teorias sobre drogas ou a bebida, mas eu acho que é mais em um sentido de depressão mesmo, o relacionamento acaba e ela começa a ver tudo preto, como se não tivesse nada que pudesse animar ela. Porém por mais que a música seja triste na letra eu acho que a voz da Amy da um glamour pra ela, a cantora faz um término parecer a coisa mais classuda do mundo nessa música, e por mais que o instrumental bem soul anos 60 seja maravilhoso, é a performance da Amy que faz essa música perfeita, escutem os vocais isolados dela na música, poucas vozes tem tanto alcance e tanto carisma como essa. Infelizmente esse não foi o capítulo final da relação entre a Amy e o Blake, eles voltariam e inclusive se casariam pouco tempo depois, claro que como um trazia o pior do outro o Blake foi uma das principais razões pelo aumento do consumo de drogas dela e do alcoolismo que acabou levando ela para a morte, deixando a letra dessa música um pouco mais triste até. Back To Black é para mim a grande prova de todo o potencial não só vocal da Amy, mas também como compositora de grandes letras, mostrando em apenas uma faixa um nível de talento que poucas mulheres tiveram antes ou depois dela.
Eminem - Lose Yourself
Do Oscar para o Super Bowl, mas hoje Lose Yourself tem a sua maior honra, recebe o meu selo de música perfeita. E para mim ela é perfeita porque ela trás todos os talentos de um dos maiores artistas de todos os tempos. Para começar o Eminem que produziu a batida, eu sempre considerei esse um dos aspectos mais underrateds dele, a criação de beats, e esse é um dos melhores instrumentais de rap dos anos 2000, quando a batida realmente droppa junto com o "snap back to reality" do rapper, é ali que você percebe que vai ser uma daquelas músicas. E isso nos leva ao segundo ponto, o flow do Eminem nessa faixa. O flow dele no começo da música é o meu favorito dele, toda a raiva e insegurança do rapper que esta tentando fazer dar certo a sua carreira somada com essa urgência em fazer sucesso, como se as palavras mal pudessem esperar para sair da boca dele e expressar a frustração do rapper junto com a vontade na busca pela fama, é uma coisa que me impressiona toda vez que eu escuto. Mas claro que um dos pontos que faz o Eminem um dos melhores rappers de todos os tempos é a sua capacidade de escrever grandes letras, conseguir criar imagens na sua cabeça apenas com suas rimas, e isso vem aqui. O primeiro verso é basicamente um resumo do filme 8Mile, o B- Rabbit tentando vencer as batalhas de rap mas não conseguindo sequer rimar, porém não desistindo e indo atrás da chance de ouro. O segundo versp fala da perspectiva de um B- Rabbit já famoso, misturando a linha entre o seu personagem no filme e o próprio Eminem, com ele refletindo sobre a fama que ele tanto buscou mas os sacrifícios, dizendo que vai para casa e mal reconhece sua filha, e como tudo isso pode acabar rapidamente comentando sobre não vender nada e se tornar "produto frio". Enquanto o terceiro é da perspectiva de um B- Rabbit motivado, dizendo que sucesso é a única saída para ele, e apesar de todos os riscos e sacrifícios ele vai pegar essa chance que só pode vir uma vez na vida. Esse é outro aspecto da música, ela é extremamente motivacional não apenas para quem quer ingressar na música, mas em qualquer área, a oportunidade da vida vem só uma vez e como ele termina dizendo "você pode fazer qualquer coisa que você colocar na sua mente". Para encerrar o meu argumento de como essa música é o que mostra a grandeza do Eminem, ele escreveu a letra enquanto gravava o filme e gravou cada verso em um take só, nada mais precisa ser dito. Tem um motivo porque essa é a música que o Eminem canta em toda aparição importante que ele faz, porque ela realmente esta em outro patamar como um dos maiores clássicos dos anos 2000.
Kendrick Lamar - How Much a Dollar Cost?
