St. Anger, o fim do auge do Metallica

Recentemente o Metallica lançou seu décimo primeiro álbum chamado 72 Reasons, eu ainda não ouvi o álbum, um pouco por preguiça e um pouco por não estar na vibe ainda mas a conclusão geral sobre esse álbum parece ser que ele é um álbum ok, nada excepcional só ok... e essa foi a minha impressão com o último álbum antes desse de 2016... e com o anterior de 2008, e isso me fez pensar "lembra quando o Metallica não fazia apenas álbuns oks??? lembra quando eles faziam álbuns excepcionais??? o que aconteceu???" e todos nós sabemos o que aconteceu, St. Anger aconteceu, e hoje eu vou falar sobre esse que é um dos maiores desastres da história da música mainstream.


O Metallica tomou a cena do thrash metal de assalto nos anos 80 com seus três primeiros álbuns que foram definidores do gênero e continuam até hoje em listas de melhores álbuns da história do Metal. Do final dos anos 80 para o começo dos anos 90 a banda começou a experimentar sons mais melódicos e baladas longas o que foi o suficiente para que eles fossem acusados pela cena de heavy metal de "se venderem" mas isso não importou muito para eles visto que a popularidade da banda aumentou mais e mais até o ponto em que eles não eram apenas uma banda famosa de metal mas sim artistas famosos para a música toda, parecia que tudo estava dando certo para o Metallica, e ai vieram os anos 2000. Em 2001 o baixista da banda desde o And Justice For All Jason Newsted abandonou a banda basicamente porque ele não aguentava mais ninguém ali. Em Julho do mesmo ano o vocalista James Hetfield foi para a reabilitação por causa do seu vicio em álcool atrasando um pouco mais o andamento desse novo projeto. E além dos problemas pessoais da banda a cena do metal havia mudado muito na virada dos anos 2000, baladas de heavy metal não estavam mais em moda, agora era a era do nu metal, quem estava fazendo sucesso era o Limp Bizkit, o Slipknot, o System of a Down. Então com esse novo álbum a banda tinha dois objetivos: se adequar ao som novo que estava sendo tocado na cena, e apresentar esse novo Metallica com o James Hetfield sóbrio enfrentando seus demônios, parece uma ótima premissa para um álbum certo??? parece, mas o resultado foi bem diferente de algo bom. 
  

Sempre que eu ouvi falar desse álbum a primeira coisa que todo mundo comentava era sobre a bateria, como ela estava horrível no álbum, como era impossível ignorar o quão ruim ela era e coisas do gênero, então a primeira vez que eu fui ouvir St. Anger eu fui esperando o pior e eu vou dizer, a bateria é ainda pior do que eu esperava. O Lars por algum motivo usou um timbre na bateria super agudo na caixa, o que faz com que pareça que ele esta batendo em uma lata de tinta, e é assim o álbum todo, todas as músicas tem um estridente "tum tum tum" e é a coisa mais irritante do mundo. Eu vejo muita gente defender a tese de que se a bateria estivesse normal o álbum seria aceitável e as pessoas gostariam mais, e não, a bateria de lata de lixo ridícula do Lars não é a única coisa errada com esse álbum, e já vamos falar das outras coisas, mas de longe ela é a mais distrativa, é impossível escutar esse álbum sem ficar incomodado com aquele som o tempo todo de fundo, parece que ele ta batendo na sua cabeça. Os membros da banda já deram várias entrevistas tentando explicar o motivo dessa escolha nas baterias mas pra mim é bem óbvio que eles estavam tentando embarcar na onda do nu metal, bandas como Slipknot e Korn usavam muita percussão nos seus primeiros álbuns e isso fazia sucesso, então o Metallica tentou dar a impressão de uma percussão ali e o resultado é uma bateria tão ruim que as pessoas usam como meme até hoje. Outra decisão equivocada da banda tentando seguir a moda da época foi não deixar o guitarrista Kirk Hemmett fazer nenhum solo de guitarra durante o álbum, sendo que o Kirk é conhecido pelos seus incríveis solos de guitarra, é o grande ponto forte dele, tirar os solos do Kirk faz esse álbum parecer que poderia ter sido tocado por qualquer outro guitarrista visto que ele não tem riffs memoráveis e nenhum momento que dá pra se lembrar que tem uma guitarra ali.   


