Afinal de contas: o que o Igor Guilherme anda pensando?


O funk paulista passou por dias escuros. MC Kevin tinha virado o símbolo do funk paulista, o moleque marrento que ostentava, tirava onda e ainda fazia hit atrás de hit misturando funk e trap. Quando ele morreu, a cena entrou num luto silencioso. Os 4M, grupo que ajudou a construir essa estética, ficaram sem chão.

Ninguém sabia o que viria depois. Nem eles. Foi aí que surgiu MC IG, até então um nome mais underground, conhecido pelo hit "Três Dias Virado", mas ainda longe do topo.

O moleque quieto da Vila Ede botou o boné pra trás, entrou no estúdio com os parceiros e lançou um disco que mudaria tudo: "O que o Igor Guilherme anda pensando?"

Lançado em 24 de agosto de 2022, o álbum tem 13 faixas de pura arrogância poética, putaria desavergonhada, e críticas sociais no meio da ostentação. Uma bíblia do funk paulista moderno, escrita com beat seco, flow debochado e um personagem que virou referência: o negão comedor profissional de putas que agora anda blindado, ajuda os aliados e cospe na cara da mídia moralista.

Mas o que diabos o Igor Guilherme anda pensando?

O disco começa com uma cypher clássica de 10 minutos. Vários funkeiros se revezam rimando sobre festa, dinheiro, crítica social e a vida na quebrada. É o cartão de visitas do funk paulista atual e uma prévia do que o Igor Guilherme andava pensando.

Na sequência vem "Maloqueiro Visionário", com MC Kanhoto. Aqui os dois falam sobre vencer na vida vindo da periferia. A ostentação não é só vaidade, é conquista. A mensagem é clara: a quebrada venceu, e venceu com estilo.

"Pai de mulher feia" é quando o personagem principal do disco se estabelece de vez. Aqui o MC IG tráz a vibe desse disco que é sair por aí suaaaaaave e mandar ver com as do job porque ninguém é de ferro.


"Só era pix, não era amor" é uma das melhores do álbum. MC IG e MC Hariel mandam pedrada atrás de pedrada sobre interesseiras e corações gelados. O beat seco do DJ Boy encaixa perfeito, e o verso do Hariel rouba a cena fácil, talvez o melhor verso de todo o disco ao lado do verso do MC Neguinho do Kaxeta na primeira faixa.

"Esquadrilha da Fumaça" mantém a marra lá em cima. Funk de ostentação na medida, com destaque pro verso do MC PH, que domina o beat sem esforço.

"Terra da Garoa" traz um toque mais pessoal. MC IG fala sobre São Paulo, sua vivência, e os olhares tortos que recebe roletando de Porsche. Tem crítica social, mas sempre acompanhada da ironia, ingrediente que mais curto nesse álbum.

"Noite Paulista" talvez seja o maior hit do disco. Uma cypher com vários feats descrevendo a vibe das madrugadas de festa, álcool e putaria. Todo mundo manda bem, sem exceção. É por isso que virou um clássico na época.

"Sem gin, sem ela" é o lado mais melancólico do disco, mas sem choradeira. É término, sim, mas com o coração blindado e a postura firme. PH de novo entrega um verso pesado.

"Let's Let's Go" é basicamente o IG pegando seu verso da cypher viral "Let's Go" e lançando solo. Eu honestamente achei desnecessário, mas ainda assim encaixou bem aqui.

"Meia Noite" muda um pouco o clima. Aqui o IG flerta com o trap, apresenta o aliado Traplaudo e mostra que os 4M têm mais cartas na manga.

"Goodnight Menina" é hit. Som leve, clima de "se sentir saudades é só me ligar". Rola um charme de quebrada, aquele que todo mundo gosta.

"Vitorioso" é um grito de liberdade. MC IG deixa claro que venceu todas. Agora a coroa dele anda tipo Michelle Obama - com classe e respeito.

"Filha do Jornalista" fecha o disco com chave de ouro. Ele pega uma matéria sensacionalista da Record e transforma em hino. A crítica vira deboche. O moralismo vira piada. E no fim ele manda a real: toda patricinha no fundo quer sentar pro maloqueiro.


"O que o Igor Guilherme anda pensando?" virou um marco. Depois da morte do MC Kevin, os 4M estavam sem rumo. A cena parecia órfã. E de repente, surge esse disco. Um projeto simples na teoria, batida seca, versos irônicos, refrões curtos, mas que virou referência estética pro funk paulista dali em diante.

A galera entendeu rapidinho: era disso que o público queria. Rima direta, sem drama, com cheiro de gin barato e ego inflado. A estética do rap foi incorporada no funk de vez. Os beats secaram, os vocais ficaram crus, os temas variaram entre ostentação, putaria e trauma. Todo mundo tentando repetir a fórmula.

Mas nada conseguiu replicar a energia desse disco, nem mesmo o próprio MC IG, que fez vários discos depois replicando a fórmula, mas nada que encaixasse tão bem como nessa.

A verdade é que "O que o Igor Guilherme anda pensando?" não tem rimas super inovadoras, e nem nada do tipo. Mas o conjunto da obra se encaixa como nenhuma outra do gênero, é o que os jovens de hoje em dia chamam de AURA.

E analisando tudo isso fica fácil responder a pergunta do título desse post. Enquanto muita gente tenta parecer foda, o IG só vive como se já tivesse vencido.

E talvez, tenha mesmo.

Comentários

  1. Eu fui ouvir esse álbum inteiro agora por causa do seu artigo, claro que eu já tinha ouvido algumas das faixas por ai e realmente é interessante como ela ditou a estética paulista da periferia do funk. Pra mim esse álbum tem a vibe das barberias daqui onde os mlk faz tudo menos cortar cabelo, fica uma tv no canto com os funks do 4M o dia inteiro e a galera bebendo copo de gin e é A VIBE. Como vc falou os beats sao bem mais lentos e acho que essa foi a pegada perfeita pra estética do funk paulista, porque aqui a galera nao dança, nem as mina dança direito, é mais a vibe de tu ouvir na vibe ali enquanto fuma narguilé e grita os refrões. IG é monstro, adoro o estilo cantado arrogante dele, o cara consegue fazer uma coisa que tu sabe que é ele sempre que ele ta cantando. Ótimo artigo meu bom, finalmente o funk chegou na NWO.

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    1. Valeu mestre, meu sonho era o IG virar rapper de vdd, o disco anterior a esse é quase numa pegada de rap tem até feat do sandrão do RZO, liricamente é muito mais foda inclusive.

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