2023 continua a vibe estranha que a música se encontra pós pandemia, com os artistas ainda parecendo refletir esse período de tempo em seus lançamentos esse ano, sendo no geral um ano com poucos lançamentos realmente impactantes dentro do mundo da música, mas claro que isso não quer dizer que não faltou qualidade. Muita coisa boa foi lançada dentro do rap, do rock, do pop e de outros gêneros, então eu venho aqui como parte da minha tradição de fim de ano pessoal listar os que foram para mim OS DEZ MELHORES ÁLBUNS DE 2023. Vamos lá.
10.Ryu The Runner - Essa é a Vida de um Corredor
Sabe uma coisa que eu sinto muita saudade no trap??? o quanto costumava ser divertido escutar ele. O trap é um subgênero do rap a mais de uma década só que a onda dos trappers e todo o estilo musical e visual que eles trouxeram só foi surgir em 2016 com a explosão do que se chama hoje de Soundcloud Rap era, e nessa época voce tinha os sujeitos mais bizarros possíveis falando um monte de maluquisses exageradas que eram engraçadas pra cacete, em uma música dessa época você podia ouvir coisas como "eu e minha vó tomamos droga juntos" ou "se você apontar uma arma para os meus manos eu vou abrir um buraco nos seus pais". Porém como todo subgênero que explode para o mainstream o trap rapidamente virou uma fórmula que se repete e repete a exaustão com as mesmas letras sobre dinheiro e mulheres que todo mundo já ouviu. Entra então Ryu The Runner, rapper que começou sua carreira em 2020 mas estourou mesmo esse ano com seu primeiro álbum Essa é a Vida de um Corredor. Eu conheci o Ryu aleatoriamente vendo um storie e algo já me chamou a atenção na música dele, logo eu resolvi escutar esse álbum dele que tinha sido lançado a poucos meses e logo quando na primeira linha da primeira música ele manda um "minha puta só fuma salada, carburo esse ice na sacada" eu já me liguei que esse cara era diferente. Na sua vida de corredor Ryu não reinventa a roda dentro do trap com um flow único ou cadencias que ninguém fez ainda, a grande coisa sobre ele é que que as barras dele são muito engraçadas e isso traz uma originalidade que distanciou ele de qualquer nome do trap brasileiro em 2023. São inúmeras as frases marcantes que o Ryu manda durante as 10 músicas do álbum e daria para colocar todas elas em camisetas e vender e eu com certeza usaria, "a minha novinha louca igual a Pucca", "fumando maconha que tem gosto de limão", "essa vadia falou que me ama, então eu bloqueei ela no whatsapp", "bolso gordo igual a vovó zona", "minha puta ta chique de crocs", tem um monte dessas. Todo esse jeito descontraído natural do rapper misturado com a produção do álbum que tem uma vibe naturalmente underground em torno dele, inclusive ele todo foi produzido na casa do artista junto com seus amigos usando equipamentos que eles já tinham, isso faz esse um dos álbuns mais autênticos que teve dentro do trap brasileiro nos últimos anos. O álbum não é perfeito, tem umas tentativas de love songs no meio dele que eu particularmente não acho que é o ponto forte do Ryu fazer, mas é um álbum engraçado e que ditou tendência com todo mundo no cenário brasileiro tentando fazer trap e detroit no estilo do Ryu, mas ninguém consegue ter esse carisma dentro das tracks igual o homem que mais corre nesse Brasil. Os destaques são: BUSINESS, Corsa Freestyle, Garoa PT.2, DAMN, e TWERK.
