Eu vi essa frase em um video de tiktok brasileiro mas depois eu vi que ele pegou de outro tiktok gringo e é um título muito bom para não copiar. Hoje eu vou escrever sobre aquele que é considerado por muitos como o melhor (e mais triste) acústico já feito.
Mas antes de tudo para quem possivelmente não conhece o Alice In Chains aqui vai um resumo super rápido da trajetória deles: O Alice In Chains é um dos quatro dos que é considerado o "Big Four do Grunge" junto com o Nirvana, o Pearl Jam e o Soundgarden e o que diferenciava o Alice in Chains dos outros do "Big Four do Grunge" era sua forte influência do heavy metal e uma atmosfera mais sombria e opressiva, tanto musical quanto liricamente, que os aproximava mais do metal alternativo do que do punk ou classic rock predominantes no começo dos anos 90 que o Nirvana ajudou a explodir para o mainstream. Basicamente o AIC era mais pesado e as suas letras eram mais depressivas que o padrão normal do grunge (que ja é bem depressivo) com os seus maiores hits sendo sobre vício em drogas, depressão, isolamento, morte, dor emocional e conflitos internos.
Tudo isso vinha do seu vocalista e principal compositor Layne Staley que era a cara da banda e a história dele é muito triste. O cantor começou a usar drogas no inicio dos anos 90 coincidindo com o estouro da banda para o mainstream com o álbum "Dirt". Layne usava todo tipo de droga mas o seu maior vicio acabou sendo a heroína. O seu vicio em heroína rapidamente afetou suas apresentações ao vivo, sua saúde e sua capacidade de gravar e sair em turnê. Mesmo com o sucesso da banda, Layne se isolava cada vez mais, lidando com a sua depressão e traumas pessoais através do uso de drogas, e tudo piorou em 1996 com a morte de sua ex noiva Demri Parrott por uma overdose de drogas, que intensificou ainda mais seu uso de substâncias e sua depressão, fazendo ele ser colocado em uma supervisão 24 horas pelos seus amigos que tinham medo que ele cometesse suicídio nos dias seguintes ao acontecido.
É nesse contexto que temos a história de como esse acústico foi feito. Em 1996 já fazia três anos que o Alice In Chains não se apresentava ao vivo por causa dos problemas do Layne com drogas que faziam com que ele nao conseguisse performar. Mesmo assim os membros da banda toparam fazer o acústico porque eles pensavam que poderia ser a chance dos fãs verem a formação clássica da banda pela última vez visto que o estado do vocalista se deteriorava cada vez mais.
E assim eles se reuniram em 10 de abril de 1996 para gravar aquele que é para muitos fãs o momentos que define a trajetória da banda. O que já chama atenção é o cenário do acústico, ele está todo escuro com apenas velas acesas decorando todo o ambiente e o Layne no centro, como um funeral mesmo, a princípio a ideia não foi essa, eles pediram para o cenário ser mais soturno porque a banda nunca gostou de luzes fortes mas a ideia das velas foi do Layne que inclusive as comprou com seu próprio dinheiro. E claro a segunda coisa que chama muita atenção é o próprio Layne Staley que nao parece... estar ali. O vocalista está magro, cabisbaixo, com o cabelo pintado de rosa, óculos escuros e luvas pretas, ele quase não interage com o público deixando o trabalho de falar com a plateia entre as canções para o guitarrista e segunda voz Jerry Cantrell enquanto ele permanecia imóvel e sem muita expressão entre o intervalo entre uma música e a próxima. Comparando com o acústico do Nirvana que por si só ja é extremamente depressivo também, o Kurt Cobain pelo menos está fazendo piadas e conversando com o público durante toda a apresentação, enquanto com o Layne parece que a pessoa por trás do artista já nao existe mais, sobrou apenas a sua voz para interpretar as suas músicas.
E claro que o que torna esse show tão memorável é a apresentação das músicas e a performance incrível do Layne. Já abrimos com uma abertura impressionante com “Nutshell”, onde o Layne canta com uma sinceridade brutal, sua voz está trêmula, porém firme, passando um senso profundo da dor e resignação presente na letra. “Down in a Hole” também é um ápice emocional, com vocais comoventes que expõem a sua fragilidade e sofrimento interno. Em “Rooster”, temos a combinação entre os vocais do Jerry Cantrell e o Layne com um dueto cheio de tensão e liberação na entrega, perfeito com o tema da música. Mesmo visivelmente debilitado, o Layne entrega versões das músicas que emocionam pelo contraste entre seu estado físico e a sua intensidade vocal, se não estivéssemos enxergando ele ali tão frágil fisicamente achariamos que aquele era o seu auge. E por fim temos “Over Now” que encerra o acústico com um tom de aceitação do destino e despedida, fechando uma performance emocionalmente gigantesca por parte de toda a banda. Após a execução da última música o vocalista disse uma das poucas palavras na noite para o público: eu queria abraçar todos vocês, mas não vou.
