Poucos artistas conseguiram revisitar o R&B dos anos 90 e 2000 com tanto cuidado e criatividade quanto Tory Lanez. Quando ele lançou o primeiro Chixtape em 2011, parecia apenas mais uma mixtape perdida na internet. Mas, com o tempo, a série se transformou em um projeto conceitual que não apenas homenageava o passado, como também recontava a história de um relacionamento turbulento, sempre com trilha sonora de clássicos reimaginados.
O segredo do Chixtape está no uso dos samples. Tory não se limitou a cortar trechos de músicas famosas e jogar por cima de batidas modernas. Ele reconstruiu canções inteiras, deu novas melodias, regravou vocais e até trouxe os próprios artistas originais para participarem. Assim, um hit como "I’m Sprung", do T-Pain, virou "Jerry Sprunger" com o próprio T-Pain dividindo os vocais. "Foolish", de Ashanti, virou "A Fool's Tale", com Ashanti cantando novamente, quase vinte anos depois. E "Take You Down", de Chris Brown, renasceu em "The Take", agora em dueto.
No primeiro Chixtape, logo na intro, Tory pega o universo do MF DOOM e o veste com melodia de R&B ao samplear o clássico "Accordion", já mostrando o que viria pela frente. Em Chixtape 2 (2014), o meu favorito inclusive, Tory mergulhou de vez no espírito dos anos 2000. Ali, ele sampleou Ginuwine, Mario, Usher e traduziu toda a estética daquela década. Batidas lentas, refrões melódicos, atmosfera íntima para um público novo. O resultado foi um disco que soava nostálgico e contemporâneo ao mesmo tempo, e que definiu o DNA da série.
Em Chixtape 3 (2015), a fórmula ganhou mais polimento, com faixas como "Say It" (que explodiu mundialmente), construída em cima de "If You Love Me", do Brownstone. Já em Chixtape 4 (2017), Tory se permitiu ousar ainda mais, resgatando "Grind On Me" (Pretty Ricky) e "I Need A Girl" (Diddy & Usher), transformando músicas que já eram hinos em novas versões cheias de personalidade.
Paralelo aos samples, a série foi posteriormente costurada pela storyline da personagem Jalissa. Em cada volume, áudios, skits e interlúdios traziam essa persona recorrente: a ex que volta, que briga, que causa recaídas. Jalissa é quase tão importante quanto os samples, ela dá unidade, cria a sensação de acompanhar uma novela em capítulos musicais. O ouvinte não está apenas revisitando o R&B antigo, mas também acompanhando a vida amorosa turbulenta de Tory em tempo real.
Tudo isso culminou no Chixtape 5 (2019), quando o tributo se tornou oficial. Pela primeira vez, todos os samples foram autorizados, e os artistas originais participaram ativamente. Foi a consagração de um projeto que nasceu underground e terminou no topo das paradas, sem nunca perder o charme da nostalgia.
No fim, Chixtape é mais que uma mixtape, é um manifesto. Tory Lanez mostrou que o R&B pode sobreviver ao tempo se souber olhar para trás. E que, ao revisitar os refrões que marcaram uma geração, é possível criar algo novo, e ao mesmo tempo, celebrar o passado.
As vezes eu penso que o Tory é um daqueles casos de jogadores que teriam 4 bolas de ouro se não existissem Messi e Cristiano. Na época que o Tory estava construindo sua sonoridade era o começo do auge de The Weeknd e Drake com o Frank Ocean ali correndo por fora, se ele tivesse estourado nessa década de 2020s eu acho que ele seria facilmente considerado top 3 cantores de RnB modernos porque o jeito dele de cortar samples e reconstruir hits em cima de hits já existentes é algo que eu não vi ninguém dessa nova geração fazer sem parecer muito cringe.
ResponderExcluirEu curto muito as Chixtapes, principalmente a 4 e a 5 que são um empate técnico para mim entre as melhores e curto muito o I Told You como álbum mesmo nessa transição do underground para o mainstream dele, tem umas 5 músicas naquele álbum que pra mim sºao algumas das melhores que o RnB produziu em 2010s. Grande artigo e grande debut do nosso presidiário favorito no blog.