2024 é um dos melhores e mais importantes anos da música moderna. Sim, depois de alguns anos muito estranhos pós pandemia em que não parecia claro exatamente para qual lado a música iria, nem qual seria as próximas tendências, finalmente tivemos um ano de grandes momentos e de música muito boa, foi até difícil limitar essa lista para menos de 20 álbuns e escolher apenas os top dos tops e mesmo assim eu não consegui reduzir para 10. Então sem mais delongas esse foi os 13 grandes álbuns do ano para mim.
12.Future e Metro Boomin - WE DON'T TRUST YOU
O que une as pessoas??? Interesses semelhantes, dinheiro, poder, e muitas outras coisas, porém em 2024 lançou um álbum que uniu vários artistas em torno de um tópico e que por coincidência também é um tópico de muito interesse meu: o desprezo pelo artista Drake. Esse é o tema central da primeira colaboração entre o rapper Future e o produtor Metro Boomin, que já era um emparelhamento destinado a dar certo, Future sempre voou baixo em beats do Metro desde a sua viciante colaboração com o The Weeknd em "Low Life", e o hit "Superheroes (Heroes ans Villains)" em 2022, e essa química entre os dois é o que faz esse projeto funcionar na maior parte do tempo, claro, ver vários rappers aparecerem para mandar indiretas para o Drake é bem maneiro também mas esse disco não estaria aqui se ele não estivesse recheado de BANGERS. O Metro entrega um produto menos sombrio do que suas colaborações com o 21 Savage e algo bem mais para o trap festeiro do final da década de 2010 que o Future é conhecido por fazer, e é aquela história, você dá um bom beat para o Future e ele provavelmente vai te dar um hit. O jeito que o flow do rapper acerta nas primeiras três tracks é o que faz você ficar preso dentro do projeto e querer ouvir mais dele, e ai quando já tá bom vem aquela virada de beat insana em "Magic Don Juan (Princess Diana)" com o Future entrando certinho na batida e vira ABSOLUTE CINEMA. Mas claro que o impulso para esse disco ser tão falado além dos seus dois nomes principais são as suas participações escondidas durante o álbum, "Type Shit" é atmosférica, energética, psicodélica, algo que apenas Future, Travis Scott e Playboi Carty poderiam acertar juntos, "Everyday Hustle"é um dos beats mais fora da casinha que o Metro já produziu com um dos melhores versos do Rick Ross, The Weeknd em "Young Metro" mostra porque precisa um dia ter um álbum colaborativo entre ele e o Metro, mas claro que tudo isso só é apenas a introdução pra mim falar da track que roubou esse disco, e toda a atenção. "Like That" é uma música perfeita, o beat é um dos melhores trabalhos do produtor, o Future faz um verso muito carismático e prepara o terreno para um dos melhores versos de todos os tempos do Kendrick, o que ele fez ali foi uma das melhores declarações de guerra já feitas, eu já tenho um artigo analisando o verso todo, e eu mantenho a minha opinião de que de todas as diss tracks que saíram entre Drake e Kendrick em 2024 essa ainda é a melhor música. WE DON'T TRUST YOU tem seus defeitos, eu acho que ele poderia ter umas quatro músicas a menos para ser mais fluído e ele acaba ficando um pouco repetitivo nos temas perto do final, mas isso não o tira o brilho de um álbum com tanto trap bom, e que foi um grande marco para esse ano, abrindo aqui essa lista. Os destaques são: We Don't Trust You, Young Metro, Like That, Magic Don Juan (Princess Diana) e Everyday Hustle.