9.Olivia Rodrigo - GUTS
Existe esse termo americano chamado "sophomore slump" que pode ser traduzido como "síndrome do segundo ano", basicamente ele descreve alguém que teve um primeiro ano fantástico em algum aspecto da sua vida mas não conseguiu manter isso no seu segundo ano. No mundo da música existem vários artistas que fizeram um primeiro projeto genial e que não conseguiram seguir ele com algo do mesmo nível, e tem uma artista que eu tinha certeza que cairia nessa maldição, mas quem diria, ela me provou que eu estava errado. Eu realmente gostei bastante do primeiro álbum da Olívia Rodrigo SOUR, e a razão está já no nome do álbum, em um pop atual onde as músicas ou são exageros amorosos ou tempestades de clichê sobre fins de romance, uma adolescente fazendo uma quase auto parodia do quão super dramático é a vida de um adolescente embalado por um pop rock nostálgico anos 2000 era a coisa leve e sarcástica que eu precisava para o meu 2021, e eu quase me arrependo de não ter colocado o SOUR na minha lista de álbuns favoritos daquele ano, pois bem, em 2023 eu vou me redimir. A continuação de SOUR chamada GUTS é exatamente isso, uma continuação das ideias do outro álbum, porém pegando o que de melhor tinha naquele álbum (o pop rock e a raiva adolescente) e acentuando ainda mais esses pontos positivos. O álbum já abre com uma sarcástica e viciante "all- american bitch" falando sobre a confusão mental na cabeça da cantora que começa calma até explodir no refrão que lembra muito um Paramore no auge da sua fase emo rock. Eu adoro também o quanto essa persona dela se contradiz, basicamente o SOUR inteiro era sobre o fim de um relacionamento dela com um cara que ela claramente não levou na boa, para então nesse álbum o principal single "bad ideia right?" ser basicamente ela falando "esqueçam tudo que eu falei dele no álbum passado porque noiz tamo voltando", como eu já disse várias vezes eu sou muito mais fã de músicas vindo de pessoas quebradas do que algo que parece perfeito demais e essa é a definição da Olívia nesse álbum. Com mais pop Punk, menos músicas lentas de amor a cantora narra aquela fase estranha depois dos 18 em que você tecnicamente não é mais um adolescente mas também não se considera um adulto ainda, todos os problemas que você já tinha estão piores mas agora você não pode nem por a culpa na "fase da adolescência", e ela é uma especialista em trazer esse sentimento. Eu fiquei preocupado que a Olívia cairia no sophomore slump depois dela ter ficado com a fama de overrated após suas três vitórias de Grammy com seu álbum de estreia então é bom ver que ela veio para ficar no mainstream da música, e eu estou ansioso para ver o que ela tem para falar dos mid 20s. Os destaques são: all-american bitch, bad ideia right?, vampire, ballad of a homeschooled girl, get him back!, e pretty isn't pretty.
8.Queens Of The Stone Age - In Times New Roman...
Queens Of The Sone Age é uma das bandas mais subestimadas de todos os tempos. Eu vejo direto essas listas de bandas de rock que não tem um álbum ruim ou bandas que ficaram melhores com o tempo e o grupo da Califórnia nunca está lá, então eu sinto que pelo menos eu tenho que exaltar eles em toda chance que eu puder. O QOTSA havia lançado seu último trabalho em 2017 chamado Villains, e foi um dos meus álbuns favoritos daquele ano, então é bem interessante como eles conseguiram ir em uma vibe completamente diferente daquele álbum e fazer novamente um dos meus álbuns favoritos do ano. Enquanto o Villains era menos pesado, saindo um pouco do Stoner Rock e indo para uma pegada mais otimista e leve o In Times New Roman... volta a sonoridade que o Queens é conhecido por fazer com uma pegada mais sombria do que eles tinham feito antes em álbuns como ...Like Clockwork tanto na musicalidade com um apoio muito grande nos riffs de guitarra mas principalmente nos temas que ele toca liricamente. Muito aconteceu para o vocalista do QOTSA e líder da banda Josh Homme de 2017 até 2023, com ele se separando da sua esposa, lidando com mortes de parentes e inclusive batalhando contra um câncer, e ele converteu toda essa dor pessoal em musica, falando que a única forma que ele conseguiu lidar com essa fase horrível da sua vida foi produzindo um álbum novo. Josh então traz aquele Stoner Rock pesado ao mesmo tempo em que também parece amadurecer ainda mais esse som para o rock moderno, como a porrada "Paper Machete" que lembra aquele rock alternativo caótico dos anos 90 do The White Stripes logo de início, "Negative Space" e "What The Peephole Says" que lembra os grandes clássicos que a banda produziu nos seus primeiros álbuns, e claro eu não poderia deixar de falar de "Straight Jacket Fitting" que vai para um lado totalmente blues improvisado nos seus totais 9 minutos de faixa, é uma daquelas músicas que só vai te levando para uma viagem e no final você fica com aquela sensação que essa foi uma das melhores coisas que você já ouviu. A palavra que define o Queens a Of The Stone é consistência, eles evoluem e se aprimoram nos seus 7 álbuns lançados antes desse e esse não é diferente, ele é maduro, sombrio, e no geral músicas muito boas de um Stoner Rock que a banda se recusa a deixar o mainstream do rock esquecer desse subgênero. Os destaques são: Obscenery, Paper Machete, Negative Space, What The Peephole Says, Emotion Sickness e Straight Jacket Fitting.