Essa é diferente das outras, ela não é um single do álbum, mas ela ela é tão boa mas tão boa que é frequentemente colocada como a melhor música que o Kendrick escreveu, e para mim uma das melhores letras da história do rap. Sem dar muitos "spoilers" da história do álbum To Pimp A Butterfly, que avança a sua narrativa a cada faixa, mas nesse ponto no álbum o Kendrick já estava afundado dentro da indústria musical e do seu próprio ego, e então ele resolve ir para a África Do Sul para encontrar suas raízes. É então que Kendrick para em um posto de gasolina e vê esse homem sem teto que pede para Kendrick 10 rands que é o equivalente a um dólar na moeda americana. Kendrick então começa a pensar que o homem é um viciado em crack e diz para ele que não iria ajudar no seu vicio, porém o homem responde que tentação é algo que ele já venceu e que tudo que ele está pedindo é uma nota de um dólar, nada mais e nada menos, porém o rapper diz que não tem e fecha a porta do seu carro encerrando o primeiro verso. No segundo verso Kendrick diz que apesar de já ter dado partida no carro não conseguiu sair dali por causa do olhar de desaprovação do estranho, e que não entendia como aquele homem poderia estar bravo com ele, como se ele tivesse a obrigação de salva- lo, e como se o rapper fosse a razão dele estar na situação que ele estava, o que fez Kendrick se irritar e encara- lo de volta, até o estranho perguntar se ele leu êxodo 14 dizendo "um homem humilde é tudo que precisamos". Vamos então ao terceiro verso onde a frase do homem mexe com Kendrick lembrando de todo o sentimento de vaidade e egocentrismo que foi a razão dele ter viajado para a África em primeiro lugar, e é então que ele se irrita com o homem dizendo que esse truque do homem para conseguir dinheiro é medíocre e consegue cheirar bebida nele dizendo que cada centavo que o rapper ganha vai ficar com ele. É então que o homem se apresenta para Kendrick dizendo "conheça a verdade e ela te libertará. Você está olhando para o Messias, o filho de Jeová, o poder maior, o coro que pregou a palavra, o espirito santo, a coragem de Nazaré, e eu te direi quanto custa um dólar, o preço de um lugar no céu, abrace a sua perda. Eu sou Deus". Essa é outra daquelas músicas que eu não consigo pensar como ele teve a criatividade de criar esse conceito, construir esse cenário e desenhar toda a situação na sua cabeça com as rimas dele, fazendo o ouvinte parecer estar lá com ele. E ela funciona perfeitamente dentro do contexto do álbum, com o Kendrick sendo tentado por Lúcifer no começo dele, como também como uma faixa solo, com você podendo ter suas próprias interpretações desse encontro do Kendrick com o homem que viria a ser Deus, seria realmente um encontro mágico??? a culpa do rapper levando a melhor sobre ele??? ou a interpretação dele que Deus esta em todos nós??? funciona de todas as formas e é a grande virada no disco para Kendrick começar a tentar se encontrar e dar algo para o seu povo. Kendrick nunca foi estranho no quesito fazer músicas parecerem grandiosas, mas essa é diferente, sendo para mim facilmente uma das faixas mais bem escritas da história do rap e uma música perfeita.
Kanye West - Runaway
E se estamos falando de músicas perfeitas de rap, não podemos esquecer de falar da música que tem o apelido de "Bohemian Rhapsody do rap", e é com ela que eu vou encerrar esse artigo, Runaway de Kanye West. My Beautiful Dark Twisted Fantasy é todo grandioso em seus próprios méritos, mas para mim essa faixa é a junção de todo que o álbum é, e a grande prova do quão marcante é essa música, é que é a única música que eu consigo reconhecer por uma nota. Sim, a música começa com uma nota de piano sendo tocada de novo e de novo, até entrar o sintetizador, com aquele violoncelo e o sample do Rick James dizendo "look at ya" de novo e de novo, só esse começo já faz essa parte perfeita. Mas vamos ao conteúdo lírico da música, Runaway nada mais é do que um pedido de desculpas público de Kanye West. Dentro da música ele canta para uma mulher que ele esta em um relacionamento, dizendo que ela já aguentou as merdas dele por tempo o suficiente, propondo um brinde a todos babacas que não se preocupam em corrigir seus defeitos, antes de dizer que tem um plano, que é ela fugir dele o mais rápido que ela puder. Na época a interpretação mais comum era que a música era um pedido de desculpas para a Taylor Swift, mas com o álbum tendo um tema central sobre como Kanye enxergava a fama, a melhor interpretação é que ele esta cantando para a sua própria fama como se ela fosse uma mulher, propondo um brinde porque a mídia adora pessoas que causam polêmicas e que são babacas no geral, mas ao mesmo tempo pedindo para a fama correr para bem longe dele, porque ele sabe que alguém como ele não deveria ter o nível de fama que ele tem. O segundo verso é do Pusha T que traz exatamente o outro lado, enquanto o Kanye esta completamente aberto sobre seus defeitos e mostrando inseguranças o Push esta dizendo a parte boa de ser famoso, todo o dinheiro, as mulheres e o poder, é um dos melhores versos dele e foi o que fez ele inclusive ser contratado pela gravadora do Kanye que ele se tornaria presidente anos depois. E então chegamos ao clímax da música, que é o outro de 3 minutos do Kanye, com o instrumental sendo tocado e o artista com um vocoder e muito autotune começa a tentar falar alguma coisa, você não consegue saber se ele ta cantando o refrão de novo, ou ta tentando fazer um discurso, tem tanto efeito que fica impossível de entender, e esse é o Kanye mostrando através da música a sua dificuldade de conseguir se expressar, porque a harmonia do vocais é linda mas você não entende o que ta sendo falado, ou seja, quando o Kanye faz seus rants, a intenção na cabeça dele é boa, mas por ele ser esse babaca que ele mesmo admite ser na música, sai como apenas coisas desconexas. Esse é um dos meus finais favoritos de uma música, é lindo, é o Kanye conseguindo através da sua arte mostrar suas inseguranças e de certa forma se humanizar para as pessoas enquanto ainda consegue ser genial. Do piano até o seu final, não vai ter uma música dentro do rap que chegue perto de realizar a ideia que Runaway trouxe nos seus grandiosos 8 minutos.
E essa é a primeira edição das músicas perfeitas. Volta e meia eu venho com dez novas músicas em outras edições, as vezes com artistas que já apareceram aqui, e as vezes com novos. Se cuidem, vejam a chuva e até o próximo artigo.
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