Mas se o seu rolê não é muito rap/trap e você quiser saber de BANGERS da cena do Metal eu tenho uma porrada de metal hardcore condensada em um álbum de menos de meia hora para você ouvir. 2024 foi o ano de retorno de uma das bandas mais interessantes do cenário do Metalcore nos últimos anos, o último disco do Knocked Loose havia sido lançado antes da pandemia e agora finalmente os fãs da banda puderam ouvir do ponto de vista deles como está o mundo atual. E esse relato vem na forma do grito visceral logo nos primeiros segundos do disco na primeira música "Thirst", com uma bateria alucinada vindo junto, e isso já dá o tom de todo o resto da obra, muito barulho misturado com muita angústia por parte do vocalista Bryan Garris. Liricamente o disco fala dos temas que eles são conhecidos por tocar, críticas à religião, ao sistema e os próprios sentimentos do vocalista sobre como as coisas são, e isso aliado a crueza da produção junto com os riffs e a bateria super destacada faz com que cada música que se suceda seja parte de uma experiência contínuas que é ouvir esse disco. Eu já tinha ouvido falar dessa banda e já tinha ouvido o seu primeiro álbum mas foi só com o burburinho que esse disco estava fazendo nos sites de rock que eu fui parar pra escutar eles mesmo e posso dizer que esse é sem dúvida o meu trabalho favorito deles, eu que sou um grande fã de screamo, de produção crua que deixa os músicos martelam seus instrumentos e ver no que dá, e de estruturas musicais ortodoxas adorei esse álbum, principalmente por ele ter muitos momentos de Nu Metal me lembrando bastante o primeiro álbum do Slipknot de 1999. Por fim eu queria elogiar muito a Poppy, que em uma das mudanças de carreira mais estranhas e bem sucedidas (que eu ainda vou escrever sobre aqui nesse blog) foi de pop para o metal alternativo e se achou completamente, no começo parecia mais uma gimmick dela, mas ela voa completamente em "Suffocate" na participação especial dela aqui, pra mim a melhor música do álbum. E eu vou falar os destaques mas como eu disse antes é um album de menos de 30 minutos e ele fica muito melhor se escutado por inteiro, então se essa é sua praia eu mais que recomendo. Os destaques são: Thrist, Piece by Piece, Suffocate, Slaughterhouse 2 e The Calm That Keeps You Awake.
Eu gosto dessa fase da Beyoncé em que ela é tão grande que ela pode fazer álbuns de outros gêneros e não parecer uma poser ou algo por dinheiro, é como se ela já fosse um gênero musical, o Cowboy Carter é seu segundo álbum nessa pegada e pra mim é melhor do que o RENAISSAINCE. A Beyoncé já havia tocado o pé no country algumas vezes, ela é do Texas, então não seria estranho para ela embarcar nesse gênero, mas isso não quer dizer que ela faria automaticamente um álbum bom, isso teria que vir do seu talento, e aqui ela se esforça bastante para entregar um álbum que não apenas é uma grande homenagem para esse gênero e para as pessoas negras presente nele, como também é um disco de country com o toque Beyoncé. A faixa que abre o disco já dá o tom do que vai ser o projeto, com uma pegada mais pop country do começo dos anos 2000 mas com o foco total na voz da cantora que brilha muito aqui. Pra mim o ponto forte desse álbum é que é uma combinação do amor da cantora pelo gênero mas ainda com os hits que ela é conhecida por fazer, o disco tem participação de lendas da música country como a Dolly Parton, Willie Nelson e Linda Martell, espaço para músicos negros do country atual brilharem como Willie Jones, e a Beyoncé brilhando com os atos pops atuais como a Miley Cyrus e o Post Malone, que brilha bastante em "LEVII'S JEANS" provando que a Beyoncé consegue extrair o melhor das pessoas que ela trabalha porque ele parece bem mais solto aqui do que no próprio álbum de country dele lançado esse ano, além dela fazer um dos traps mais insanos do ano com "SPAGHETTII", essa faixa só me fez ter mais vontade de ver a Beyoncé em um álbum inteiro de rap dela um dia. Eu já ouvi bastante country, hoje em dia eu tô bem longe do gênero, mas eu sei que recentemente tem uma fusão do gênero com outros gêneros e muito artista fazendo álbuns vazios de country apenas para lucrar em cima do boom que o gênero voltou a ter, e em meio a tudo isso é muito bom ver um álbum que além de uma grande homenagem soa tão honesto e você consegue ouvir a paixão da pessoa pelo gênero nas músicas. Eu ouvi esse álbum aleatoriamente em um parque com os meus amigos e na mesma hora eu soube que ele entraria aqui. Ah, e o cover de Jolene é bom sim, as pessoas que são chatas. Os destaques são: AMERIICAN REQUIEM, 16 CARRIAGES, TEXAS HOLD 'EM, SPAGHETTII e LEVII'S JEANS.
