A última vez que tivemos um lançamento inédito de Mac Miller foi com o seu álbum Circles de 2020 que foi lançado de maneira póstuma após ser quase todo finalizado pelo mesmo, e a última vez que eu falei de Mac Miller nesse blog foi quando eu fiz uma análise da sua mixtape Faces de 2014 que para mim é a sua obra prima, e o álbum de hoje meio que cruza esses dois assuntos. Balloonerism é um álbum que foi pensado para ser feito durante a época do Faces em 2014 e por muitos anos foi tido como uma Lost Media no catálogo do Mac Miller, pois boa parte dele foi gravado, muitas músicas foram vazadas, mas o projeto não viu a luz do dia, sendo substituído pelo mais leve GO:OD AM lançado em 2015 com proposta e músicas totalmente novas. Porém agora em 2025 a sua família junto com a sua equipe pegou as músicas do Balloonerism, chamaram amigos do rapper para concluir o projeto e ele foi finalmente lançado como o seu álbum póstumo, e abaixo está o que eu achei dele.
Como eu falei bastante em Faces (que eu indico a leitura pois vai explicar muito desse álbum) 2014 era a época mais deprimida da vida do Mac Miller, eles mesmo achou que não iria sobreviver depois da criação daquela mixtape e aqui esses temas continuam com o humor autodepreciativo e a ironia do artista que sempre foi um marca registrada em sua obra. Balloonerism fala sobre morte, assim como já vinha sendo um tema central na obra do Mac Miller, ele fala sobre a desesperança de conseguir sair da situação em que ele se encontra com a depressão e as drogas e nisso ele é muito parecido com o Faces, porém ele é mais coeso, enquanto o Faces parecia mergulhado em diversos temas e sonoridades diferentes como uma mixtape deve ser mesmo esse álbum investe predominantemente no Neo Jazz que o Mac Miller se especializou nos seus futuros projetos e o Mac foca mais no tema de ser esse rapper drogado que sabe que o seu caminho é a morte prematura mas se sente invencível enquanto faz isso e quer pelo menos dar uma viagem boa para o ouvinte enquanto ele embarca na sua própria viagem, basicamente com o existencialismo sendo a peça principal nessa obra, e nisso ele funciona muito melhor como o final de uma trilogia para Swimming e Circles do que ele seria para Watching Movies With The Sound Off e Faces, porque todos os temas intimistas em que ele mais tarde na sua carreira se aprofundaria em falar junto com a sua sonoridade característica estão aqui.
O álbum abre com uma intro de um tamborim sendo tocado pelo rapper que nos introduz naquele mundo para então vir a primeira música "DJ's Chord Organ" sendo ela basicamente uma música da SZA com uma introdução e produção do Mac Miller, no seu twitter ela disse que os vocais dela na faixa são os mesmos de 2014, ela não quis mudar nada porque achou que seria errado, o Mac foi o cara que produziu boa parte do EP Z dela também em 2014, e esse foi o projeto que alavancou ela pro mainstream, então é muito legal ver ela aparecer aqui e mostrar o quanto ela já era talentosa e carismática nessa época. Mac nas próximas faixas então reflete sobre sua fama quando em "Do You Have a Destination?" ele diz que se entregou tanto para a música que considera que já se matou e fala que pelo menos ele deixou a mãe dele orgulhosa com os seus feitos. "5 Dollar Pony" que foi lançado como single fala de um relacionamento que está se apagando aos poucos mas eu acho que pode ser interpretado como ele falando sobre drogas nas entrelinhas, assim como a próxima música "Friendly Allucinations" também com a participação de SZA no refrão fala sobre as alucinações que as drogas podem causar com ele até narrando conversas que ele teve com essas alucinações tratando elas como algo para fugir da realidade, citando elas várias vezes como o seu paraíso pessoal, por exemplo quando em "Stoned" ele cita usar drogas como "ir para o céu" junto com a garota que ele está. "Funny Papers" eu acho que é a música mais bonita e de certa forma mais pesada do álbum, ela começa com o Mac falando "alguém morreu hoje, eu vi a foto nos jornais, eu nem sabia que alguém morria numa sexta" e sim, coincidentemente o Mac morreu numa sexta-feira, e a música é um paralelo sobre o que ele vê nos tablóides e como está a vida dele com ele refletindo se tudo aquilo tem algum significado maior ou não, pra mim sendo ela o ápice do existencialismo que ele invoca no álbum porque ele não chega a uma resposta clara, ela é muito bem escrita e tem um instrumental lindo de bateria com piano que é uma das melhores coisas que ele já produziu, por enquanto é a minha música favorita desse ano. E para encerrar o álbum naquele clima pra cima a última música "Tomorrow Will Never Know" é uma música de 11 minutos abstrata e psicodélica com sons de toques de telefones e risadas de crianças em looping sobre o Mac Miller falando mais uma vez sobre a morte se perguntando se os mortos sonham igual a nós, e no final refletindo como ele gostaria de ter mudado as coisas se ele pudesse mas no final o instrumental apenas continua e continua sem a voz dele e o telefone tocando, porque no final ele não conseguiu atender o telefone, trágico e bonito para ser a música que encerra esse álbum.
