CLÁSSICOS: Syd Barrett - The Madcap Laughs

A história do Syd Barrett é uma das mais interessantes da história da música, e tão interessante quando a sua trágica história de vida, é o seu primeiro álbum solo depois de sair do Pink Floyd, lançado em 1970 depois de dois anos de tentativas de gravação, o The Madcap Laughs.

O Syd Barrett foi o fundador do Pink Floyd e o vocalista do primeiro álbum do grupo, sendo o grande influenciador para todo o estilo psicodélico da banda. Porém a partir do final de 1967 a situação dele no Pink Floyd ficou insustentável, isso porque ele começou a ter um comportamento cada vez mais errático e imprevisível, com mudanças de humor, alucinações, falas desconexas e períodos de catatonia, não conseguindo tocar ao vivo com o resto da banda, e nem gravar material novo. Até hoje não se sabe ao certo o que causou esse declínio mental no Syd, se ele usou tanto LSD e ácido que o cérebro dele derreteu, se ele já tinha alguma problema mental e as drogas apenas pioraram tudo, ou se as drogas que causaram os problemas mentais, é um grande debate até hoje, mas o fato é que Syd depois de 1968 foi ficando mais e mais louco até ser retirado do Pink Floyd e substituído pelo David Gilmour no mesmo ano. Para ajudar Syd o empresário dele, Peter Jenne, levou ele para o estúdio para tentar gravar um álbum solo com ele, porém ele subestimou a dificuldade que seria trabalhar com Syd, o músico não dava nenhuma dica do que ele iria fazer para o resto da banda, as vezes ficava várias horas olhando para o nada, e tocava acordes aleatórios sem explicação. O projeto foi esquecido, e só pôde ser concluído no ano seguinte, com a ajuda de Roger Walter e David Gilmour, que organizaram novas sessões e cuidaram da parte da produção, com o álbum finalmente sendo considerado terminado no ano seguinte.


Durante as 13 faixas do álbum o Syd canta sobre relacionamentos, desilusões amorosas, fantasias malucas, e sobre a sua própria saúde mental em um tom até bem alto consciente, abrindo um pouco desse universo maluco que era a mente dele na época para uma curta visitação a público. O álbum todo tem um tom bem de improviso, e experimentação, o que já é de se prever lendo o "método de trabalho" que o Syd tinha na época, com as músicas sendo guiadas pelo seu violão, dando um tom bem blues com folk psicodélico para as músicas. A parte da experimentação do álbum vem da imprevisibilidade do músico, com ele balbuciando algumas letras em "No Man's Land", falando que queria começar a música de novo em "If It's On You" no começo da faixa porque ele estava fora do tom, e então cantando mais fora do tom ainda o resto da música, além dos vários diálogos que você pode ver ele tendo com outras pessoas no decorrer do álbum. Algumas músicas são bem estranhas, mas elas funcionam, o Syd faz elas funcionarem, dando assim uma obra que é estranha, meio bizarra, mas intrigante, assim como o artista.



Por que é um clássico???
The Madcap Laughs é um dos álbuns mais interessantes que eu já ouvi. Como eu disse, a maioria das músicas são guiadas apenas pelo violão e a voz do Syd, e tem poucos artistas que conseguiriam fazer música tão interessante assim apenas com esses elementos, mas o Syd consegue facilmente, o álbum não fica entediante em nenhum momento, pelo contrário parece que ele vai te colocando mais e mais no mundo fantasioso que o músico vivia dentro da própria cabeça. Todas as experimentações e bizarrices não parecem estranhas, elas encaixam de algum jeito com toda a vibe do projeto, quando ele faz algo que não era para fazer, o sentimento que eu tenho é "ah, eu entendo porque ele fez isso", porque é a pura arte que ele queria fazer, sem regras ou preocupações. A capa do álbum resume perfeitamente a musicalidade, é como se fosse só o Syd sentado na sua casa tocando umas notas e cantando dboas.


O Legado dele
O The Madcap Laughs não tem apenas um grande legado para a música, sendo um dos primeiros exemplos de "Outsider Music" da história, e sua produção se aproximando do que hoje é o Lo-Fi, tendo inspirado inúmeros grandes músicos como David Bowie e John Frusciante, mas também esse álbum cimenta o legado do Syd Barrett como músico. Claro que a história do rockstar que ficou louco é bem interessante, mas por trás disso tinha uma pessoa muito talentosa e criativa que conseguia fazer coisas incríveis na música mesmo já tendo perdido grande parte do seu contato com a realidade. Além de toda a figura de "chapeleiro maluco", o Syd era com certeza um grande músico, e esse álbum mostra que ele não precisava do Pink Floyd, ou de sanidade, para mostrar isso.


O Syd lançaria no mesmo ano o seu segundo álbum chamado "Barrett", que teve uma produção mais ordenada e muitos consideram tão bom ou melhor que o Madcap Laughs, e esses foram os últimos registros musicais do artista, com ele se aposentando da vida artística e pública para morar com a mãe dele, vivendo essa vida pacata até morrer em 2006 aos 60 anos. A história por trás da produção desse álbum é tão interessante que rendeu um livro chamado "The Making Of The Madcap Laughs" lançado em 2003 por Malcolm Jones. Para finalizar, tem esse vídeo sobre o Syd Barrett feito pelo canal "Lie Likes Music" que eu acho muito bom, e eu vou deixar aqui no final do artigo, até a próxima.
    

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