O nosso gangsta de coração partido mais engraçado não para de melhorar, depois de ir para lados bem experimentais na década passada e se dar muito bem, Vince continua na pegada do seu último trabalho de 2022 RAMONA PARK BROKE MY HEART vindo com aquele boombap californiano raiz, porém com uma lírica mais afiada e bem mais sombria. Antigamente os temas que o Vince tocava vinham da sua vida passada como membro de gangue e a sua juventude, aquela ideia de viver rápido e morrer jovem, porém agora Vince já tem 31 anos, bem sucedido e conseguindo cada vez mais coisas, e é ai que ele tem que encarar desafios novos em sua vida e aqui ele expõe um pouco disso. O disco como já é dito no seu título e pela sua capa minimalista fala de tempos sombrios, a segunda faixa "Black&Blue" que vem depois de uma intro já mostra essa honestidade lírica do rapper falando como provavelmente ele vai para o inferno por causa das suas atividades criminosas e se perguntando se todo o dinheiro e notoriedade que ele ganhou por causa disso vai valer a pena se as portas do céu não se abrirem para ele. Então o rapper continua no resto do disco tocando em temas como isolamento, o sentimento que ele não pode confiar nas pessoas e romances que acabaram errado, o que pra mim é a especialidade do rapper, "Justin" desse álbum é fantástica. E por fim toda essa jornada culmina na última música "Why Won't The Sun Come Out?" que nem tem o Vince Staples nela, mas é um monólogo da artista Santigold que ela mandou para o Vince após ele tocar o álbum para ela, que é uma grande reflexão sobre como a criatividade pode unir as pessoas mesmo nos problemas mais comuns, e eu achei uma forma genial terminar um álbum tão reflexivo com uma reflexão de uma amiga do rapper depois dela ouvir o álbum. O Vince Staples é provavelmente um dos rappers mais subestimado de todos os tempos, ao ponto em que talvez a personalidade pública dele seja mais conhecida que as músicas dele como rapper, e infelizmente Dark Times não vai ser o álbum que vai tirar ele dessa situação, o disco foi lançado de surpresa, sem promoção nenhuma e com apenas um vídeo para acompanhar ele, mas se você gosta do trabalho do rapper aqui nesse álbum é o lugar certo para você, ele traz toda aquela vibe de mistura de boombap com RnB junto com flows bem diferentes do que outros rappers andam fazendo hoje em dia e talvez as suas melhores letras, inclusive eu estou bem perto de aceitar que esse é meu álbum favorito dele. E não tem nada a ver com esse disco mas assistam The Vince Staples Show na Netflix, é uma das coisas mais hilárias que eu vi nos últimos anos, e vai ter segunda temporada. Os destaques são: Black&Blue, Government Cheese, Shame On The Devil, Justin e Nothing Matters.
8.Westside Gunn - Still Praying
BRRRRRRRRRRRRRR BOOM BOOM BOOM Westside Gunn sempre é bom, se é o Westside Gunn com a palavra "Pray" no título do álbum é ainda melhor, aí você pega o DJ Drama e coloca nessa equação e ainda por cima adiciona Kurt Angle no mix e as chances de termos um grande álbum aumenta em 33%. Sim, como o representante do "álbum sobre vender e ou usar cocaína" desse ano nós temos o segundo álbum que o Gunn lançou em 2024, porque não apenas é o Westside fazendo o que de melhor ele faz mas com a adição do DJ Drama fazendo tudo parecer uma mixtape fodástica dos anos 2000. O Gunn aqui nao reinventa a roda, os beats são boombaps sujos sem drums e os assuntos do rapper continuam sendo sobre os tempos em que ele era o vendedor de coca mais fodão de todos os tempos, dezenas de referências a wrestling que só quem é mergulhado nesse universo vai pegar e o argumento irrefutável que ele é muito mais rico do que você, mas é aquilo, em time que tá ganhando nao se mexe, e ele mais uma vez acerta na mesma fórmula, fazendo música foda atrás de música foda enquanto coloca skits de rappers de Bufalo e o DJ Drama falando por cima de todas as faixas, o que já era um argumento que eu usei no Call Me If You Get Lost, todo álbum fica melhor com o DJ Drama comentando todas as suas punchlines logo depois de você fazer e gritar que nenhum desses outros rappers poderiam fazer isso. E eu tenho que falar o quão genial é acabar "Beef Bar" com uma skit de rap inteiro no ringue do Max Caster apenas para ir para a próxima música chamada... "Max Caster" onde o rapper faz várias punchlines com o lutador da AEW. O resto do trio de ouro da Griselda aparece no álbum com o Conway em "Free Shots" que tem uma das melhores batidas do ano pra mim, que sample lindo, e o Benny junto com os outros dois na faixa título, e quando esse trio está junto é igual a NWO em 1996, não tem como errar, a música tem um tom bem cinematográfico e os três mandam muito bem. Eu sou um gigante fanboy do Westside Gunn porque parece que ele faz os álbuns com os temas que eu estou interessado, e enquanto ele me der os mesmos raps com essa mesma qualidade ele vai ter um lugar na minha lista de álbuns favoritos do ano. E descanse em paz Sycho Sid. Os destaques são: Beef Bar, Max Caster, Dr. Britt Baker, Duran Duran, Free Shots e Still Praying.