Mas não é apenas o instrumental desse álbum que é ruim, um dos maiores problemas desse álbum se chama James Hetfield. Como eu disse antes ele foi para a reabilitação em 2001 e a maior parte do conteúdo lírico desse disco é sobre ele enfrentando seus demônios do passado, o que seria ótimo... se ele soubesse escrever letras sobre isso, mas esse álbum mostrou que ele não sabe. A maioria das letras de St. Anger são frases soltas sem muita continuidade sobre elas, na verdade o Metallica nunca foi conhecido por letras excepcionais, porém o instrumental unido com a voz visceral do James fazia com que as músicas fossem porradas na sua cabeça, mas aqui o instrumental ta horroroso com uma produção crua, forçando você a prestar atenção nas letras que não tem sentido nenhum, e para piorar tudo o James por algum motivo resolveu tentar explorar mais o vocal dele aqui, saindo completamente do seu timbre normal e criando uma voz que simplesmente não combina com ele. Não tem exemplo dentro do álbum melhor sobre essa confusão lírica do que na música mais famosa e que dá nome ao álbum, a ideia da música é sobre um santo da raiva, com o vocalista explorando seus próprios problemas de raiva causados pelo alcoolismo, só que essa ideia de um santo da raiva nunca tem uma conclusão na própria música com o vocalista apenas repetindo "você afunda" e "ele não tem nenhum respeito", e a música só se repete e repete, na verdade esse é outro grande problema gigante com o álbum: o tamanho das músicas. O Metallica já é conhecido por fazer faixas longas mas pelo menos essas faixas tinham partes identificáveis, St. Anger não tem nenhuma música abaixo de 5 minutos dentro do disco e se você cortar todas as músicas pela metade elas funcionam da mesma forma, ou melhor não funcionam mas pelo menos elas seriam curtas. O álbum todo tem mais de 1 hora e as músicas que não são singles parecem todas a mesma coisa, elas tão mais ou menos no mesmo tempo e não tem nada que diferencie uma da outra, você literalmente pode pegar uma parte de "Invisible Kid" e encaixar na metade de "Purify" e a maioria das pessoas não perceberia que são duas partes de duas músicas diferentes.


Mas eu sei o que você esta perguntando "existe alguma coisa boa nesse álbum???" bem, eu lembrava de gostar muito de "Some Kind Of Monster" quando eu era pré adolescente, foi uma das primeiras músicas do Metallica que eu ouvi e eu lembro de achar ela super complexa e interessante, escutando ela anos depois eu admito que ela fica bem pior no contexto do álbum todo, mas eu ainda passo pano pra ela. É uma música que tem partes identificáveis diferente das outras, ela tem um riff memorável e uma letra que é vaga mais no sentido bom descrevendo esse tipo de monstro que pode ser tanto literal quanto algo interno. Então "Some Kind Of Monster" não é uma obra de arte nem nada do tipo mas ainda é uma música que eu acho que funciona para a proposta do álbum. As pessoas parecem gostar também de "Sweet Amber" por ter uma letra um pouco mais focada falando dos problema de alcoolismo do James Hetfield usando a dinâmica de uma relação com uma namorada como metáfora, o timbre do James está mais próximo do que costuma ser e o instrumental está até decente. Eu acho que a música acaba sofrendo com a duração de 8 minutos mas no geral é uma música decente que com uma produção melhor poderia aparecer em outro álbum do Metallica e ser uma daquelas músicas underrateds.

Assim como o Oasis quando o Metallica lançou o St. Anger em 2003 eles eram grandes demais para falhar e a critica não soube como reagir a esse álbum, então eles elogiaram a coragem da banda em explorar novos territórios e como eles pareciam voltar para o underground do metal. Comercialmente o álbum foi um sucesso também, ele estreou em primeiro em 30 países, colocou o Metallica no topo das paradas novamente, só que esse sucesso foi o começo do fim para a popularidade da banda no mainstream, porque quanto mais pessoas compravam o álbum e quanto mais elogios ele recebia mais as pessoas escutavam o álbum e começavam a perceber a bagunça que aquilo era. Isso fez o St. Anger ir de um completo sucesso no ano em que ele foi lançado para hoje ser considerado pela critica como um dos piores álbuns de todos os tempos. Os fãs de banda quase universalmente concordam que esse é o pior disco que o grupo fez ao ponto em que em 2009 todas as músicas de St. Anger saíram completamente da setlist de shows do Metallica com eles tocando alguma faixa do álbum em raras ocasiões de lá pra cá. Ainda assim existem uma parcela muito pequena de fãs do Metallica que defendem o álbum pelo quão cru e visceral ele é, defendendo as letras sem sentido e a produção ruim como proposital para passar o sentimento de raiva que é a proposta geral do disco, e eu espero que Deus abençoe todas essas pessoas mas eu não consigo ter outra opinião sobre esse álbum a não ser que essa é uma das piores coisas que qualquer artista mainstream já lançou em toda a história.

Como eu escrevi no inicio desse artigo o Metallica retornaria com um álbum "de volta a forma" em 2008 chamado Death Magnetic, que foi um álbum ok, e assim tem sido para a banda desde então, lançando álbuns oks. O Metallica continua uma força gigante dentro do mundo do metal, as turnês deles vendem para caralho e eles parecem bem longe da aposentadoria, mas o ponto é que o Metallica antes de St. Anger não era grande para o metal, eles eram uma força gigante dentro da música, eles apareciam em premiações de música, eles estavam lá no topo com os maiores nomes do pop em números de vendas, e depois do St. Anger eles se limitaram a ser apenas mais uma grande banda de metal, mas pelo menos eles nunca fizeram algo tão ruim quanto esse álbum... exceto claro em 2011 quando eles se juntaram com o Lou Reed para fazer o que eu considero o pior álbum colaborativo de toda a história, mas isso vai ficar para outro artigo. 

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