7.Killer Mike - Michael
O último álbum do, na minha opinião, melhor duo de rap da atualidade Run The Jewels foi em 2020, logo faz 3 anos que não vemos a dupla dinâmica em ação juntos, mas digamos que esse ano não tivemos tempo de sentir saudades de material bom de rap vindo deles já que uma parte da dupla Miller Mike fez um dos álbuns de rap mais honestos e old schools do ano. 11 anos depois do seu último álbum solo Mike se arrisca novamente em um projeto com ele como foco central, e muita coisa aconteceu nesse meio tempo, o rap mudou, a vida do rapper mudou, e ele abre a sua caixa de ferramentas para contar tudo para o ouvinte. Mike usa de todo tipo de influência na sua sonoridade, indo do boombap classicão que ele é conhecido por fazer, até soul, funk, e uns trapzão modernos, como na faixa que abre o álbum "DOWN BY THE LAW" que tem essa pegada de retorno do herói ao vilarejo vindo para pegar seu trono de rei de volta. Mike é conhecido por suas letras críticas a sociedade falando sobre desigualdade e racismo ao mesmo tempo em que também pode rimar sobre como ele é liricamente muito melhor que você, e ele faz bastante disso aqui mas o Michael é um álbum muito mais pessoal dele, com ele tocando em aspectos da sua vida pessoal como o fato dele ter se achado na religião, reflexões sobre seus erros do passado sendo um senhor de quase 50 anos já, e claro no que eu considero a grande track do álbum, uma das músicas mais bem escritas que eu ouvi em 2023, "MOTHERLESS", onde o rapper fala sobre o falecimento da sua mãe e da sua avó e como está a sua vida após o falecimento das duas maiores figuras femininas na sua vida, a música toda tem essa vibe gospel e a escrita do Mike é de outro mundo com ele fazendo você sentir a emoção na sua entrega. Mike também mostra que pode trabalhar com os rappers novos, ele faz um puta trap com o Young Thug em "RUN", junta ninguém menos que Future e Andre 3000 em "Scientists and Engineers" em um trap gospel numa pegada espacial que simplesmente funciona, e claro traz o seu parceiro de Run The Jewels EI-P para fazer mais um BANGER juntos chamado "Don't Let The Devil" e é uma música com a pegada total do RTJ para eles mostrarem porque eles são os melhores do rap e sabem disso, todo ano em que temos algum material novo desses dois é uma alegria. Existe uma nova onda de álbuns saindo dentro do rap que pode ser descrito como "álbuns de amadurecimento" em que rappers já na casa dos 40 fazem trabalhos pessoais e honestos sobre as suas vidas, Jay Z fez, Nas fez, e agora Killer Mike se reúne a eles com um álbum fantástico falando sobre suas qualidades, defeitos, e os problemas do mundo ao seu redor que não parecem mudar nunca, apenas provando que é uma das maiores lendas em atividades nos dando um disco incrível para a gente ouvir enquanto a gente espera com ansiedade o Run The Jewels 5 que segundo o próprio Mike já está pronto e deve sair ano que vem, já estou reservando um lugar na lista de 2024. Os destaques são: DOWN BY THE LAW, Shed Tears, RUN, TALK'N THAT SHIT, Scientists And Engineers, MOTHERLESS, e Don't Let The Devil.