7.NxWorries - Why Lawd?
NxWorries (pronunciada no worries) é uma superdupla formada pelo famoso e consagrado cantor de RnB Anderson .Paak e o produtor Knxwledge, que você pode não ter ouvido falar mas você já ouviu a produção dele nos trabalhos de nomes como Kendrick Lamar, Joey Bada$$, Westside Gunn, Roc Marciano dentro muitos outros, os dois fizeram o primeiro álbum deles juntos em 2016 chamado Yes Lawd!, depois disso Anderson lançou uma sequência incrível de álbuns com Oxnard e Ventura com trabalhos solos e a sua colaboração épica com Bruno Mars como parte do supergrupo Silk Sonik, todos esses álbuns apareceram nas minhas listas de álbuns do ano e eu escuto os três até hoje, então quando parecia que o Nxworries foi apenas uma parceria de apenas uma vez a dupla volta ainda melhor, Anderson como uma superestrela consagrada e Knwxledge com a sua melhor produção até então. O produtor consegue extrair o que de melhor tinha no Anderson de 2016, fazendo umas batidas mais puxadas para um funk anos 80 potencializando muito a voz do Anderson que faz aquelas rimas cantadas dele muito mais gostosas de se ouvir. O Anderson liricamente se mostra mais adulto aqui trazendo uma persona menos "jovem que pensa que é o cara mais sedutor da terra" e mais uma alma quebrada com relacionamentos fracassados mas que ainda pensa que é o sujeito mais sedutor da terra, a culpa nunca está nele e sim nos outros, são algumas letras bem cafajestes e muito boas. E essa química entre os dois potencializa também os feats, com o Thundercat e a H.E.R entrando perfeitamente na proposta do álbum, o Snoop Dogg trazendo todo o seu carisma para encerrar "FromHere" e um verso convidado muito carismático do Earl Sweatshirt, eu adoraria ver ele mais numa batida mais animada assim porque ele killou nessa. Anderson .Paak está em uma das sequências de álbuns mais impressionantes que eu já vi, parece que ele simplesmente não consegue errar, e quando ele encontra um produtor que entende perfeitamente como trabalhar a sua voz, ai ele consegue potencializar ela ainda mais, que venham mais trabalhos do NxWorries. Os destaques são: 86Sentra, KeepHer, Where I Go, Lookin', Where I Go e WalkOnBy.
