J. Cole: Do Pior ao Melhor


Recentemente o J. Cole lançou uma música nova, o que deve indicar que o seu novo álbum está perto, porém como eu tenho certeza que ele vai lançar o "The Fall Off", ou seja lá como vai se chamar o novo disco dele, de surpresa, sem aviso, eu não vou tentar esperar uma data para fazer esse ranking. É engraçado porque o J. Cole é um dos rappers que são sempre comparados com o Kendrick, mas sua discografia não é nem um pouco comentada como a do K Dot, e é muito interessante. Então venha comigo ver os cinco álbuns do Cole lançados até agora, do pior ao melhor.


Quinto Lugar - Cole World: The Sideline Story


O primeiro álbum do J. Cole veio com todo o hype possível, depois de assinar um contrato com a gravadora do Jay Z, e lançar várias mixtapes bem recebidas, com esse seu primeiro disco sendo lançado em 2011, e o resultado é... é. Não dá para chamar o álbum de decepcionante, de maneira nenhuma, além dele debutar em primeiro na Billboard, o álbum tem algumas das melhores músicas dessa versão mais nova do rapper, faixas como "Sideline Story", "Cole World", e "Never Told", são sensacionais. Porém o que eu achei ouvindo esse álbum é que o J. Cole estava pegando elementos dos rappers que estavam fazendo sucesso naquela época e tentando incorporar ao seu próprio estilo, caras como Drake e o Jay Z, e acabou não ficando muito bom, não ajuda que os guest verses dos próprios Drake e Jay Z sejam bem merdas nesse álbum. Já dava para ver vários traços do que faria o Cole o ótimo rapper que ele é hoje, ele evoluiu bastante desse primeiro álbum para frente, e esse projeto em si não é ruim, bem longe disso, porém fica sendo o seu mais fraco pelo J. Cole ainda estar tentando se encontrar musicalmente e achar seu estilo único. Aliás eu queria deixar registrado que "Work Out" é bem ruim mesmo, consigo entender totalmente porque o Nas odiou.


Quarto Lugar - 4 Your Eyez Only


Eu sinto que o 4 Your Eyez Only tinha o potencial de ser o melhor álbum do Cole, mas ele é muito inconsistente. O rapper tentou colocar temas demais em um álbum que não é tão longo assim, tendo apenas 10 músicas, passando por temas como família, encarceramento em massa, racismo, respeito, o rap game, depressão, e mais um monte de coisa, com ele ziguezagueando de um tópico pro outro com pouca fluidez ou naturalidade, deixando o projeto todo com a sensação de ser "coisa demais". Outro problema do álbum é que tem algumas love songs, e o J. Cole não é o primeiro cara que se costuma procurar no rap quando se quer ouvir love songs, e por um motivo, simplesmente não parece natural ele fazendo isso. Ainda assim o álbum tem música ótimas que ficaram marcadas na carreira do rapper, como "For Whom The Bells Tools", "Ville Mentality", e principalmente a faixa- título que encerra maravilhosamente o álbum, apesar de ser uma música de 8 minutos é uma linda carta para a filha dele, que mostra o quão bom o Cole é em escrever letras, aliás esse é o grande ponto forte desse álbum, as letras estão no mais alto nível que o Cole consegue trazer. Se o Cole tivesse se focado apenas em uns 3 temas, e deixasse uma love song só no máximo, esse com certeza ia ser o seu melhor projeto, porém do jeito que o disco saiu completo acabou sendo um projeto médio, com o quarto álbum do rapper ficando também com a quarta posição aqui. 


Terceiro Lugar - KOD


Eu fiz uma critica sobre esse álbum logo quando ele foi lançado em 2018, e minhas opiniões sobre ele continuam as mesmas dois anos depois. Diferente do 4 Your Eyes Only, dá para dizer com certeza que esse álbum tem uma identidade própria, as batidas são todas no mesmo estilo, com aquele boom bap east coast anos 90, e dessa vez o rapper escolheu um tema e diferiu sobre ele, e o tema foi vícios, nas suas mais variáveis formas, com ele refletindo sobre o alcoolismo da sua mãe, falando sobre essa geração drogada de crianças fazendo rap, também sobre o vicio em dinheiro, em internet etc. Com ele abordando o assunto de vários pontos de vistas, inclusive na primeira pessoa, com esse personagem drogado chamado "Kill Edward" aparecendo para você ver a mente de um viciado do ponto de vista do viciado. Apesar do disco ser genial em questão de letras, e isso você sempre pode esperar do J. Cole, esse é de longe o álbum menos acessível do rapper, tanto pelas batidas bem fora do que faz sucesso, mas também pelo delivery dele, que sempre foi meu grande problema com esse álbum, com ele não variando muito no flow e parecendo bem monótono na grande maioria do disco, por isso até poucas músicas sozinhas desse projeto ficaram memoráveis, até "ATM" que é a música mais famosona do projeto já foi esquecida nos dias de hoje. No geral KOD é um projeto bem interessante, mas muito difícil de se aproveitar, vai depender do quanto você curte o estilo do J. Cole para curtir esse álbum. É engraçado reouvir "1985 (Intro to "The Fall Off")" e ver que tudo o que o Cole disse que aconteceria com o Lil Pump, realmente aconteceu, e nem demorou tanto tempo assim huehuehuehue. 


