Whole Lotta Red e a arte do álbum divisivo


Playboi Carti é sem dúvida uma das figuras mais interessantes do rap atual, até hoje eu não sei se as pessoas legitimamente gostam dele, ou é tudo uma grande piada interna onde todo mundo ta sendo sarcástico sempre que o nome dele é envolvido, porque não parece ter um motivo para gostar desse artista, é um cara que canta letras genéticas sobre sexo e assassinato com uma voz de criança, esse é todo o apelo dele, porém ainda assim tem algo de interessante sobre esse rapper de Atlanta que faz com que as pessoas deem atenção para ele. O Whole Lotta Red parecia um daqueles muitos casos de álbuns mitológicos que foram prometidos, entraram em um inferno de desenvolvimento, e nunca foram lançados, já que ele estava prometendo esse álbum desde 2018. Porém não foi um desses casos, Whole Lotta Red foi lançado oficialmente no dia 25 de Dezembro de 2020 (sim), e das primeiras horas até as próximas semanas, só tinha uma coisa clara sobre esse álbum: ninguém sabia como lidar com ele.

Playboi Carti sempre foi um rapper conhecido por conseguir muita atenção fazendo o mínimo possível, suas letras são a coisa mais genérica que você vai achar no rap, seus flows não são nada demais, e apesar da sua voz ser uma coisa diferente, não é algo que outros não façam melhor dentro do próprio rap, com o rapper sendo conhecido mais pela atmosfera que ele traz com os beats que ele escolhe do que por algum talento próprio, ainda assim Carti tem algo a seu favor: ele sabe fazer hits, o rapper entende que tipo de música vai fazer sucesso com o público atual do trap e traz exatamente o que o público quer, por isso seu álbum de 2018 Die Lit é um dos mais memoráveis desse subgênero, porque é cheio de hits estúpidos e nada mais, então eu entendo a confusão de todo mundo com esse álbum, ainda mais os próprios fãs do Carti, Whole Lotta Red não tem quase nenhuma música que possa ser um potencial hit do rapper, pelo contrário, o álbum é dark, traz bem pouco daquele espirito animado que o Carti normalmente apresenta nos seus trabalhos, a voz dele aqui não é aquela de criança, ela ta enterrada embaixo da produção pesada do disco, parece que a mixagem ta toda errada, e todo o álbum tem uma vibe totalmente underground, como se fosse uma demo inacabada, como se não fosse para você estar escutando aquilo. De começo você pode pensar que esse é o Playboi Carti sendo o rapper preguiçoso de sempre que ele é, pegando as batidas de qualquer jeito, gravando seus vocais de qualquer jeito, mal mixando qualquer coisa e chamando de álbum, porém por outro lado quando você olha a capa do álbum, inspirado na revista Slash, que foi uma revista sobre estilo de vida punk dos anos 70, você pode acreditar que tudo isso é de propósito, o Playboi Carti sempre foi um artista focado na vibe dos projetos, e esse álbum tem a vibe de algo underground e hardcore que foi gravado no pior estúdio possível no começo do que viria a ser a onda punk na música, na verdade toda a sonoridade desse disco me lembra muito o lendário álbum The Velvet Underground e Nico, no sentido de como as músicas soam. As duas interpretações são válidas, e talvez as duas sejam verdade. 

A diferença de um álbum divisivo para um álbum normal, é que em um álbum normal você normalmente consegue ver o que tem de bom ali, por mais que você não goste, enquanto o álbum divisivo ou você entende ou você não entende, é 8 ou 80, eu não entendi Yeezus até hoje e acho que nunca vou entender, mas Whole Lotta Red, eu entendi de primeira. O Carti poderia fazer Die Lit de novo e todo mundo amaria, o trap não mudou quase nada de 2018 pra cá, a fórmula para você fazer um hit dentro do rap é a mesma, mas ele foi na direção oposta, fazendo algo totalmente dark e experimental, um tipo de som que as pessoas não estavam esperando e que obviamente ia pegar todo mundo de surpresa, tentando levar o trap para a próxima coisa, pegando grande inspiração no punk rock e no heavy metal dos anos 70. Então, Whole Lotta Red é bom??? eu não sei, eu nunca soube o que faz o Playboi Carti bom, quando mais o que faz um álbum dele bom, tudo que eu posso dizer é que eu acho esse álbum a coisa mais criativa que o rapper fez até agora, não é fácil pegar uma sonoridade do passado e incorporar em algo moderno, ainda mais quando tudo que seu público quer de você é hit bobo com voz de criança, mas o Carti tomou o risco, e isso já é motivo para mim aplaudir ele.

Entao Whole Lotta Red será esse game changer que ele veio para ser??? isso só o tempo vai dizer, tem inúmeros exemplos de álbuns que foram massacrados pela critica e se tornaram grandes clássicos no futuro, e álbuns que foram extremamente elogiados que depois as pessoas viram que na verdade eram grandes fracassos musicalmente, e o Whole Lotta Red consegue ser os dois, ele foi elogiado, condenado, e no geral as pessoas não aprecem entrar em um consenso sobre esse disco, tudo o que eu posso garantir é que daqui a 1 ano nós fãs de rap/trap ainda vamos estar discutindo sobre Whole Lotta Red, se ele foi tudo isso mesmo, se ele influenciou em alguma coisa dentro do game, ou se ele foi apenas mais um álbum do Playboi Carti cheio de esquisitices, e se a intenção do rapper era trazer ainda mais atenção para si mesmo, podemos dizer que ele teve 100% de sucesso nisso, vamos lembrar que esse foi o seu primeiro álbum a pegar o primeiro lugar na Billboard. E assim, no fim do dia nós todos podemos concordar que o verso do Kanye West ficou FIRE em "God2DaMoon" e o Playboi Carti fazendo adlib por cima dos hummings do Kid Cudi em "M3tamorphosis" é A VIBE. 

E esses são meus pensamentos sobre o Whole Lotta Red, eu vou deixar aqui a critica que o canal Volksgeist fez para o álbum, que para mim de longe foi a melhor, ele falou tudo que eu queria ter dito e analisou o disco da forma mais imparcial possível, eu não concordei com tudo que ele disse, mas foi a critica que eu mais concordei das que eu vi, então nada mais justo do que eu encerrar esse artigo com ela, até o próximo artigo.

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