Infelizmente a vida do Laney não melhorou, na verdade só piorou, depois do acústico. A sua apresentação poderosa foi uma das suas últimas aparições públicas e o seu penúltimo show com o Alice In Chains, com ele realizando apenas mais um show em julho daquele mesmo ano antes de largar de vez o posto de vocalista do AIC em decorrência da sua saúde. Em 1998 foi revelado que ele quase não saia do seu apartamento, tinha perdido a capacidade de ingerir alimentos e estava vivendo apenas de suplementos nutricionais. Sua última aparição pública foi em outubro de 1998 quando ele apareceu em uma apresentação solo do seu companheiro de banda Jerry Cantrell onde essa foto acima foi tirada. Nos seus últimos anos vivo as unicas informações que temos é que ele passava todos os seus dias no seu apartamento jogando videogame, criando arte e usando drogas. Em 2002 o vocalista morreu de uma overdose de speedball (uma mistura de heroína com cocaína), e o pior de tudo é que como ele não saia mais de casa o seu corpo foi achado apenas 2 semanas depois da sua morte pela sua mãe com o seu corpo já estando em decomposição. Isso marcou ele como o segundo vocalista dos "big four" a falecer, com o Chris Cornell do Soundgarden sendo o terceiro em 2017 após cometer suicídio.
Eu lembro de ter visto esse acústico na minha adolescência quando estava descobrindo mais do grunge e do rock alternativo e ter achado legal, mas só vendo ele recentemente e com todo o background sobre o estado físico e mental do Layne que eu consegui ver a grandiosidade desse momento e ele tocou a minha alma de um jeito especial. A ideia do acústico da MTV sempre foi trazer um clima mais intimista, como se o público estivesse vendo um lado dos músicos que eles não veriam normalmente ao executar uma música, algo mais pessoal, e por isso o formato acabou ficando tão obsoleto com o tempo ao ponto de virar uma gimmick, porque os músicos acabavam se esforçando para fazer o diferente ao ponto que ficava simplesmente uma versão piorada das músicas deles, mas esse acústico do Alice é diferente desses. Aqui você consegue sentir o peso tanto na performance da banda quanto na atmosfera toda do local, é um registro de um periodo muito específico, o fim da formação clássica de um dos gigantes do rock alternativo dos anos 90 em uma última explosão. E está tudo ali de forma perfeita com versões tanto de clássicos como "Would?" quanto de músicas que não estavam na lista de grandes hits do grupo, como já era tradição das bandas de grunge fazer, tudo isso com a liderança de um vocalista que por uma última vez resolveu mostrar seu talento para todo o mundo, colocando a sua persona musical a frente até do seu próprio ser para assim criar um momento que vai viver para sempre no imaginário da música. Layne Staley, mesmo à beira do seu colapso fisico, canta com a alma, fazendo desse acústico um retrato honesto, belo e trágico de seu legado para o rock.
E a minha dica para ver esse acústico não é ouvir uma ou outra música dele, encara logo as 1 hora e 10 minutos de uma vez só, é uma jornada que ao mesmo tempo que é angustiante também é linda de se escutar, e é ainda mais fácil porque algum monstro legendou o acústico inteiro e jogou no YouTube, e eu vou compartilhar ele aqui:
Esse seria o fim do artigo e eu já tinha escrito todo ele antes da morte do Ozzy, mas acho que vale a menção de como toda a ideia desse texto é sobre um músico que fez um último grande momento antes da sua morte trágica, e agora em 2025, 29 anos depois nós temos o Ozzy Orbourne fazendo um último show em Birmingham sentado em um trono fazendo uma homenagem para si mesmo para então morrer em paz 2 semanas depois como a lenda máxima do rock que ele é, não tem nada mais metal que isso, final de cinebiografia. Então esse artigo é dedicado ao Ozzy Osbourne, o 01 do Heavy Metal.
Eterno Ozzy
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