Salve meus camaradas! Depois de algum tempo venho trazer uma versão adicional dos melhores discos de 2025 que meu parceiro Leozinho Begafunk fez com maestrie e você pode conferir clicando aqui.
Aqui vou lançar mais 7 discos que gostei muito, não está rankeado, soltei aleatóriamente e analisei todos eles. Venha comigo mergulhar nesse mar de ecleticidade.
Emicida - Emicida Racional VL2: Mesmas Cores & Mesmos Valores
Emicida é um cara que eu maratonei todas as batalhas de rima que existem dele no Youtube quando eu tinha uns 15 anos, mas acabei sendo injusto com a sua discografia muitas vezes. Depois de muito tempo aprendi a compreender o artista e chegamos aqui nesse puta disco foda.
Esse álbum chega num momento específico da vida dele, e da nossa. É um trabalho atravessado pelo luto da perda da mãe, mas sem cair no sentimentalismo fácil. O luto aqui vira matéria-prima pra reflexão, pra balanço de trajetória e pra reafirmação de princípios. É um disco que olha pra trás com consciência e pra frente com responsabilidade.
A homenagem a Cores & Valores, dos Racionais é extremamente interessante. Emicida entende o espírito daquele disco que muita gente nunca soube ler direito. A secura, a objetividade, o foco em valores, em legado, em custo emocional e material de existir dentro do sistema. Ele pega essa ideia e traduz pra própria história, pra própria vivência, pro próprio tempo.
O resultado é um álbum profundamente autobiográfico, mas nunca individualista. Emicida fala de suas conquistas, do preço que pagou por elas, da indústria, do racismo estrutural, da desigualdade, tudo como manda o manual do hip hop, mas com uma maturidade que só seis anos de silêncio e vivência poderiam trazer. É um trabalho completo, coeso e necessário. Valia a espera.
E aí vem a faixa "Quanto vale o show memo?". Sem exagero nenhum: ouso dizer que é a melhor faixa de rap lançada no Brasil em 2025. A música é afiada, incômoda e honesta. Um tapa na cara em forma de punch lines. Esse disco não é pra convencer ninguém. É pra quem chegou até aqui junto com ele. E, pra mim, foi o momento em que finalmente entendi tudo.
Playboi Carti - Music
Na primeira vez que eu ouvi Music, a sensação foi bem simples: longo demais. Trinta faixas é coisa pra caralho. Algumas músicas eram BANGERS absurdos, outras pareciam meio jogadas ali, mais fracas, quase descartáveis. Saí com aquela impressão clássica de álbum inflado, que precisava urgentemente de uma tesoura.
Só que aí eu voltei. E voltei de novo. E de novo. Com o tempo, percebi que talvez o erro tenha sido tentar ouvir Music como um álbum tradicional, fechado, coeso, com começo, meio e fim. Esse disco não pede isso. Ele funciona mais como um "buffet livre", e hoje eu agradeço o Playboi Carti por ter me dado essa possibilidade.
Music é um cardápio enorme. Você não precisa consumir tudo de uma vez, nem gostar de tudo. Você escolhe as faixas de acordo com o seu humor do dia: tem som pra quando você quer energia, tem faixa pra quando quer só vibe, tem coisa agressiva, tem coisa mais vazia, mais estética do que conteúdo. E tá tudo bem. O disco aceita esse tipo de relação.
Depois que essa chave virou, o álbum cresceu muito pra mim. Carti não tá preocupado em entregar uma obra "bem comportada". Ele quer volume, excesso, sensação, impacto. É um disco que abraça a própria irregularidade como estética. Nem tudo precisa ser memorável quando o objetivo é criar um universo grande o suficiente pra você entrar e sair quando quiser. E é isso que mais gosto no Playboi Carti.
A produção é gigantesca, barulhenta, às vezes caótica, e o Carti usa a voz mais como instrumento do que como meio de mensagem. Não é sobre o que ele tá dizendo, é sobre como aquilo bate. Music não tenta reinventar o Playboi Carti, ele consolida tudo que ele já representa.
No fim das contas, esse é um disco que melhora com o tempo, não porque ele "se revela", mas porque você aprende a usar ele do jeito certo. Não é álbum pra sentar, dar play e ouvir do início ao fim. É álbum pra abrir uma cerveja, pegar umas oito ou nove faixas, sair satisfeito e deixar o resto pra outro dia. E quando você aceita isso, Music funciona pra caralho.
