Marilyn Manson: Do Pior ao Melhor


Marilyn Manson é para mim um dos artistas mais interessantes que já apareceu no rock/metal, não só por toda sua identidade visual, e toda a sua personalidade confrontativa, mas também pela sua música. Ao longo dos 10 álbuns a banda passeou por inúmeros estilos, tocou em diversos tópicos, e se mostrou como um dos projetos mais criativos que já surgiu no Heavy Metal. Com o novo álbum do Marilyn Manson sendo anunciado para o próximo 11 de Setembro (e claro que seria essa data) desse ano, eu resolvi escutar todos os álbuns e rankear eles aqui. Então esses são todos os discos do imperador pálido, do pior ao melhor.


  Décimo Lugar - Born Villain 


Lançado em 2012 o Born Villain é para mim o único álbum do grupo que não tem nada para dizer. Todos os álbuns deles, até os que não são tão bons, como vocês vão ver, pelo menos tem uma grande música, uma grande mensagem, ou algo memorável que fica na sua cabeça depois de ouvir, esse álbum não, ele só existe. O que dá para dizer do álbum de positivo é que ele até é bem produzido, e todo o carisma do Marilyn Manson esta aqui como sempre, e é a única coisa que não te deixa completamente entediado ouvindo esse disco. De resto esse álbum tem 13 faixas que ficam ali exatamente no meio na discografia da banda, elas não são péssimas, mas não é nada que ele não fez melhor antes, todo o metal industrial já tinha sido feito melhor nos primeiros álbuns, as letras sobre como o mundo é cruel também já foram feitas de maneira melhor em outros discos, e a grande impressão que ficou com esse álbum é que o Marilyn Manson não conseguia mais provocar a sociedade, ele conseguiria se reinventar depois disso felizmente. No geral esse disco parece bem cansado, é bem pouco criativo na sonoridade, e e o único que eu recomendaria pular, porque você não perderia nada. 


Nono Lugar - Eat Me, Drink Me


Marilyn Manson goes emo... mais ou menos. Eat Me, Drink Me, foi produzido durante um período muito ruim na vida do vocalista, ele tinha acabado de passar por um divórcio, que ocasionou uma depressão profunda nele, com o próprio achando que não faria mais música, mas ele deu a volta por cima, usando toda a sua dor para compor seu álbum mais pessoal de todos, e o resultado... não é um álbum para mim. Esse é o álbum menos pesado da banda, caindo em um rock gótico, quase um pop punk, com bastantes baladas depressivas sobre rejeição e amores perdidos. Muitas pessoas elogiam as letras do Marilyn no álbum, achando elas incrivelmente confessionais, eu não acho, muitas delas são bem adolescentes e melodramáticas. Tem outra coisa nesse álbum que eu não gosto muito, que são os solos, esse nunca foi o foco da banda, mas aqui em várias músicas surge uns solos do nada, e são muito mal encaixados na música. Mas o álbum não é todo ruim, tem algumas grandes músicas nele como "If I Was You Vampire" que abre o álbum, e "Heart-Shaped  Glass" que é um ótimo single também, e é um álbum bem diferente de tudo da discografia do Manson, e isso é sempre um ponto positivo, tentar algo novo. Deve ter pessoas que colocam esse álbum entre os seus favoritos, mas para mim outro álbum melancólico e lento em 2007, era tudo que o rock não precisava naquele momento.


Oitavo Lugar - The High End Of Low


The High End Of Low é um álbum que segue bastante a pegada do álbum anterior a esse, o The Greatest Era of Grotesque, mas em um estilo mais simples, com pouca invenção. O problema desse álbum é que ele saiu antes do Eat Me, Dink Me, ou seja, o Marilyn já não estava em uma fase muito boa na sua vida pessoal, então esse disco acaba sendo tão confuso quanto estava sua saúde mental naquela época, com ele sendo um misto do álbum anterior e com o que viria, não tendo uma identidade estabelecida, e isso acaba matando todo o potencial que esse disco tinha com muitas faixas esquecíveis no meio dele. Ainda assim o álbum tem alguns grandes pontos altos, o grande hit do álbum "Arma-goddamn-motherfucking-gaddon" é um das músicas mais conhecidas do Marilyn, e tem algumas faixas que são puro metal industrial, que para mim são as melhores do álbum, como "Pretty as a Swastiwka", e "Blank and White". No fim esse é um álbum de transição entre o Marilyn do metal industrial para o mais experimental que viria depois desse, e isso acaba comprometendo bastante no álbum como um todo, por isso é um dos mais esquecíveis dele.   


