The Game facilmente está na lista de 20 melhores rappers de todos tempos. Seus inúmeros flows junto com a sua habilidade de fazer punchlines inteligentes e engraçadas unidos na sua persona de membro de gangue de Los Angeles fez dele um dos maiores nomes do hip hop nos anos 2000. Porém diferente de nomes como Eminem e 50 Cent, Game nunca conseguiu manter a grandeza do seu início de carreira e se certificar como uma lenda do rap. Isso não teve nada a ver com a sua habilidade de rimar, o rapper continua a criar músicas muito boas e a mostrar sua criatividade em barras, como visto no seu Freestyle em 2022. Na realidade Game nunca se estabilizou no mainstream do rap pelo tanto de tretas que ele arrumou e o tanto de pontes que ele queimou dentro da indústria da música. E hoje eu vou falar de algumas delas.
O nome de Game já estava gerando um buzz em 2002 quando ele junto com o seu irmão Big Fase lançou a mixtape You Know What It Is Vol 1. Essa foi a mixtape que chamou a atenção de muitas gravadoras de rap, incluindo a Aftermath de Dr. Dre, que imediatamente assinou com Game em 2003. Dre tinha um plano genial para trazer hype para o nome do seu novo contratado, juntar ele com o seu novo ato de sucesso, 50 Cent, que em 2003 era a grande surpresa do mundo da música fazendo números recordes com o seu Get Rich Or Die Tryin', foi assim que Game entrou para o grupo de 50 a famosa G- Unit, aparecendo inclusive no clipe de In Da Club sendo um dos caras na festa. Depois de passar 2004 aparecendo nos projetos da G- Unit e botando seu nome no mapa do mainstream do rap Game lançaria seu álbum de estréia em 2005 o clássico The Documentary, com produção do Dr. Dre e 50 Cent, o álbum foi um sucesso imediato estreando em primeiro na Billboard, gerando dois dos maiores clássicos dessa era do rap "How We Do" e "Hate It Or Love It". e na minha opinião esse é um dos 5 melhores álbuns de rap dos anos 2000, ele continua sensacional até hoje. Parecia que Dr. Dre tinha acertado mais uma e o sucesso do seu novo protegido seria imparável, porém já nessa época o rapper mostrava o seu pavio curto e o seu amor por caçar tretas. No meio da promoção para o seu álbum Game xingou o Jay- Z, arrumou briga com DJs de rádios e começou a citar mais e mais nomes de rappers que ele não gostava em entrevistas. Foi durante essa época que o relacionamento entre Game e o 50 Cent começou a desandar, com o rapper de Los Angeles se recusando a dar crédito pela ajuda de 50 Cent nas músicas do seu álbum, alegadamente escrevendo 6 delas incluindo os dois maiores hits, e também se recusando a ajudar o 50 nas tretas em que a G- Unit estava envolvida na época com Jadakiss e Fat Joe, com ele dizendo publicamente que não tinha nenhum problema com esses dois rappers. A relação entre os dois foi ficando mais e mais antagônica até o momento em que em uma entrevista de rádio 50 Cent declarou publicamente que Game não era mais parte da G- Unit, com a sua saída sendo oficializada em 2005 e assim as diss Tracks e provocações começarem. Game lançou a lendária diss de 14 minutos "300 Bars And Runnin" basicamente atacando toda a G- Unit um por um no que é considerado um clássico das diss tracks. Game e a G- Unit continuaram a se insultar através dos anos em mais de 100 Tracks combinadas, porém embora na época Game tenha sido considerado o vencedor da treta muito por 50 Cent não ter se envolvido tanto por causa do seu segundo álbum The Massacre que estava em produção, Game tinha um grande problema, por causa de toda essa treta agora ele não poderia mais trabalhar com os 3 maiores nomes do rap na época, Dre, 50 e Eminem.
Parecia que apesar da turbulência nesse começo de carreira The Game continua imparável, em 2006 ele lança seu segundo álbum Doctor's Advocate, outro álbum sensacional que apesar de não ter sido produzido pelo Dre como era o plano antes ainda estreou em número 1 na Billboard, porém uma falha do The Game é a sua deficiência em escrever bons refrãos, o 50 escreveu ambos os refrãos dos seus dois grandes hits e embora esse segundo álbum tenha sido um sucesso de vendas ele não produziu nenhum hit ao nível de "How We Do" muito provavelmente porque não tinha a mágica do Dre nós beats e a capacidade do 50 de escrever hooks memoráveis. De 2006 pra frente Game passaria a ser conhecido como um ótimo rapper que se preocupava mais em colecionar tretas do que fazer grande singles, de 2006 até 2010 ele continuaria a atacar a G- Unit em inúmeras tracks assim como o Jay- Z, que por sinal nunca disse nada dele, e Suge Knight, que lembrando não é rapper. Na verdade essa era uma crítica que era feita desde o começo da carreira do rapper, como ele citava nomes de outros rappers aleatoriamente, mas como a sua música era muito boa essas críticas não eram tão contundentes, mas com o tempo foi ficando muito exaustivo a quantidade de vezes que ele citava nomes de Mc's aparentemente sem motivo. A coisa escalou ao nível que em 2014 durante uma treta entre o Lil Durk e Tyga que não tinha nada a ver com ele Game se posicionou do lado do Tyga e atacou o Durk em uma música, nesse mesmo ano ele escreveu uma diss para a classe de freshmans da XXL inteira daquele ano só porque sim.