6.Twenty One Pilots - Clancy
Twenty One Pilots retorna para encerrar a sua complicada história contada em torno de todos os seus álbuns e fazer também o seu melhor trabalho até aqui. Quando o álbum abre com "Overcompensate" com aquele piano que se transforma em uma distorcão para um rock alternativo com música eletrônica com o Tyler fazendo versos ritmados em rap por cima, pronto, o disco já me prendeu ali na primeira faixa. Claro que para os super fãs da dupla o interesse está mais sobre a construção desse mundo ficcional que está presente em todos os trabalhos deles (já vamos falar disso), mas pra mim o que faz esse álbum estar aqui é a sonoridade diferente dele. Esse é o trabalho mais ousado em sonoridade desses dois, como eu falei a primeira música do álbum já é um mix muito bem feito de tudo que eles são conhecidos por fazer bem, apenas para a segunda música sair completamente dessa pegada eletrônica e ir para um pop punk começo dos anos 2000 direto e muito bem feito, e logo na faixa seguinte "Backslide" ser uma batida sintetizada bem levizinha, e assim é o álbum, alternando em batidas eletrônicas pesadas, sintetizadores, e baladas de rock levizinhas as vezes puxando para um rock alternativo que lembra bastante o trabalho das bandas punks dos anos 90, e no meio disso a performance vocal do Tyler está perfeita, com ele conseguindo carregar os momentos mais sérios do álbum com uma presença vocal muito foda mas também tendo aquele flow carismático e meio sarcástico quando ele faz as partes de rap no álbum. Liricamente o álbum acompanha Clancy, o personagem do álbum Trench que é capturado e forçado a escrever o álbum da pandemia da dupla Scaled And Icy, e aqui a gente vai conhecendo mais do personagem, como o seu medo de estar preso nos mesmos erros do passado, lutando contra os demônios da noite que é uma alegoria para a insônia do personagem, e a sensação de estar sempre no mesmo lugar em relação ao universo, com a segunda parte do álbum sendo mais otimista, essa é a história do Clancy afinal, ele escapa de Trench e sempre é pego de volta, e embora possa parecer que aqui o círculo continua o álbum também serve para o Tyler, que sempre usou esse universo e essas personagens para retratar seus próprios problemas de saúde mental, demonstrando que talvez ele não nao precise mais dessas alegorias em suas músicas e pode finalmente deixar o Clancy fugir, pelo menos é uma interpretação da última música do disco "Paladin Strait" que é uma localização no último mapa de Trench (sim, é uma lore bem longa). Por fim, em questão de maturidade lírica e principalmente de criatividade instrumental a dupla entrega para mim a sua melhor obra, e eu mal posso esperar para ver o que mais eles tem no seu arsenal para o futuro. Os destaques são: Overcompensate, Next Semester, Backslide, Routines In The Night, Navigating e Paladin Strait.
5.Charli XCX - brat
Eu sou o cara do rap, existem poucos atos pops que eu sou muito interessado e escuto todos os lançamentos, Chali XCX não é um desses atos, então quando até eu não consegui escapar do fenômeno Brat você sabe o tamanho que foi isso em 2024, e o meu maior medo era esse álbum não ser bom, porque não necessariamente um fenômeno musical quer dizer música boa, mas esse meu medo era infundado porque brat é realmente o marco sonoro que todo mundo me prometeu que era. Não tem muito o que falar de forma complexa sobre esse álbum porque é exatamente a forma direta dele que fez o que ele é, hyperpop divertido pras pessoas usarem muita droga e dançarem muito na balada, inclusive pra mim é isso que faz esse álbum esse fenômeno todo além do verde e da estética, ele é divertido, um álbum de quem tá em ressaca pronto para voltar a beber e já está nessa a uma semana, e isso é completamente fora desse pop sofrência de chorar por ex que se popularizou tanto na música pop na ultima década. Essa música de rave dos anos 2000 aliado com o estilo que a cantora foi cultivando durante toda a sua carreira revitalizou completamente a música eletrônica no mainstream ao ponto de que um monte de outros artistas pops resolveram fazer a sua versao hiperpop com resultados questionáveis já mostrando o impacto direto dessa produção minimalista do álbum que ditou grande parte da sonoridade do ano. As letras também são bem diretas, sobre festa, relacionamentos confusos, pessoas confusas e a obsessão que as pessoas tem por garotas más na já icônica "Mean Girls". Eu lembro de uma época em que a música pop era sobre dançar até de manhã mesmo que você não conseguisse pagar o seu aluguel no dia seguinte, eu cresci ouvindo artistas como Pitbull, Ke$ha, e FLOrida e por mais que talvez essas músicas não se sustentem em qualidade nos dias de hoje ainda assim é muito bom ver alguém resgatando esse pop eletrônico dançante de novo fazendo ABSOLUTOS BANGERS no processo. Eu sou muito fã de música eletrônica, eu já fui em algumas poucas baladas eletrônicas e em 2025 eu espero muito ir em mais uma e ouvir 360 no meu mais alto nível de diversão possível. Os destaques são: 360, Club Classics, Sympathy is a Knife, i might say something stupid, Rewind e Mean Girls.