Sétimo Lugar - Portrait of an American Family

A única capa boa.

Portrait of an American Family é o primeiro álbum da banda, lançado ainda em 1994, o disco já mostrava qual seria a pegada a banda, com inúmeras referências a coisas macabras como Charles Manson, claro, o suicídio televisionado de R. Budd Dwyer, o assassinato do Dr. David Gunn que foi morto por uma ativista pró vida, ao mesmo tempo que usa outras coisas aleatórias para causar uma atmosfera intimidante, como o áudio de um dialogo do Marlon Brando em "Último Tango em Paris" e aquele monologo do Willy Wonka no barco no primeiro "A Fantástica Fábrica de Chocolates", que serviu até de inspiração para o clipe de "Dope Hat". Sendo lançado em 94 o álbum pegou bastante da influência do que estava sendo lançado no rock na época, então ele tem um pegada bem mais "down" do que o resto da sua música, indo quase para um território de post punk junto com o metal industrial característico da banda, que as vezes vira um heavy metal mais direto, então ainda não é o som que eles são mais conhecidos por fazer, mas eles estavam chegando perto dele. O disco tem algumas das melhores músicas da banda, como "Luchbox" que fala sobre essa criança que sobre bullying e usa sua lancheira de metal para se defender dos seus agressores, "Cake and Sodomy" que é uma critica aos programas televangelistas muito populares do começo dos anos 90, e a já citada "Dope Hat" que tem um riff épico, que só de você ouvir já vem a banda na cabeça. Esse primeiro álbum da banda é muito criativo, tem muitas ideias e criticas que seriam aperfeiçoadas no futuro, o único problema é que a banda ainda estava tentando encontrar seu estilo sonoro, então ele fica atrás de outros álbuns em que na minha opinião eles conseguiram trazer um som melhor.


Sexto Lugar - The Pale Emperor


Depois de parecer que não tinha nada novo para mostrar com o Born Villain, Manson mostrou que podia se reinventar novamente, trazendo um som completamente novo, que pegou todo mundo de surpresa. The Pale Emperor embarca em um blues rock, se distanciando bastante do metal industrial e dando um tom bem diferente para todas as músicas, embora ainda pareça Marilyn Manson. Porém embora a mudança de estilo musical foi muito elogiada, para mim o verdadeiro grande acerto desse álbum é que ele fez o Marilyn Manson parecer de novo um dos sujeitos mais badasses do rock. A grande maioria das músicas do álbum tem um senso de grandeza por trás, e serviriam facilmente para ser a entrada triunfal de um vilão que você sabe que não veio para brincadeira. Isso já é visto na faixa que abre o disco, "Killing Strangers" é um blues tão pesado e sombrio que parece algo que o próprio The Doors faria, isso é continuado no primeiro single do álbum "Third Day Of a Seven Day Binge", e o que dizer de "The Mephistopheles Of Los Angeles"??? essa música é um BANGER, a primeira vez que eu escutei ela, eu não conseguia parar de voltar para ouvir de novo. O álbum foi um renascimento completo para o nome do Marilyn Manson, é uma das melhores performances vocais que ele já realizou, foi o seu álbum mais elogiado pela critica, os seus fãs também adoraram, e é sem dúvida um dos seus trabalhos mais criativos, o álbum parece que saiu nos anos 60 mais ao mesmo tempo parece algo de 2015, é muito raro ver alguém soar tão rejuvenescido no seu nono álbum. The Pale Emperor mostrou que Marilyn ainda tinha o que mostrar, e é um álbum muito bom.


Quinto Lugar - Heaven Upside Down


2 anos depois do The Pale Emperor, Marilyn Manson resolveu mostrar que ainda manja dessa coisa de metal industrial, fazendo um álbum mais perto das suas origens, e mais uma vez foi um acerto. O disco abre com "Revelations #12" que já é uma porrada industrial, e com essa música você já consegue sentir qual vai ser a vibe do álbum, músicas rápidas e agressivas. Algumas músicas do álbum são tão porradaria que podem até ser considerada um punk rock, ou hard rock. O disco também pega influências do seu antecessor, "Tattooed In Reverse" é uma música que eu veria facilmente estando no The Pale Emperor. O álbum também tem seus momentos de experimentação na faixa "Saturnalia", que tem 8 minutos, é estranha, a letra é enigmática, e é um dos grandes pontos altos do trabalho. Aqui o Marilyn prova que ele ainda consegue escrever refrões pegajosos, e ainda é aquele provocador sarcástico do seu auge, os refrões de "SAY10", "KILL4ME" e "JE$U$ CRI$I$" são alguns dos mais cativantes que ele já fez. Eu não acho que o álbum tenha uma música ruim, o Marilyn ainda parece muito badass, tem várias criticas sociais e politicas como é de costume e em questão de qualidade ele está empatado com o Pale Emperor, mas eu gosto mais desse, então ele fica na frente.      