6.Lil Yatchy - Let's Start Here
Nesses 7 anos que eu faço anualmente a lista de álbuns do ano eu já coloquei inúmeros artistas que eu achei que eu nunca iria colocar aqui, mas talvez o mais surpreendente de estar nessa lista, pelo menos para mim, seja o Lil Yatchy. Eu nunca fui muito fã do nosso trapper de dreads vermelhos, com o tempo que eu entendi o que fazia ele ser gostado sonoramente mas continuei não gostando e para mim depois dele tentar refazer a sua primeira mixtape de sucesso umas quatro vezes e falhar parecia que eu não precisaria ouvir o nome ou as músicas dele nunca mais na minha rotação, isso até o artista vir em 2023 com o seu quinto álbum de estúdio que abandona o trap melódico autotunado para apostar no rock psicodélico??? eu disse que era uma grande surpresa. O rapper de Atlanta juntou um verdadeiro time para trazer a sonoridade que ele queria para a realidade, nomes como o baixista da banda de rock psicodélico Unkown Mortal Orchestra Jake Portrait, e produtores de synth pop e música eletrônica, foram os responsáveis pela produção do álbum, enquanto vocalmente ele tem participações de Mac Demarco, Fousheé, Magdalena Bay dentre outros fazendo uma fusão de ritmos que ao mesmo tempo que várias músicas poderiam facilmente tocar em uma cafeteria com você tomando seu café e relaxando de manhã outras poderiam ser a trilha sonora para uma viagem muito doida de ácido, não que eu já tenha feito nenhuma das duas coisas, eu não tenho dinheiro para café caro ou ácido. O mais impressionante desse álbum é ver que o Lil Yatchy, que também colocou seu dedo na produção, claramente fez o seu dever de casa, conseguindo reproduzir uma psicodelia emulada do auge do Pink Floyd, passeando por uma mistura de sons alternativos ala Tame Impala e até um Neo jazz que soam bastante como os últimos trabalhos do Childish Gambino, mas isso não é surpresa para quem acompanha a carreira do Lil Yatchy, claro que ele fez muitas coisas repetitivas nos seus álbuns mas a criatividade do rapper sempre se expandiu para outros temas, como por exemplo ele sendo o cara que escreveu o hit "Act Up" das City Girls que foi basicamente o grande começo do movimento de Hot Girl Summer de 2019, ano passado ele ajudou na produção do álbum Her Loss do Drake com o 21 Savage que foi super elogiado, e nas entrevistas antes do Let's Start Here ele disse querer ser levado a sério dentro da música querendo fazer algo que tirasse a imagem de mumble rapper dele, e com isso vem essa mistura de sons que ele traz aqui. Toda a experimentação de psicodelia com sintetizadores e a cadência única do Lil Yatchy fizeram esse não apenas um dos melhores álbuns do ano, mas uma das melhores transições de gênero de um rapper para outro gênero musical da história, e uma revitalização de carreira para o nosso pequeno barco que continuou droppando bangers de trap após esse álbum mas também mostrou que só tem a evoluir mais e mais dentro da música podendo misturar gêneros que não imaginariamos ele tocar. Na verdade eu tenho uma analogia perfeita pra descrever esse álbum: é como se Speedin Bullet To Heaven do Kid Cudi tivesse um final feliz. Os destaques são: escute o álbum todo logo, é uma experiência que tem que ser tida completa.
