Esse mês o Eminem lançou o seu décimo segundo álbum intitulado The Death Of Slim Shady (Coup Of Grace), esse artigo não é uma Review do álbum, embora eu vá falar dele algumas vezes, mas esse álbum com essa temática é a desculpa perfeita para mim fazer um artigo que a tempos eu estou planejando, uma análise sobre o que era o Slim Shady e refletir se ele ainda funciona ou não nos tempos atuais.
Mas por que o Slim Shady foi tão popular tão rápido? Nessa parte eu só posso fazer suposições por ser literalmente um bebê enquanto o Eminem estava lançando seus primeiros álbuns, mas é uma teoria que eu acho muito coerente então sigam meu raciocínio. Imagine que você é um jovem que não gosta de música pop e aí você liga sua tv em qualquer programa de música aleatório e lá está o apresentador falando que todo mundo ama NSYNC e Britney Spears, e você odeia, então chega esse cara com cabelo descolorido falando que ele também odeia odeia NSYNC, ele odeia todo mundo que se veste e se comporta igual eles e acha uma merda essa música pop toda, pronto, uma parte gigantesca da população jovem que odeia coisas "modinhas" tinham ali um cara dentro do Mainstream falando mal do Mainstream e sendo um expoente de todo esse grupo de pessoas. E esse é o primeiro ponto do por quê que é estranho a ideia de um Slim Shady nos tempos atuais, porque hoje em dia a internet deu uma voz para todo mundo, se você não gostar do novo álbum da Billie Eilish você pode ir para qualquer rede social e expressar sua opinião e as pessoas vão concordar, discordar ou ignorar você, mas isso não era uma realidade em 2000 quando a mídia estava tentando forçar as pessoas que todo mundo amava a Cristina Aguilera ou qualquer popstar da época. Também temos que pensar que o início dos anos 2000 foi a época em que a contra cultura e revolta contra o status quo teve um grande ápice na mídia, filmes como Clube da Luta e Matrix e desenhos como South Park surgiram na mesma época em que o Slim Shady.
E isso nos leva a discussão de se a personagem do Slim Shady faz sentido nos tempos atuais e sobre o que esse último álbum do Eminem agregou para a discussão. Primeiro eu acho que anti heróis na música é algo meio ultrapassado, e eu não consigo muito explicar a razão mas é uma gimmick que todo mundo parece cansada, antes todos os grandes atos do pop tinham essa fase na carreira em que eles ficavam maus, mostravam seu lado sombrio, bad boy ou bad girl, mas não parece mais algo que é feito ou que as pessoas ligam nos dias de hoje. O Eminem era o grande bad boy dos anos 2000, eu conseguia ver as pessoas se identificando com ele durante a minha adolescência nos anos 2010, eu mesmo já descolori o cabelo por causa do Eminem quando eu era adolescente e estava descobrindo o rap através das músicas antigas dele, e claro que vai ter uma geração que vai se inspirar nele agora, mas para o Mainstream eu não acho que o Slim Shady ainda consiga ter o efeito que ele já teve porque a gente vive no bad ending em que todo mundo é o Slim Shady, todo mundo pode abrir o twitter e ser a sua pior versão e criticar basicamente tudo e teremos longas discussões que não vão levar a lugar nenhum sobre opiniões de pessoas que não conhecemos, então nesse ponto a personagem venceu, mas ao mesmo tempo se tornou obsoleta por não ser mais a voz de um grupo por esse grupo já ter voz atualmente.
Então vamos do início: quem é Slim Shady? Ele é um alter ego do Eminem que apareceu primeiro no seu EP de nome The Slim Shady EP, esse foi o projeto que chamou a atenção do Dr. Dre que investiu nele para criar seu primeiro álbum The Slim Shady LP. Basicamente o Slim Shady é tudo de ruim na cabeça do Eminem, ele é um sociopata alcoólatra e drogado que curte matar pessoas e cometer todo tipo de crime e ofender todas as minorias possíveis, mas toda essa violência é feita de maneira cômica, a maioria das músicas em que esse personagem é o foco principal é construída para ser tão over the top que ela fica engraçada, como uma violência cartunesca igual um filme do Quentin Tarantino, claro que tem algumas músicas em que a violência causada por essa persona é tratada de maneira séria mas aí é algo mais puxado para o horrorcore que o Eminem sempre foi muito fã, e essas músicas sérias tem um tom completamente diferente tanto no flow do rapper quanto no tom geral da música.
O Slim Shady se tornou um fenômeno instantâneo dentro do rap, a primeira música do Eminem que explodiu foi "My Name Is" que é basicamente esse personagem se apresentando para o mundo e falando de maneira cômica todas as atrocidades que ele andava fazendo no seu tempo livre com a sua linha inicial icônica "olá crianças, vocês gostam de violência?". As outras duas músicas que estouraram muito desse LP é "Role Model" e "Just Don't Give a Fuck", outras duas músicas focadas nessa personagem. No seu segundo álbum o Em investiu ainda mais nessa persona com o seu single "The Real Slim Shady" sendo um sucesso ainda maior do que "My Mame Is", e a fórmula foi se repetindo nos seus próximos álbuns, com o Slim Shady sendo o carro chefe dos seus singles enquanto o Eminem mais sério aparecia nos deep cuts das faixas.