Quarto Lugar - The Golden Age Of Grotesque


Esse álbum é muito especial para mim, a maioria das músicas que eu conheci do Marilyn Manson na minha adolescência estão aqui, e fora os hits, eu acho que ele é muito bom como um todo. Esse álbum saiu em 2003, e eu sinto que toda a vibe dele é que depois que o Marilyn respondeu a toda polêmica de Columbine no álbum antes desse, ele chega com esse dizendo "ok, agora que eu sei que eu consigo irritar tanta gente, eu vou fazer isso de propósito". O álbum abre com duas das mais famosas músicas da banda, "This Is The New Shit", que é uma gozação direta com todo o cenário da música pop, e em seguida "mOBSCENE" que é até hoje a minha música favorita deles. Esse também é o álbum mais acessível da discografia da banda por alguma razão, ainda é metal industrial puro, mas eu sinto que você não precisa ser um super fã do Marilyn ou do subgênero para curtir, qualquer fã de Metal com a mente aberta consegue curtir facilmente esse álbum. Talvez a única grande critica que dá para se fazer desse álbum é que ele talvez tenha coisas demais, o disco tem referências de swing music, burlesco, Alemanha pré nazista, dadaísmo, teatro grotesco, Disney, pode parecer muita coisa para por em um álbum de quase 1 hora para alguns. Ainda assim esse álbum para mim continua com a streak de grandes álbuns que a banda estava fazendo naquela época, "(s) AINT", "Spade" e a faixa- título são algumas das melhores faixas que a banda já fez, e isso junto com os dois grandes hits que eu já citei, faz com que a duração do álbum passe voando. The Greatest Era Of Grotesque é provavelmente o meu álbum favorito do Marilyn, e só fica atrás dos 3 que são indiscutivelmente seus melhores. 


Terceiro Lugar - The Antichrist Superstar


Antichrist Superstar é o álbum que fez do Marilyn Manson a estrela que ele é, foi o álbum que jogou a banda para o mainstream, mas ainda mais importante, é nesse álbum que a banda finalmente acha a sua musicalidade. Esse segundo álbum da banda é uma opera rock, e é ainda mais rico em conteúdo que o primeiro, com o álbum contanto a história desse rockstar sobrenatural que toma todo o poder politico da terra, para se tornar o seu próprio Deus, iniciando assim o apocalipse, e virando então o anticristo, todo o álbum é apoiado pela filosofia do Ubermensch de Nietzche e uma grande homenagem ao filósofo no geral, com um grande final niilista. O álbum foi produzido pelo Trent Reznor, vocalista do Nine Inch Nails, e aqui eles estão no seu melhor no metal industrial, como eu disse, eles realmente acharam o tom certo para seu som aqui, e quando as pessoas pensam em Marilyn Manson é o som desse álbum que vem a cabeça. O disco também é responsável pela música mais conhecida da banda "The Beautiful People", que é uma grande critica a toda essa cultura da beleza que existe até hoje, e serve como grandes aberturas para shows de wrestling. Esse disco chegou no momento certo, com muitos creditando a ele o feito de ter encerrado a era do grunge, trazendo a próxima coisa para a contra cultura da música. E é engraçado pensar o quanto o conceito do superstar anticristo serve tanto para o álbum quanto para a vida real, já que esse álbum fez tanto barulho que grupos conservadores cristãos organizaram protestos contra a banda em diversos estados, e muitos naquela época achavam que o Marilyn Manson era literalmente o anticristo, pronto para corromper toda a juventude, esse é o tamanho desse disco. Com riffs pesados, letras muito inteligentes e provocativas, e um metal industrial perfeito, The Antichrist Superstar é sem dúvida um clássico do metal dos anos 90, e o grande primeiro impacto da banda no mainstream.