4.Denzel Curry - King Of The Mischievous South Vol. 2
Existem duas certezas na vida: a morte e que se o Denzel Curry lançar um álbum o Fantano vai dar 8 e ele vai aparecer na minha lista de álbuns favoritos do ano. Curry retorna depois de ter feito o que muitos consideraram a sua obra prima com seu álbum de 2022 Melt My Eyez See Your Future (eu ainda acho o Taboo melhor) em que ele se abriu completamente mostrando um lado lírico seu nunca visto antes e uma produção muito diferente do seu estilo habitual de rap sulista espalhafatoso, então aqui no seu sexto álbum ele traz tudo de volta para o início para termos aquele Denzel que a gente viu no inicio de carreira mas com a maturidade que ele demonstrou nos seus últimos lançamentos. Na verdade o volume 2 já mostra que esse álbum não é tanto uma sequência direta de Melt My Eyez e mais uma sequência da sua terceira mixtape King Of Mischievous South Vol. 1 Underground Tape 1996 lançada em 2012, antes de Imperial, antes de Ultimate, antes da icônica XXL Cypher e de todo o sucesso que o rapper teria no seu futuro, e ele serve como um back to basics e também como uma grande homenagem para as inspirações do rapper e da onde ele veio. A produção aqui volta a ser abrasiva, com uma vibe abafada e atmosférica me lembrando bastante os primeiros trabalhos da A$AP Mob, e o Denzel está rimando pra caralho aqui trocando de flows, fazendo refrões cativante, aquele estilo de rima que fez ele aparecer nos meados de 2015 com letras sobre como ele não confia em ninguém e você não vai querer cruzar o caminho de um homem como ele. Além da homenagem ao rap sulista na produção o Denzel traz muita gente que foi e está sendo influente para esse subgênero, são mais de quinze participações especiais, que vão desde a TiaCorine trazendo todo o carisma dela para "HOT ONE", um mano chamado That Mexican OT que eu nunca tinha ouvido falar na minha vida fazendo um dos melhores flows que eu ouvi esse ano em "BlACK FRAG FREESTYLE" e o A$AP Rocky dando as caras em "HOODLUMZ" que me fez muito nostálgico porque parecia muito algo da primeira mixtape dele. Denzel em 2024 só queria se divertir e fazer BANGERS, e eu não poderia pedir mais dele. Os destaques são: ULTRA SHXT, HOT ONE, BLACK FRAG FREESTYLE, G'Z UP, WISHLIST e HOODLUMZ.
3.Tyler, The Creator - CHROMAKOPIA
Eu vou escrever um pouco menos sobre esse porque eu já escrevi uma crítica inteira para ele no blog. Tyler é para mim sem dúvidas o artista musical mais criativo vivendo nesse momento, quando parece que ele já mostrou todas as suas facetas e que você já sabe de todos os seus truques ele vai lá e vira uma nova curva e mostra outro lado seu. CHROMAKOPIA é um álbum sobre maturidade e principalmente a conhecida crise dos 30 anos, o artista que por muito tempo o poster boy do que um millenial que cresceu sendo uma criança estranha que faz teatro seria se ficasse famosa agora é um adulto que tem que lidar com temas da vida adulta que todos nós temos, como por exemplo se ele quer ou não constituir uma familia, se ele quer ou não filhos, e se ele quer essas coisas ele já não deveria estar correndo atrás disso ao invés de estar apenas tentando viver a vida se divertindo, e o Tyler mostra esses problemas de uma forma muito madura, como eu falei na crítica eu acho que a caneta dele nunca esteve tão inspirada, é o álbum mais bem escrito que o artista já fez, ele consegue ser o Tyler divertido e que faz músicas viciantes enquanto consegue tocar em temas sérios como a decisão de fazer ou não um aborto por duas perspectivas diferentes, a dele e a da mãe em "Hey Jane", ele inclusive está rimando por várias perspectivas diferentes besse álbum, não apenas fazendo o seu habitual jogo de personagens com o St. Chroma simbolizando ele nesse disco como também rimando sobre os problemas de outras pessoas na faixa "Take Your Mask Off" justamente pra incentivar as pessoas a tirarem suas máscaras. Como eu falei na crítica eu não acho que esse álbum vai ter o mesmo impacto no mainstream que os seus últimos dois trabalhos tiveram, parece um álbum estranho de propósito apenas para ele poder desabafar sobre os seus dilemas atuais, e pra mim a prova disso é uma faixa tão ortodoxa como "Noid" ter sido lançada como single principal do album, mas sim, o álbum tem suas músicas mais puxadas para um pop normal que o Tyler faz mas aqui o uso do neo soul é bem mais acentuado, fazendo esse um álbum mais para os fãs do Tyler do que para os fãs de "See You Again". Para mim top 3 álbuns do Tyler já feitos, um dos seus mais criativos e bem montados em temas e escolhas de samples, e seria top 2 aqui nesse top se um baixinho de Compton nao tivesse lançado de última hora. Os destaques são: St. Chroma, Rah Tah Tah, Noid, Darling I, Hey Jane, Take Your Mask Off, e I Hope Your Find Your Way Home.