MC Lan - V3NOM Vol. 1 - Eclipse
Quando você lê que um funkeiro consagrado resolveu fazer um disco de rock, a reação imediata é rir muito. Parece algum meme que você veria no saudoso Rock Wins no Facebook em 2012. Mas isso só vale pra quem nunca prestou atenção de verdade no MC Lan.
Quem acompanha a trajetória dele sabe que criatividade nunca foi problema. Lan sempre flertou com o exagero, com o desconforto, com o erro controlado. E quando um artista assim resolve sair da própria zona de conforto, a chance de vir coisa grande é bem maior do que a de dar ruim.
V3NOM Vol. 1: Eclipse não é um capricho nem um delírio momentâneo. Lan passou mais de um ano trabalhando nesse disco, e isso fica claro logo de cara. É um projeto pensado, lapidado e tratado como obra, não como experimento descartável.
O disco mergulha de cabeça no rock pesado, com flertes diretos com o metal, o industrial e climas quase ritualísticos. Tudo é denso, escuro e carregado de tensão. O conceito do "eclipse" funciona como metáfora perfeita: luz e sombra se encontrando, identidades colidindo, o artista encarando partes de si que sempre ficaram à margem.
Liricamente, Lan se afasta completamente da caricatura que muita gente insiste em colar nele. O álbum é introspectivo, existencial e, em vários momentos, desconfortável. As participações reforçam esse universo ao invés de quebrá-lo. Nada soa gratuito ou fora de lugar. Tudo serve ao clima do projeto, que se apresenta claramente como o primeiro capítulo de algo maior, não um ponto fora da curva.
No fim, o que parecia piada vira afirmação artística. MC Lan não fez um disco de rock pra chocar ou chamar atenção. Ele fez porque precisava. Eclipse não é acessível, não é confortável e não tenta ser. Mas é honesto, ambicioso e corajoso pra caralho.
Quando um artista resolve brincar com coisa séria, o resultado costuma ser esse: um disco que divide opiniões, mas obriga todo mundo a parar e ouvir. Destaco a faixa Darth Vader que ouvi várias vezes e pirei demais naquele solinho.
SINN6R - #FEDERAL
Putz aqui eu fui longe heim. Fui parar no underground britânico, num lugar que pouca gente tá olhando, mas que é bem interessante na cena do rap. Quando ouvi #FEDERAL, do SINN6R, a sensação foi imediata: voltei direto pro auge do trap em 2015 no SoundCloud. Aquela fase em que tudo parecia mais cru, mais perigoso e mais verdadeiro.
Os beats são pesadíssimos, sujos, sufocantes. As rimas vêm afiadas demais, cuspidas com fome, sem firula. Tem uma pegada clara de drill, mas com um tempero britânico que muda tudo: o clima é mais frio, mais tenso, mais paranoico. Nada soa ensolarado ou confortável aqui.
O que mais chama atenção é como o disco é direto. #FEDERAL é curto, quase seco, e isso joga totalmente a favor. Não tem gordura, não tem faixa sobrando. Cada música entra, faz o estrago e sai. SINN6R sabe exatamente o que quer entregar e não fica se explicando.
Liricamente, ele navega entre ambição, excesso, paranoia, dinheiro, pressão e vulnerabilidade. É aquele rap de quem tá tentando subir sem saber exatamente o preço final, e isso deixa tudo mais interessante. A produção ajuda a criar esse ambiente quase claustrofóbico, com 808s agressivos, batidas secas e uma sensação constante de urgência. Mesmo quando o disco desacelera um pouco, a tensão nunca some. Tudo parece estar à beira de explodir.
#FEDERAL não é um álbum feito pra todo mundo, e nem tenta ser. É underground no melhor sentido da palavra. Um disco curto, intenso e honesto, que me lembrou por que aquele trap de 2015 marcou tanto, e mostrou que essa energia ainda existe, só mudou de endereço.
Joey Bada$$ - Lonely at the Top
Sou muito fã do Joey Bada$$. Conheci ele lá em 2014, naquela época em que parecia óbvio que ele seria o próximo grande fenômeno do rap pelos próximos 30 anos. Técnica, presença, visão, carisma, tudo indicava isso, ainda mais pela pouca idade que ele estourou no rap. Infelizmente, a carreira dele acabou sendo marcada por altos e baixos, escolhas estranhas e uma irregularidade que sempre deixou a sensação de "dava pra ser mais".
Lonely at the Top não está entre os maiores discos da carreira dele, isso é fato. Ainda assim, é um trabalho muito interessante. Joey soa mais maduro, mais consciente do lugar onde está, refletindo sobre sucesso, solidão e expectativas. Não é um disco explosivo, é um disco de observação, às vezes até contido demais.