5.Ana Frango Elétrico - Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua
Voltando a falar de álbuns que eu deveria ter colocado na minha lista nos outros anos, em 2019 eu conheci uma artista brasileira através do Fantano chamada Ana Frango Elétrico, com ela lançando seu segundo álbum Little Electric Chicken Heart que alcançou uma popularidade imensa no mainstream gringo sendo indicado a um Grammy Latino e tendo bastante cobertura lá fora, eu gostei muito daquele álbum mas acabei não colocando no meu corte final do ano, em 2023 Ana lançou seu terceiro album que eu gostei ainda mais do que o Little Eletric Chicken Heart, logo não teria como não estar aqui. O estilo de música da Ana é descrito pelos críticos como MPB, mas ela mesmo descreve de maneira brilhante como "bossa-pop-rock decadente com pinceladas de Punk" e eu mesmo não poderia descrever melhor a mistura de estilos que a carioca faz. O que eu mais gosto nessa artista é toda a vibe calma que ela trás quase te levando para uma viagem onde você entra em um bar e ela está lá tocando, e você vai ouvindo ela de fundo até começar a ficar mais e mais interessando com o que ela tem a dizer, isso vem da sonoridade dela que é esse indie pop com uma pegada de bossa nova e com as suas letras que por meio de metáforas falam de romances, aventuras, desilusões e a vida jovial como um todo em um estilo bem boêmio e fantasioso, seja nas letras em português onde ela traz uma voz mais calma ou nos registros em inglês onde ela traz um poder vocal maior indo para um lado mais funky, como é na música que abre o álbum "Electric Fish" ou na setentista "Boy Of Stranger Things". Uma coisa que me incomoda muito na música brasileira atual é que vários artistas populares estão fazendo críticas sobre como hoje em dia tudo é plastificado e clichê e eles são a revolução que a música nacional precisa, essas críticas são feitas nos clipes, em comerciais, em entrevistas, mas nunca nas músicas porque esses mesmos artistas estão fazendo o mesmo pop clichê e plastificado com letras que não passam sentimento nenhum, e enquanto eles estão fazendo isso essa carioca com o cabelo parecendo que saiu de um episódio de Irmão do Jorel está realmente fazendo letras sobre amor que passam autenticidade e misturando gêneros sem se importar se isso vai trazer alguma popularidade a mais ou a menos na sua carreira, e melhor ainda, não se gabando sobre isso em momento nenhum. Com isso ela fez na minha opinião o melhor álbum nacional desse ano. Os destaques são: o álbum só tem 30 minutos, escuta ele inteiro aí, principalmente se você for fã de música brasileira, e se você gostar por favor considere escutar o Little Chicken Eletric também, pois eu considero ambos parte da mesma jornada musical.
4.Danny Brown - Quaranta
Eu acho que eu nunca falei sobre ele aqui no blog mas o Danny Brown é um dos meus rappers favoritos, eu acho que ele fez alguns dos melhores projetos dentro do rap experimental com a sua habilidade única de rimar nos Beats mais bizarros que já foram criados e falar as coisas mais absurdas possíveis e ainda fazer parecer legal, e a razão pela qual eu não falei dele antes aqui é porque ele não tem andado muito ativo desde que eu voltei a escrever aqui em 2017, com seu último álbum solo tendo sido lançado em 2019 e por mais que tenha algumas faixas incríveis lá foi um álbum nada demais do que ele já havia feito antes, e foi apenas esse ano que Danny voltou com um projeto completo mostrando o que estava acontecendo na sua vida desde a última vez que vimos ele. Quaranta em italiano quer dizer "quarenta", aprendemos isso logo nos primeiros segundos da primeira faixa do álbum que tem o mesmo nome, e isso é importante por duas razões, ele é uma continuação espiritual do seu segundo álbum de 2011 XXX e ele foi gravado quando o rapper entrou nos seus 40 anos em 2021. Quaranta também lembra a palavra quarentena, e como eu mencionei anteriormente Danny não fazia material novo desde antes do mundo ser abalado pela quarentena e digamos que esse periodo não foi muito bom para ele (se é que esse período foi bom para alguém). Danny que sempre foi bem aberto com seu vício em drogas e em álcool teve uma recaída bem seria nos seus vícios durante a pandemia e esse álbum é basicamente uma descrição de como ele chegou no fundo do poço durante essa fase da sua vida, ele mesmo descreveu que é quase como se ele tivesse morrido e esse álbum fosse apenas um relato de como aconteceu. Danny então entrega o álbum mais pessoal de toda a sua carreira falando sobre o sentimento de isolamento e solidão durante a quarentena, como as drogas voltaram para a sua vida, e o que isso tudo trouxe para a sua vida já aos 40 anos, tudo isso enquanto Danny ainda é o Danny que a gente conhece, fazendo flow malucos, cadências que parecem que apenas ele