Chegamos finalmente ao final da aguardada trilogia e ao final do personagem The Weeknd como um todo, mas antes como chegamos até aqui??? The Weeknd começou esse projeto em 2019 com o seu álbum que já se pode considerar um clássico After Hours, e depois com o muito subestimado (sério, um dia vocês vão ver a genialidade desse disco) Dawm FM lançado em 2022, e depois de um rollout bem esquisito, muitas mudanças e muitos atrasos finalmente tivemos no dia 31 de Janeiro desse ano o Hurry Up Tomorrow, e abaixo está o que eu achei dele.
Esse álbum foi vendido como "a morte do The Weeknd", mas se você é muito fã do trabalho do artista você sabe que o The Weeknd já morreu no After Hours ao final da última música "Until I Bleed Out" e o Dawm FM é uma rádio no purgatório que o protagonista escuta enquanto reflete sobre o seu hedonismo e o seu comportamento tóxico em geral, então do que Hurry Up Tomorrow se trata??? Na minha interpretação esse álbum é basicamente o momento em que a vida inteira passa pela sua mente segundos antes de tudo apagar completamente, porque esse disco é uma grande celebração da obra do artista até aqui, seja nos tópicos em que ele toca, na sonoridade, nos feats, mas principalmente na vibe das músicas, que vem desde a trilogia de mixtapes original até o seu último álbum passando pelo RnB e pop único que ele popularizou através dos anos e tentando até algumas coisas novas.
A faixa que abre o álbum "Wake Me Up" é muito competente em estabelecer todos os conceitos que vão permear esse projeto, com um sample que lembra muito a clássica "Thriller" do Michael Jackson a música é um synth pop dançante remanescente dos primeiros trabalhos do artista com o The Weeknd cantando como tudo que ele tem é o seu legado, não tem mais uma vida após a morte para ele, e pedindo para ser acordado pois sente que está morrendo, fazendo um paralelo entre uma conversa com uma mulher mas também com os seus fãs e a sua carreira como um todo, é simplesmente o melhor começo de álbum que o artista já fez, porque é dramático e ao mesmo tempo grandioso. Logo em seguida temos "Cry For Me" que tem uma batida puxada para o funk brasileiro, em que mais uma vez o personagem principal reflete sobre a sua morte e pede para que a garota que ele estava se referindo na música anterior chore pela sua morte como ele chorou por ela, já que ele não consegue mais se comunicar com o mundo em que vivemos pois está preso na morte. O cantor também fala sobre o incidente em um show em Los Angeles em que ele perdeu a sua voz e aparentemente foi o motivador principal para ele aposentar essa persona como intro para "São Paulo" com a Anitta (que é boa, vocês são é muito chatos). Outro super hit é "Open Hearts" e pra mim ela é canonicamente a primeira música do álbum, como a transição entre ele ainda tentando melhorar em vida e querendo amar de novo mas é tarde demais, assim como "Take Me Back To LA" com ele apenas querendo voltar a tempos mais simples em Los Angeles antes de ser sugado por essa vida, que é uma antítese da música "Escape From LA" do After Hours onde ele não aguenta mais a cidade e a deixa, e isso acaba sendo motivo da sua morte. Porém a parte mais pessoal do álbum para mim são as últimas três músicas, com o cantor cantando da perspectiva da sua mãe em "Red Terror", com tudo que ela teve que viver para criar ele e pedindo desculpas para ela para seus erros, "Without a Warning" falando sobre o seu ciclo de drogas e como ele não poderia se dar ao luxo de ser sóbrio porque isso não daria dinheiro para ele e por fim a última música que da fim ao The Weeknd como conhecemos, com ele aceitando a sua morte e falando diretamente com Deus para limpar ele dos seus pecados para que ele possa renascer como o Abel, livre de todos os pecados da sua persona.