Segundo Lugar - Born Sinner


POR QUE NINGUÉM FALA DESSE ÁLBUM??? eu considero esse não apenas o álbum mais underrated da discografia do J. Cole, como um dos álbuns mais underrateds do rap moderno. 2 anos depois da sua estréia, Cole retorna, dessa vez bem mais maduro, bem mais focado, e com um estilo bem mais único nas rimas. Esse é o J. Cole mais agressivo que você vai ver em um álbum, ele já abre a primeira faixa com o pé na porta falando como esse projeto seria mais dark que os outros, e em seguida se comparando com Jay Z e Tupac, e dizendo que iria se juntar com os Illuminatis, você consegue sentir a fome do J. Cole em ser reconhecido como um dos melhores rappers da sua geração, ele inclusive lançou esse álbum no mesmo dia que o Yeezus do Kanye West para competir com ele. O álbum tem algumas das faixas mais clássicas do J. Cole, como a já comentada faixa que abre o disco "Villuminati", "Rich Niggaz" que tem uma das melhores batidas que eu já vi o Cole rimar em cima, "Ain't That Some Shit" que mostra que o Cole consegue fazer um rap ostentação dele ser divertido, "Crocked Smile" que tem um feat do TLC que encaixa perfeitamente com a vibe da música, e esse álbum é tão underrated que tem um feat do Kendrick Lamar em uma das únicas vezes em que esses dois estiveram em uma mesma faixa, com o K. Dot fazendo o refrão de "Forbidden Fruit". Porém para mim as duas grandes músicas desse álbum é a faixa- título que fecha o álbum voltando para a primeira música, criando assim um circulo que casa perfeitamente com todo o tema de "nascer um pecador", e claro "Let Nas Down", onde o Cole conta essa história sobre como o Nas odiou seu "single apenas pra vender" do primeiro álbum, e ele não acredita que decepcionou o fucking Nas, é uma ótima música de storytelling que mostra bem o crescimento artístico do J. Cole. Para quem vê o J. Cole full conscious rapper de hoje em dia, pode parecer meio estranho ver ele se gabar de todo o seu sucesso e chamar seus rivais de viados nesse álbum, porém você consegue ver todas as criticas que o rapper faz atualmente já nesse projeto, é como se esse fosse o link entre o Cole das mixtapes para o Cole mais atual. Esse álbum tem muitos acertos, poucos erros, e deveria ser bem mais comentado.



Primeiro Lugar - 2014 Forest Hills Drive


É claro que esse seria o primeiro lugar, para mim esse é o grande clássico que o J. Cole deixou no rap até agora, seu terceiro álbum lançado em 2014. Para mim esse é o primeiro álbum em que o Cole realmente encarna essa persona de "homem do povo" que fala sobre assuntos que todos podem se identificar, com ele saindo da figura do super rapper popular para virar esse cara que rima sobre coisas que todos passamos, com você conseguindo se relacionar facilmente com as tracks. Cole rima sobre sua infância, sobre seus objetivos na vida, sobre racismo, e sobre o rap game, não de uma forma tão agressiva quanto o Born Sinner mas ainda assim bem incisiva, como por exemplo quando ele questiona o favorecimento branco no rap, quando ele diz que provavelmente iria ver a Iggy Azalea ganhar um Grammy enquanto tentava forçar um sorriso, para então dizer que está apenas brincando, mas todas as piadas contém algo real, no que é uma das rimas mais impactantes que ele já fez. A verdade é que das 13 faixas que esse álbum tem, eu pegaria umas 6 ou 7 se eu fosse fazer um top 10 de músicas do Cole, a maioria das músicas nesse álbum são absolutos clássicos da carreira do J. Cole, músicas como "A Tale Of 2 Cityez" que além da batida incrível ainda tem uma performance vocal sensacional do Cole em flow e cadência, "Fire Squad" que tem essa rima da Iggy e a faixa toda é o Cole questionando toda essa disputa por ser "o rei do rap", e "No Role Modelz" que para mim ainda é a melhor música que o J. Cole já fez, todos os assuntos que ele toca junto com o clássico refrão de "don't save her, she don't wanne be saved", uma track 10/10. Além dos temas líricos e do flow incrível do Cole, a produção do álbum também é sensacional, a batida de "A Tale Of 2 Cityez" é tão foda que o Kendrick e o Coruja BC1 quiseram fazer um remix, e o J. Cole cuidou da maior parte da produção, o que é outro ponto positivo para ele. Quando esse álbum foi lançado ele fez um imenso sucesso, o que foi até surpreendente visto a promoção modesta que o J. Cole fez para ele, e apesar de muito elogiado ninguém colocava ele como clássico, agora com mais de 5 anos passados dá para dizer tranquilamente que é um dos grandes álbuns de rap da década de 2010. É o J. Cole no começo dessa sua fase conscious rapper mandando música foda atrás de música foda com um estilo único.


       
E esse é meu ranking dos álbuns de estúdio do J Cole até agora. Tendo em vista todos os versos convidados dele ano passado, junto com "Middle Child", e essa música nova, eu acho que o melhor álbum do J. Cole ainda esta a frente dele, e eu estou muito ansioso para ver esse projeto, tomara que saia realmente esse ano. Fique com a nova música do Cole, e até o próximo artigo.

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