consegue fazer funcionar e batidas que vão desde samples de guitarra e bateria pesada na caótica "Tantos" produzida por ninguém menos que The Alchemist, até faixas mais atmosféricas e contidas como "Down With It", fazendo um dos álbuns mais ecléticos sonoramente que o rapper já rimou, com ele oscilando entre a persona que todos nós amamos mas também mostrando o humano por de trás da máscara. Como eu disse anteriormente esse álbum é um sucessor para o álbum que levou ele para o mainstream XXX e aquele álbum é um festival de celebração as drogas, até porque aquele foi o projeto que trouxe toda a fama e notoriedade para o rapper, logo faz muito sentido mais de dez anos depois dez anos mais velho o rapper falar sobre a realidade sombria que é o vício em drogas e álcool sem romantização e fechar esse capítulo em sua vida. E sim esse ano o Danny foi para a reabilitação e está sóbrio novamente, desejamos que ele continue assim. Eu não esperava que o álbum mais pessoal de 2023 viria do Danny Brown, o rapper conhecido por todo o caos que ele pode trazer em uma track, mas aqui ele mostra que ele realmente é um rapper completo, fazendo um álbum que provavelmente não vai ser o favorito dos seus fãs, mas com certeza é o seu mais maduro e uma prova de que aos seus 42 anos ele mostra mais lados musicais do que ele já mostrou antes provando que é mais do que apenas vozes malucas e letras engraçadas. Os destaques são: Quarantana, Tantor, Ain't My Concern, Dark Sword Angel, Jenn's Terrific Vecation, Down With With, Celibate e Bass Jam.
3.Danny Brown e JPEGMafia - Scaring The Hoes
Mas se é vozes malucas e letras engraçadas em Beats experimentais que você quer em 2023 eu tenho a coisa certa para você, porque antes de lançar seu álbum solo Danny Brown se juntou com JPEGMafia para assustar umas vadias. JPEGMafia pegou a coroa de rei do rap experimental nos últimos anos com seus lançamentos, e por mais que eu não tenha sido muito fã do material solo dele uma colaboração entre ele e o Danny Brown é uma daquelas fusões que você só conseguiria explicar com uma edit do Kobe e do Shaq no Lakers, e eles conseguiram pegar as expectativas que estavam sendo colocadas em cima desse projeto e fazer um álbum ainda mais caótico, bagunçado e engraçado do que todos nós já esperávamos. A produção do disco ficou toda por conta do JPEGMafia que utilizou uma Roland SP-404 para fazer todos os samples e batidas, assim a produção está mais crua e o foco é todo em cima de como os dois artistas conseguem trabalhar os seus flows em cima das quebras dos beats e no quão ortodoxa é a construção das batidas, e aqui ele usa tudo que pode, ele samplea NSYNC, Lady Gaga, Kanye West, Michael Jackson, "Milkshake" da Kelis, jazz, músicas de orquestra, sons de videogame, comerciais japoneses, vídeos virais do YouTube, e mais um monte de coisas para criar um som caótico mas com a cara de uma colaboração dos dois. Além da produção fantástica do JPEG é claro que outro grande destaque é as letras malucas dos dois, se o álbum do Ryu The Runner tem frases engraçadas aqui eles elevam as one liners ao infinito, a primeira frase do JPEG na primeira faixa "Lean Beef Patty" é "primeiro de tudo, foda-se se o Elon Musk, 8 dólares é muito dinheiro, vadia, está muito caro" em referência ao Elon Musk cobrando pelo verificado do twitter, e a partir daí temos com certeza as frases mais ousadas do rap em 2023 como "comendo a sua bunda como se eu fosse o Canibus", "eu não confio em nenhum de vocês negros, vocês deixaram o Jack Harlow vender frango para vocês", "me chame de Moisés porque eu vou partir esse mar vermelho", "eu não fecho com vocês negros igual o Hogan", "eu sou o negro Marjorie Taylor Greene" dentre outras insanidades que mesmo que você não entenda por serem enraizadas na cultura norte americana soa engraçado pelo delivery dos dois. Eu adoro quando um álbum transpira controle criativo completo, e guardada as proporções esse álbum para mim tem a vibe do primeiro álbum do Velvet Underground e Nico, um bando de músicos testando diferentes sons e combinações e vendo o que encaixa para fazer o material mais único que eles podem, e se esse era o objetivo eles conseguiram, não só eu não consigo comparar esse álbum com nenhum outro que eu já ouvi dentro do rap alternativo/industrial como eu acho que esse é o meu álbum favorito de rap alternativo que eu já ouvi, são 36 minutos de puro caos e autenticidade como não vemos quase nunca no rap atual. Os destaques são: Lean Beef Patty, Steppa Pig, SCARING THE HOES, Garbage Pale Kids, Fentanyl Taster, God Loves You e Jack Harlow Combo Meal. Eles lançaram uma expansão de quatro músicas do álbum e No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! No! é uma música que você tem que escutar, eu adoro a linha "eu não sou o Baby Keem, meu primo não me deu nada".