A produção desse álbum é belíssima, do que eu vi quase nada foi alterado do que tinha sido vazado antes, a essência do Mac está aqui com esse Neo Soul que mais tarde ele traria no seu melhor em Swimming em 2018, e o flow do Mac Miller aqui é muito mais cantado do que rimado, mais uma coisa que difere muito do que ele estava fazendo antes desse álbum e iria investir mais no Swimming. O Thundercat, amigo de longa data do artista e um dos seus melhores feats, é incrível com o seu baixo no álbum, só de você ouvir você já sabe que é ele ali, ver a SZA tão nova com tanta segurança naquelas músicas só mostra que o mundo infelizmente perdeu além de um grande artista também um grande produtor e mais colaborações desses dois. O Flying Lotus que já estava trabalhando com o Mac por essa época de 2013-14, inclusive na incrível "S.D.S", dá todo aquele experimentalismo que ele é conhecido por fazer em suas músicas e aqui casou completamente com o projeto e a sua temática. O disco tem desde músicas mais puxadas para o Soul com pianos, baixos e bateria, até uma guitarra que puxa para um rock em "Stoned" e muito experimentalismo como é na última faixa que eu citei antes, tem instrumentais dançantes e tem instrumentais mais minimalistas e etéreos, tem tudo para quem é fã do Mac Miller e da sua obra. Agora se eu tiver uma crítica negativa ao álbum é a faixa com o Delusional Thomas que é um alter ego do Mac com uma voz toda modificada, e eu nunca fui muito fã desse alter ego dele e aqui ele também não foi pra mim em "Transformations" que foi a faixa do álbum que eu menos gostei.
O Mac Miller é meu artista favorito, eu já falei isso no blog várias vezes, e para mim receber um álbum póstumo dele da fase dele que é a minha favorita musicalmente é receber um presente de aniversário muito antecipado em 2025. O artista aqui mostra o quanto ele estava a frente do seu tempo, trabalhando ideias que mais tarde iriam consagrar ele com a crítica e seus fãs, conseguindo mesclar temas super pesados em músicas super leves, conseguindo mesclar o sentimento de desesperança com a vida com o sentimento de se sentir imortal, e conseguindo falar da sua pior fase ainda sendo o Mac Miller divertido e sorridente que todos viamos em suas entrevistas e aparições públicas. Se eu não soubesse que todo esse material tinha sido gravado a quase 11 anos atrás eu acharia que o Mac Miller voltou para falar que ta tudo bem do outro lado, ele finalmente achou a sua paz e o seu céu mas ele acabou ficando entediado e resolveu fazer mais um grande álbum para os seus fãs curtirem.
Então com isso nós damos a última volta na carreira do lendário Mac Miller e ironicamente foi uma volta para o seu passado, onde ele ainda estava no seu santuário tendo suas aventuras dentro de um quarto e relatando o que saia de sua cabeça. E é muito louco pensar o quão prolífico ele foi principalmente nessa época e quantas ideias e sonoridades diferentes ele tinha tanto em sua lírica quanto na sua produção, e ele morrer aos 26 anos tendo lançado um álbum incrível, tendo deixado outro álbum incrível quase pronto e mais um incrível que ele só não quis lançar só prova o tamanho do talento que a gente perdeu e o quanto ele estava a frente do tempo em tudo. Álbum incrível para quem é fã do Mac Miller, fã de rap com soul ou pra quem é fã de música no geral, se esse é o último álbum que vamos receber oficialmente dele é uma grande despedida.
E essa é gif que representa minha reação ouvindo Balloonerism:
I swear to god, heaven feels just like home
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