Segundo Lugar - Mechanical Animals


Se você ouvir alguém falando que o Marilyn Manson não é tão interessante musicalmente quanto o seu estilo visual, apresente para essa pessoa esse álbum. Depois do Antichrist Superstar causar tanto, você esperaria que a banda faria algo ainda mais provocativo, mais polêmico, mais dark, e eles vem com um álbum de glam rock. Mechanical Animals é outra opera rock, contanto a historia desse alien que caiu na terra e foi transformado em uma estrela do rock, com uma banda que tem o mesmo nome do disco. O álbum tem uma influência gigante do David Bowie, tanto na história, quanto na musicalidade, que embarca totalmente nesse glam rock anos 70, mas ainda com uma pegada Marilyn Manson. O disco no geral é uma critica sobre a cultura da fama, com esse alienígena se tornando muito famoso, mas não vendo qualquer sentido na sua vida, e assim tomando um monte de drogas para se manter funcional na banda, se tornando assim um animal mecânico. Marilyn consegue mesclar os sentimentos desse personagem com as suas próprias experiências sendo um dos rockstars mais famosos daquele momento. O álbum não tem apenas algumas das melhores músicas da banda, mas algumas das melhores músicas do rock alternativo dos anos 90, "The Dope Show", "Rock Is Dead", e "I Don't Like The Drugs (But The Drugs Like Me)" são clássicos, e o cd se encerra com "Coma White" que para muitos é a melhor música que o Marilyn Manson já fez, com um riff bem melancólico o Marilyn descreve esse relacionamento conturbado que parece ser com uma garota, mas o músico disse que era sobre uma droga que ele estava tomando na época, é tudo bem triste e bem sensacional. Quando esse álbum saiu os fãs da própria banda não curtiram muito, por ser algo completamente diferente do Antichrist Superstar, porém com o tempo as pessoas voltaram nele e apreciaram o quão bom é esse disco. Assim como seu antecessor, esse é um dos melhores álbuns dos anos 90, a coisa mais criativa que a banda já fez, e para mim o momento em que o Marilyn Manson se consolida como um grande artista musical além de toda a sua identidade visual e provocativa, porém ainda não seria o seu melhor trabalho.


Primeiro Lugar - Holy Wood (In The Shadow Of The Valley Death)


Em 1999 ocorreu o massacre de Columbine, e como é bem conhecido, a mídia jogou toda a culpa do massacre em cima do Marilyn Manson, porque aparentemente os garotos eram fãs dele, o que nem sequer era verdade, e ele virou o vilão numero 1 da America nessa época. Como Marilyn respondeu a tudo isso??? fazendo seu melhor álbum, lançado em 2000, o Holy Wood. Enquanto os outros álbuns tinham criticas no sentido mais filosófico, esse aqui nas próprias palavras do Marilyn é uma "declaração de guerra". Isso já é mostrado na capa, que é o Marilyn Manson fazendo esse Jesus Cristo crucificado em decomposição, uma capa que obviamente foi censurada, provando seu ponto sobre como os cristãos criticam tanto a violência mas glorificam algo tão violento quanto a crucificação de cristo. O conteúdo lirico do álbum é o Marilyn chegando com o pé na porta, falando sobre o que ele acredita e revertendo todas as criticas feitas e ele de volta para aquelas que as fizeram, mas você já pode adivinhar isso sozinho quando na música mais famosa do álbum, "Fight Song", Marilyn diz no refrão "eu não sou escravo de um Deus que não existe, eu não sou escravo de um mundo que não da a minima" essa é a pegada do álbum, uma grande critica a obsessão da mídia e das pessoas em geral com violência e a glorificação de celebridades mortas como John Kennedy, John Lennon, e o próprio Jesus Cristo. O som desse álbum é mais na pegada do Antichrist Superstar, com a banda voltando mais as suas origens de metal industrial, mas você consegue sentir um pouco dos três primeiros álbuns, com ele até fazendo uma faixa chamada "Coma Black", casando com a "Coma White" do Mechanical Animals, e é tão sensacional quanto. Essa era a melhor resposta que o Marilyn Manson podia ter dado para todas as criticas sobre ele, todas as música são criticas ácidas e diretas sobre a hipocrisia das pessoas, e não tem uma faixa abaixo aqui, tudo funciona de forma perfeita para que essa fosse a grande obra de arte da banda, que se consolidou ainda mais como um dos melhores atos do metal nos anos 2000. 20 anos depois o Holy Wood ainda é um álbum muito atual em todos os pontos que ele toca, sendo uma obra atemporal, e não só pela qualidade, mas também por todo o contexto, o grande álbum da carreira de Manson. 


E essa é a minha lista dos álbuns do Marilyn Manson, semana que vem tem o décimo primeiro álbum dele, "WE ARE CHAOS", e parece que ele novamente vai para uma área diferente musicalmente, já que no único single lançado, de mesmo nome do álbum, ele usou uma pegada bem rock anos 60, e eu achei que ficou muito bom, então minhas expectativas estão bem altas para esse projeto, até a capa é boa, a segunda boa da discografia. Fique com o single desse álbum novo, e até o próximo artigo.

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