Quando ele cai no boom bap, não tem erro. Ali ele se garante como poucos da geração dele. Flow encaixado, presença natural no beat, aquele rap que parece fácil porque o cara domina a linguagem. Inclusive, sigo achando que, se o Joey resolvesse fazer um disco gangsta de verdade, sem medo, sem tentar agradar todo mundo, ele concorreria tranquilamente a melhor álbum do ano.
O álbum tem seus momentos mais apagados, algumas faixas não deixam muita marca, mas os destaques compensam. “SUPAFLEE”, por exemplo, é facilmente uma das minhas faixas preferidas de 2025. É Joey no modo mais confiante, solto e confortável, exatamente onde ele costuma brilhar.
No fim, Lonely at the Top é um disco bem gostosinho de se ouvir e curtir a vibe. Mesmo não sendo o auge de Joey Bada$$, poucos artistas fariam um trabalho bacana assim. E isso só confirma a sua grandeza e potencial.
Jovem Ateu - Vol. 1
Apesar do nome meio cafona de "Jovens Ateus", a banda é boa. Boa de verdade. Daquelas que quebram a expectativa logo nos primeiros minutos e te obrigam a prestar atenção, mesmo quando você entre desconfiado.
Esse não é o tipo de música que eu costumo ouvir no dia a dia. Pós-punk, darkwave, esse clima mais sombrio e arrastado geralmente não é onde eu fico muito tempo. Ainda assim, a experiência com Jovens Ateus – Vol. 1 foi extremamente positiva. É aquele tipo de disco que te pega pelo ambiente, não pela empolgação imediata.
Esse álbum entra fácil na categoria "sons pra se ouvir bebaço". Música pra madrugada, luz baixa, cabeça cheia e pensamento rodando solto. O clima é denso, melancólico, mas nunca entediante. Pelo contrário: quanto mais você entra no disco, mais ele te puxa pra dentro.
Outro ponto que pesa a favor é que os caras são meus conterrâneos paranaenses, o que soa muito curioso, sabendo que aqui é a terra dos agroboys, e aí surgem esses punks esquisitos e vintage. A curiosidade aumentou ainda mais.
Como disco de estreia, Vol. 1 é muito sólido. Mostra uma banda segura, com estética clara, letras que conversam com desconforto, vazio e deslocamento, e uma sonoridade que, mesmo dialogando com referências conhecidas do pós-punk, não soa genérica. Tem personalidade. Mesmo não sendo exatamente meu território musical, saí do disco respeitando, e voltando pra ouvir mais de uma vez.
Mu540 & Kyan - DOIS Quebrada Inteligente
Um Quebrada Inteligente já tinha sido uma das melhores coisas de 2023. Um projeto que soou fresco, ousado e com identidade própria desde o primeiro play. O mais impressionante é que DOIS Quebrada Inteligente não só conseguiu seguir exatamente nessa linha, como em vários momentos parece até superar o primeiro. Eu já começo achando muito foda a estética da capa, fazendo alusão a Stankonia do Outkast, essa referência me pega muito.
MU540 e Kyan criaram algo que vai além de rótulo fácil. Eles chamam de FRAP: uma mistura de funk, rap e música eletrônica, e faz todo sentido. É um som que nasce da quebrada, mas não fica preso a ela. É periférico, futurista, dançante e agressivo ao mesmo tempo. Um projeto extremamente ambicioso e original que soa como linguagem própria.
A química da dupla é absurda. É como aquele lance clássico da NBA: MU540 é o Kobe lançando a bola perfeita, enquanto Kyan sobe como o Shaq pra enterrar sem piedade. Os beats são sinistros, inventivos, cheios de camadas e pressão. As rimas vem insanas, confiantes, com presença e estilo. Um entende exatamente o espaço do outro, e isso faz toda a diferença.
O disco exalta a cultura periférica com inteligência, estética e personalidade, como o próprio título já avisa. Tudo aqui tem identidade, propósito e atitude. DOIS Quebrada Inteligente é música de pista, de fone, de carro, de caixa estourada na rua. É diversão, é invenção e é afirmação cultural. MU540 e Kyan mostram que quando a quebrada pensa grande e executa melhor ainda, o resultado não é só hit, é obra atemporal.
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É isso meus compadres, espero que tenham apreciado e nos vemos daqui a uns 4 ou 5 meses... ou talvez daqui a 2 semanas... Aguardem! Aproveito para desejar um feliz ano novo a todos, que 2026 seja um grande ano para a música, e que finalmente sobre algo para o beta. Até mais!
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