2.Kendrick Lamar - GNX
O que Kendrick Lamar fez em 2024 ainda vai ser estudado por quem ama música nas próximas décadas, nós ainda não temos a dimensão real do que foi, o que foi Michael Jackson em 1982 e Beyoncé em 2016 foi o Kendrick em 2024. De fazer um dos melhores versos convidados de todos os tempos, para vencer com sobras a maior beef de rap desde Tupac vs Biggie, para ser anunciado para tocar no Super Bowl do ano que vem, e quando parecia que ele poderia finalmente descansar em um universo balanceado ele vai lá e lança um videoclipe de uma música nova, 30 minutos depois o álbum novo é lançado, sem aviso, sem promoção, e ainda pegou o primeiro lugar na Billboard, inacreditável. Uma das grandes críticas a Kendrick Lamar é que ele não era um rapper divertido de escutar, e por mais que eu discorde, tem um argumento a ser feito ai de um conscious rapper que vem da West Coast, que é conhecida como a área em que se faz hit, então após vencer o Drake ele disse "ok, é rap californiano pra dirigir low rider que vocês querem, então eu vou fazer um álbum disso só pra provar que eu posso e que eu sou o melhor nisso também". Quando na primeira musica começa aquele intro em espanhol cantada pela Deyra Barrera pra aquele beat intimidador vir com o Kendrick falando "ontem alguém pixou o meu muro" pronto, eu já estava vendido no álbum. É engraçado como o rapper conseguiu fazer essa reputação de bicho papão em menos de um ano, vamos lembrar que ele não tinha nenhuma diss track antes desse ano, mas ele vende muito isso em "wacced out murals" falando como ele era um fã do Lil Wayne e agora o trabalho duro dele deixou o Wayne mal e que não fecha com os outros rappers porque o Nas foi o único que ligou para parabenizar ele pelo Super Bowl. Mas por mais que essa faixa de introdução possa indicar que o Kendrick ainda quer todo o smoke, na verdade o que ele mais quer com esse álbum é prestar homenagem para o rap de West Coast, logo em seguida temos "squabble up" que é quase um jogo de quantas referências ao West Coast rap você pode pegar e é um puta de um hit, mas claro que se a gente quer falar de hit a gente tem que falar de "tv off", que para mim pelo menos é mais viciante que "Not Like Us", a música nasceu pra ser um meme e ser escutada no volume máximo, eu me sinto lavando meu carro em Comptom só ouvindo ela. Kendrick também tira um tempo para falar sobre os seus parceiros da TDE e como as coisas eram no início para eles, servindo como uma despedida oficial dele da gravadora em "heart pt. 6" e fechar o álbum em uma colaboração linda com a SZA em "gloria" onde ele fala com a mulher da faixa título sendo uma alegoria para as suas próprias glorias na sua carreira e na sua vida. Em resumo, se você é desses que fala que o Kendrick é complexo demais, que quer apenas música para escutar na sua própria vibe, GNX é o álbum menos complexo e mais divertido do Kendrick, mostrando que ele pode fazer hits como qualquer outro rapper genérico que está estourando nesse momento ao mesmo tempo agradando os fãs atuais e os novos que ele conseguiu em 2024, e pra mim o próximo passo dele deveria ser um álbum colaborativo com a SZA porque puta que pariu eles arrasaram nas duas músicas que eles tem juntos aqui, e inclusive pensando bem eu acho que eles nunca entregaram uma faixa abaixo trabalhando juntos. Os destaques são: wacced out murals, squabble up, luther, reincarnated, tv off, dodgee blue e gloria.