Outro ponto que eu acho que se perdeu na interpretação de todo mundo sobre o Slim Shady, tanto dessa geração quanto da geração que pegou o auge dele, é que esse personagem sempre foi polêmico, não é como se agora as pessoas não estivessem entendendo a piada, muita gente já achava o personagem de mal gosto na época, ele foi acusado de homofobia e misoginia já em 2000, com muitos grupos protestando abertamente sobre ele, muitos artistas pops que foram alvo das suas músicas falaram que se sentiram ofendidos, e o próprio rapper tinha consciência disso no seu início de carreira, inclusive uma das suas maiores músicas no seu segundo álbum "Stan" que é basicamente toda uma reflexão sobre como esse personagem poderia afetar negativamente uma pessoa que já estava com a sua saúde mental afetada, é talvez a música mais bem escrita do rapper e já era ele mostrando autoconsciência do que esse tipo de música poderia causar em 2000.
Então quando todo esse papo de "a geração Z está querendo cancelar o Eminem", "o Eminem é incancelaval" e todo esse blá blá blá pra mim parece só que as pessoas da geração Z estão odiando outras pessoas da geração Z mas elas mesmas não ouviram Eminem ou pelo menos elas idealizaram algo sobre o Slim Shady que não aconteceu nem no auge dele.
Sobre o álbum eu achei digno para a despedida desse alter ego, o jeito que o Eminem escreve em forma de sonhos em que o Slim Shady está tentando se manifestar basicamente fazendo a clássica dinâmica do ID (Slim Shady), Ego (Marshall Mathers) e Superego (Eminem) que ele parece gostar bastante de utilizar, ele faz você imaginar essa situação ocorrendo dentro da sua mente com a lírica afiada dele, e tudo culmina muito bem em "Guilty Conscience 2" com uma conversa dos dois sobre o que o Slim ajudou na carreira do Eminem fazendo ele ganhar toda essa fama e todo esse dinheiro mas quanto ele também prejudicou fazendo as pessoas quererem apenas isso vindo do Eminem, com o artista ficando preso a essa persona até os dias de hoje quando ele está com 50 anos e tem que agir como seu alter ego de 20, é uma música justa, ela trás bem todos os pontos contra e a favor da personagem e fecha bem esse ciclo dele. Toda essa parte do Slim Shady é muito boa mas como um álbum completo esse álbum do Eminem tem todos os defeitos que todos os álbuns dele tem desde o Encore, músicas desnecessárias que quebram totalmente a vibe da história principal, músicas para a Hailie que eu particularmente estou ficando mais e mais de saco cheio com o passar dos anos, Skylar Grey, e tentativas de hit de brincadeirinha que pra mim já perderam a graça a bastante tempo. Então é um álbum bom sobre o Slim Shady com um monte de coisas que faz todos os álbuns do Eminem pós 2010 não conseguirem virar clássicos porque ele parece conhecer apenas um jeito de montar um álbum e esse jeito não funciona mais.
O problema com o Eminem e com toda a fanbase dele é que eles realmente não conseguem deixar o passado ir, parece que o rapper ficou preso nos tópicos que ele abordou nos seus três primeiros álbuns e ficou repetindo e repetindo eles, mas ao mesmo tempo é o que os fãs dele querem, eles adoram músicas sobre a mãe dele, ou a ex esposa, ou beber e usar drogas mesmo que o Eminem esteja sóbrio a 10 anos, tanto que quando o Eminem fez Relapse que para mim é o seu projeto mais criativo desde o The Eminem Show a própria fanbase dele criticou, inclusive esse álbum traz uma visão muito mais sombria e séria do Slim Shady como um serial killer/entidade demoníaca que eu particularmente acho bem mais interessante do que a maioria das músicas dele pós 2013. Isso fez com que o Eminem se limitasse criativamente naquele período de 1999 a 2003 que foi o auge dele e da sua persona, eu adorei "Houdini" mas ela é apenas um remake de uma música clássica bem melhor do Eminem, quase como um rockstar refazendo uma turnê com suas músicas antigas, e eu particularmente queria algo novo como single. Até nesse álbum tem uma música dele falando sobre a mãe e sobre todo essa coisa da infância dele, não tem mais o que se tirar desse material. Então eu espero que a morte do Slim Shady nesse álbum signifique a evolução da maturidade como artista do Eminem, em algum momento a música de um artista vai ter que ser mais do que apenas a sua persona musical. O Eminem é um dos melhores rappers da história e eu adoraria saber o que está acontecendo com ele agora e não a 25 anos atrás. Então sobre a morte do Slim Shady eu digo: antes tarde do que nunca, ele foi com uma ótima despedida, e que o Eminem agora consiga olhar para a frente.
E esse foi o artigo de hoje, falar sobre o Slim Shady e tudo o que essa personagem significou e significa para a cultura pop estava nos meus planos a muito tempo, eu tive que alterar algumas coisas por causa do novo álbum mas na real eu acho que o artigo ficou até melhor depois do disco. Eu deixo vocês com a minha música favorita do The Death Of Slim Shady e nos vemos no próximo artigo.
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