Em 2016 temos outra gigante treta do rapper, dessa vez com Meek Mill. Essa é uma briga com tantos personagens e com tantos lados que eu precisaria de um artigo próprio só pra explicar ela, mas no resumo The Game, Meek Mill e o Sean Kingston (sim, aquele do "Beautiful Girls") estavam em um mesmo clube em Los Angeles, o Sean acabou sendo roubado na saída desse clube, e na versão do The Game o Meek Mill falou para o Sean que foi o Game que armou para ele ser roubado, enquanto na versão do Meek Mill ele não falou nada disso e o The Game estava apenas querendo chamar atenção com essa treta para o seu novo álbum 1992, que ele lançaria naquele mês. Isso fez os dois se provocarem no Instagram exaustivamente até que o Meek Mill participou com um verso em um remix de "OOOUUU" da Young M.A com Omelly e Beanie Seagal, outros inimigos do The Game, em uma diss pra ele. E foi aí que o Game respondeu com "Pest Control", uma diss de quase 6 minutos usando o mesmo beat de "OOOUUU" que o Meek usou. E novamente a caneta do The Game se mostrou assassina aqui, é uma diss matadora que pega em todos os pontos fracos do Meek Mill, porém mais uma vez não tem como pensar que talvez o Meek estivesse com um pouco de razão quando ele disse que o The Game fez essa diss pra chamar atenção pro seu álbum, considerando que até clipe ele gravou pra essa diss, quem grava clipe pra diss track em pleno 2016? Ainda mais que o Meek Mill não parecia nem um pouco interessado nessa briga, admitindo que só fez o verso no remix de "OOOUUU" atacando o The Game porque os outros Mc's tinham escrito sobre esse tema, e logo depois os dois se resolveram e ficaram na paz com eles até aparecendo nos projetos um do outro.
E isso tudo leva a última "briga" do The Game até agora que foi a razão para eu escrever esse artigo em primeiro lugar, a sua diss para o Eminem. Em Agosto de 2022 como parte da promoção do seu novo álbum duplo chamado DRILLMATIC Heart vs. Mind Game lançou uma diss track chamada "The Black Slim Shady" para o Eminem e ela é HORROROSA. Basicamente a música são 10 minutos do Game imitando flows e cadências do Eminem enquanto fala nada com nada, ele não dá nenhuma justificava da razão pela qual ele está fazendo essa diss ou por que ele não gosta do Eminem, é basicamente uma música filler. E a coisa mais vergonhosa é que é muito óbvio que ele fez essa diss só pra chamar atenção pro álbum dele, já que inúmeras vezes no passado ele mostrou respeito pelo Eminem como um dos melhores rappers de todos os tempos e em 2017 inclusive colocou ele na sua lista de melhores rappers vivos, e o próprio Eminem nunca falou absolutamente nada sobre o The Game na sua carreira toda, então isso foi completamente do nada com o Game sabendo que o Eminem nem se daria ao trabalho de responder essa diss. Nas entrevistas que ele deu para promover o álbum ele até tentou justificar falando que iria desafiar o Eminem porque o 50 Cent não sabe rimar, e que queria um pouco de competição pra ver quem era o melhor e a justificava mais ridícula de todas: ele ter ficado bravo que o Dr. Dre não chamou ele pra performar com ele no Super Bowl mas arrumou espaço para um cara branco, o que é completamente ridículo de se pensar considerando a relação entre o Game e o 50 Cent que estava no Super Bowl do Dr. Dre. E o mais triste de tudo é que esse álbum de 2022 do The Game ainda é muito bom, se ele não fosse uma pessoa tão controversa dentro do próprio círculo do rap ele facilmente conseguiria buzz apenas com a qualidade desse álbum, mas nem com essa palhaçada de diss pro Eminem ele conseguiu alguma atenção já que o álbum estreou apenas no número 12 na Billboard sendo esse o debut de menos sucesso da carreira toda do rapper.
The Game continua sendo um ótimo rapper, eu ouvi a maioria dos seus álbuns e não dá para dizer que ele tem um disco abaixo da média, especialmente o seu lançamento de 2019 Born 2 Rap que eu achei muito bom, mas todas as brigas que ele arrumou na sua carreira queimaram muitos pontes do que poderia ter sido uma carreira de muito sucesso no mainstream, se ele tivesse se mantido com o Dr. Dre poderíamos ter tido um rapper ainda maior do que o 50 Cent com um auge ainda mais longo, visto que pra mim ele é um rapper bem mais versátil que o Fifty, mas ao invés disso nós tivemos o The Game da atualidade: um cara com um ego super frágil que não perde tempo em entrar em qualquer briga de rap que ele vê e faz qualquer coisa pra ter um pouco de atenção a mais nos seus lançamentos, e que infelizmente vai ser sempre rotulado como mais um rapper subestimado.
E essa foi a história de como o The Game sabotou a sua própria carreira de sucesso. Ultimamente eu ando (re)escutando muito rap dos anos 2000, então provavelmente os próximos posts do blog vão ser sobre essa época. Até lá fiquem com a minha música favorita do The Game e nos vemos no próximo artigo.
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