1.Febem - ABAIXO DO RADAR
"Esse é o trabalho social, a música que muda a atitude das pessoas, que entra na mente" essa é uma fala do KL Jay no Racionais em uma clássica entrevista quando perguntado se o Racionais fazia algum trabalho social, ela também é a introdução para "OBRIGADO MAINSTREAM" faixa desse álbum do Febem, mas que também é o resumo perfeito de tudo que esse álbum quer passar. O disco abre com a faixa que dá nome ao álbum, com o Smile cantando uma reza para São Jorge para que seus inimigos nao consigam lhe fazer nenhum mal, para então entrar um trapzao e o Febem repetir o que vai ser o mantra que vai guiar o tema desse álbum "acima da média, abaixo do radar", o que é estar acima da média e ainda assim estar abaixo do radar??? É isso que o Febem vai nos responder nas próximas 9 faixas em um mar de contradições sobre a sua própria carreira e a sua posição no rap atual, ele é uma referência para inúmeros outros Mc's que se enxergam nele, mas o que isso adianta??? Ele não está vendo mais dinheiro por causa disso, na verdade ele está perdendo dinheiro por manter a sua autenticidade, como ele diz em "RELÓGIO" que perdeu 40 mil só por dizer "Palestina livre", as pessoas de dentro do rap querem a posição dele mas que não o coloca em lugar nenhum. E ironicamente o que faz esse álbum tão incrível é a autenticidade do Febem nele, a sinceridade de dizer que talvez ser um artista independente não tenha sido a sua melhor escolha, que tem dias que ele acorda se sentindo um nada mas que ele não pode desistir justamente por ele ser uma referência e o sustento da sua família, se ele não conseguiu como as pessoas abaixo dele vão conseguir??? Então ele continua e continua ao mesmo tempo que celebra suas conquistas como ter feito um comercial para a Nike, é a parte boa de estar acima da média. E o disco fecha com o Febem falando sobre saúde mental em "MAIS UM DIA" não apenas trazendo o clássico pensamento de "vamo dormir que amanhã o dia é outro" mas também uma mensagen de áudio de uma amigo dele pedindo pra ele marcar um psicólogo, o que pra mim é a parte mais importante desse álbum, e ser a última coisa que a gente escuta nele só reforça esse recado. Eu lembro que eu escutei esse álbum no ônibus voltando da praia, eu planejava escutar vários álbuns mas eu fiquei preso nesse, eu escutei ele três vezes seguidas naquele mesmo dia, e na mesma hora eu já sabia que esse seria o meu disco do ano, ele fala de muitas coisas falando pouco, quem nunca se sentiu acima da média mas não com o devido reconhecimentos na área que escolheu ou até mesmo de amigos e familiares, quem nunca tentou viver um sonho e no meio do caminho começou a se perguntar se era esse o caminho mesmo, fora isso a produção do CVSAR que é um dos melhores produtores brasileiros ta muito afiada, ele e o Febem são uma combinação de boombap que beira a perfeição e ele soube dar os beats certos para o que o Febem queria passar. Pra mim não apenas o melhor álbum da carreira do Febem e o melhor álbum que eu ouvi em 2024 como também está entre os dez melhores álbuns de rap nacional de todos os tempos, um brinde para todos os poetas de camisa de time. Os destaques são: o álbum só tem 25 minutos vai logo escutar ele.
E essa foi a minha lista de melhores álbuns do ano, como eu falei muita coisa ficou de fora, Logic e Schoolboy Q lançaram ótimos álbuns que enriqueceram suas discografias, Lupe Fiasco fez um álbum com um conceito bem interessante como homenagem a Amy Winehouse em Samurai, eu finalmente comecei a entender $uicideboy$ em New World Depression, o disco da gravadora 1999 write the future também é bem estranho e muito criativo, o álbum da Billie Eilish ficou muito bom mas pra mim um pouco abaixo dos outros dela, eu ainda não ouvi o disco do Sant nem o do Linkin Park, se forem bons eu faço review aqui, enfim, muita música boa, 2024 foi um ano de música boa. Esse é o último post do ano, eu fiquei muito feliz de ter tido uma regularidade maior no blog esse ano mesmo com a vida de adulto corrida, e nos vemos de novo em 2025, em Janeiro já, até lá.
Parabéns por conseguir escutar tanta coisa e ainda extrair tanta informação sobre esse tanto de coisa. Desses aí eu talvez escutasse os albuns da Beyoncé e da Charla.
ResponderExcluirAcho que vc ia curtir bastante do da Beyoncé, valeu pelo comentário meu bom, ano que vem tem mais música diferente no blog
Excluir