My Bloody Valentine é a combinação perfeita pro whisky


Domingo é o dia internacional de ficar bebaço e curtir um som maneiro.
Um amigo meu certa vez me recomendou o estilo perfeito pra isso: shoegaze. Uma tal banda chamada My Bloody Valentine.

Pelo nome, achei que fosse alguma banda emo trash, daquelas que choram sangue e passam lápis de olho com faca e no fim do clipe viram lobisomens ou algo do tipo.
Mas dei play no Loveless e, pra minha surpresa, foi uma das melhores escolhas que já fiz bêbado... o que convenhamos não é muito difícil.

No começo estranhei. A guitarra parecia um liquidificador com reverb e o vocal soava como se o cara tivesse com um cone de trânsito enfiado na cabeça.
Mas aí a cachaça bateu e eu pensei: isso aqui é genial.

Tem uma coisa que me pegou. O som é todo errado e, ao mesmo tempo, funciona. É sujo, embolado, abafado… e mesmo assim, bonito.
Chamar de "despretensioso" talvez seja um erro, já que os caras faliram a gravadora e demoraram três anos pra lançar essa porra. Mas sei lá. É um caos bonito.

E o mais doido é que, se você tirar o barulho e tocar essas músicas no violão, boa parte delas ia soar meio entediante. Só que esse álbum não é sobre melodia.
Loveless é sobre textura. É sobre som. É tipo olhar pra uma foto tremida e achar ela mais bonita do que se tivesse em foco.
O exemplo perfeito é a capa desse disco: uma guitarra tremida com um efeito rosa, parece meio bobo descrevendo, mas sempre que você vê essa imagem já entra automaticamente no clima do disco.

Tem faixa que parece estática de TV. Tem faixa que parece uma lembrança de quando você era criança e tomou um tombo no parquinho.
É como se alguém tivesse tentado gravar um disco romântico durante um vazamento de gás.

Destaque pro começo com Only Shallow, que já liga a britadeira e finge que é música romântica.
When You Sleep é a mais popzinha, mas ainda tá coberta de névoa.
Sometimes é tipo uma baladinha tímida, que o Smashing Pumpkins copiaria sem vergonha anos depois.
E no fim vem Soon, que é quase dançante. Tipo um techno de guitarra bêbada.

Valeu a pena. Porque até hoje tem uma legião de jovens vagabundos, inimigos da CLT, que metem uma almofada na boca, plugam uma guitarra em qualquer coisa e começam a soltar uns versos aleatórios achando que tão fazendo uma nova versão do Loveless.

E isso me diverte muito.

Obrigado, My Bloody Valentine, por me apresentar o shoegaze, por distorcer minha noção de beleza e por ter inspirado a mistura de whisky com limão que me deixou doidãaaaaaao.
Foi uma ótima combinação. E um excelente domingo de shoegaze. Só não foi boa a ressaca do dia seguinte, mas isso a gente deixa pra lá - segunda feira é sempre uma merda mesmo.

Comentários

  1. Também nunca tinha ouvido esse disco até esse artigo, conhecia mais ou menos a fama do álbum e tal mas foi só agora que dei uma chance. Escutei bebasso como tem que ser, e porra realmente é tudo isso ai. Não sou tão conhecedor de shoegaze, na vdd acho que a única coisa que eu ouvi de shoegaze é o primeiro álbum do Blur que tem algumas músicas nessa pegada, então explodiu minha cabeça as distorções e o jeito como eles usam guitarra, além de como vc falou parecer uma estática como se uma música entrasse dentro da outra em um mix. Faz tempo que eu não ouvia um álbum tão único assim. Classicasso, e depois vou pegar mais algumas coisas do shoegaze clássico e atual pra dar uma ouvida. Grande artigo.

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