Como eu disse antes a sonoridade do álbum embarca por toda a carreira do artista, com o seu principal produtor sendo o genial Mike Dean que parece que nasceu para produzir o Abel, mas também com o Metro Boomin com a sua pegada mais trap moderno em músicas como "Cry For Me", "Reflections Laughing" e "Given Up On Me", a dupla eletrônica francesa Justice dando seu toque em "Wake Me Up", e até o Pharrell Williams dá as caras aqui no single "Timeless" com uma pegada bem trap comercial sendo um puta hit dentro do álbum. Os feats também parecem refletir o que de melhor já teve na carreira do The Weeknd, Travis Scott faz um verso bem carismático em "Reflections Laughing" assim como o Playboi Carti em "Timeless", Future que sempre fez alguns dos seus melhores trabalhos junto com o Abel aparece em "Enjoy The Show" cantando, sim, cantando, e ele manda muito, essa que aliás lembra muito uma batida antiga do finado Kanye West nos seus tempos de College Dropout. Lana Del Rey que é o The Weeknd das mulheres aparece em "The Abyss" relembrando outras colaborações deles, e como eu disse o duo francês Justice aparece em "Wake Me Up" que é basicamente o mais perto que o Abel conseguiu arranjar do Daft Punk já que a lendária dupla encerrou suas atividades em 2021.
Na parte negativa do álbum eu tenho para reclamar o que sempre acontece comigo em álbuns duplos de mais de vinte músicas, que é: dava para cortar pelo menos umas 3 músicas dali. Por mais que para mim não tenha sido incomodo, a repetição de temas e essa dinâmica do cantor fazendo um paralelo de uma mulher com a sua carreira pode cansar o ouvinte assim como alguns Synth Pops pouco inspirados como em "Drive", "Give Me Mercy" e "Given Up On Me". Talvez por ser a última obra do The Weeknd faltou alguém na mesa de produção para fazer alguns cortes ali no momento final.
O Abel disse que queria encerrar o personagem The Weeknd porque para ele era muito difícil colocar a mente dele dentro dessa época da sua vida, porque a mais de 10 anos atrás ele era o The Weeknd, ele viveu esse mundo de toxicidade, egoismo e drogas e relatou em suas músicas de forma exagerada mas agora ele não é mais essa pessoa, e deve ter dezenas de tópicos que ele quer explorar e não pode porque ele tem que ser essa persona trágica em suas músicas, então faz sentido essa trilogia ser o momento certo para ele encerrar esse personagem, e para mim essa é a melhor despedida que ele poderia fazer. The Weeknd nesse álbum está fazendo synth pop dançante, pop oitentista, funk, trap, RnB e tudo do jeito dele como só ele consegue, ninguém na atualidade faria esse disco e conseguiria construir essa lore por três álbuns como o Abel e fazer parecer tão cinematográfico. Esse disco cria toda a jornada desse personagem passando por todos os pecados cometidos por ele durante todos os álbuns e mixtapes, suas reflexões sobre essa vida errada e no final ele te dá um senso de encerramento perfeito para ele, o desfecho que ele merece, o The Weeknd volta para o começo com a sua última música ligando direto com "High For This" primeira música da sua primeira mixtape, ou seja enquanto o Abel agora está livre dele para seguir a sua vida o The Weeknd vai estar para sempre preso nesse looping da sua vida tóxica, para mim esse foi cinema de forma sonora e olha que o filme do álbum ainda nem lançou.
Eu indicaria músicas diferentes do Hurry Up Tomorrow para momentos diferentes da vida, tem muita música hit de festa, tem música sofrência e chorosa, tem música para ouvir no carro, na madrugada, eu mesmo já ouvi músicas do disco em uns três contextos diferentes e funcionou em todas para mim, e eu indicaria o álbum inteiro para quem é fã da carreira do Abel e quem quer ver o final apoteótico de um dos melhores atos do pop da era moderna, para mim um dos melhores álbuns duplos dos últimos anos, um álbum que bate de frente com o After Hours como o melhor do artista, e com certeza um dos melhores trabalhos de 2025 até aqui (e olha que já teve muita coisa boa esse ano com apenas um mês de 2025). E essa é a gif que representa a minha reação ouvindo esse álbum:
CRY FOR ME LIKE I CRY FOR YOU.
Você deveria abrir um canal no Youtube pra ganhar dinheiro com nerds de música, já que é capaz de arrancar um texto desse tamanho e com riqueza de detalhes de um simples conjunto de músicas. Um conteúdo desse no Youtube conseguiria crescer rapidamente.
ResponderExcluirEu acho que eu funciono melhor em texto do que falando com câmeras ou gravando áudio, mas eu vou pensar na ideia. Valeu pelo comentário meu mano 👊
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