2.Paramore - This Is Why
Eu já falei de maneira completa sobre esse álbum e o quão fantástico ele é nesse blog, então eu vou ser um pouco mais breve aqui. Na verdade esse álbum foi o único que eu fiz uma Review nesse blog em 2023 e isso é porque logo quando eu terminei de escutar eu precisava escrever sobre ele. Em 2017 após muitos problemas dentro da banda e problemas internos da vocalista e rosto do grupo Hayley Williams a banda retornou com o After Laughter com um New Wave oitentista que eu particularmente não gostei mas entendi que fazia parte do amadurecimento da banda, que começou sua carreira no pop punk anos 2000 e precisava evoluir na sua sonoridade, o que realmente me agradou foram as letras falando sobre os problemas internos que a vocalista passou todos aqueles anos de maneira aberta e leve, então se passaram 6 anos e o Paramore voltou com um projeto completo, com letras ainda melhores do que a do seu último álbum, e uma sonoridade que na minha opinião combina muito mais com o amadurecimento que a banda queria transmitir e é o melhor que o grupo já soou em toda a sua trajetória. Paramore dessa vez chega com um post punk oitentista mesclado com grooves de guitarra do indie garage rock dos anos 2000, e isso fica perfeito em contraste com as letras mais sombrias e nilistas que tem dentro desse projeto. This Is Why é um disco sobre as ansiedades da vida adulta na época em que estamos vivendo, as letras da cantora falam sobre os sentimentos pós pandemia, o pessimismo coletivo ao ligar no noticiário e ver só notícias ruins incluindo a possibilidade de uma terceira guerra mundial começar a qualquer momento, o sentimento de não ter tempo para nada no mundo corrido atual, dentre outros problemas modernos, e sim, isso são assuntos que muitos artistas falam principalmente no rock alternativo, mas aqui nunca soa clichê, pelo contrário, soa autêntico, as letras tem uma pegada de sarcasmo e humor autodepreciativo que eu acho que conversa muito com a geração atual mesmo vindo de uma cantora que já passou dos 30 anos. Eu abri o meu Review desse disco falando que esse é o melhor álbum do Paramore e um amigo meu que é muito mais fã da banda que eu falou que não tinha muita certeza disso, então eu ouvi os outros cinco álbuns de estúdio do grupo novamente (do melhor ao pior vindo aí???), ouvi esse inúmeras vezes, inclusive é o álbum que eu mais ouvi em 2023, e eu reitero o meu ponto de fevereiro, essa é a melhor coisa que o Paramore já fez, é uma junção de tudo de melhor que os outros discos tinham feito, a melhor sonoridade que eles já tiveram, as melhores letras, refrões que grudam na cabeça e não saem mais pelo ano todo, e uma das coisas mais autênticas que eu ouvi no rock indie alternativo nos últimos anos. This Is Why é o álbum que prova que o Paramore só está começando, e está no caminho de se tornar uma das melhores e mais respeitadas bandas da história do rock mainstream. Os destaques são: This Is Why, The News, Running Out Of Time, Ç'est Comne Ça, Big Man Little Dignitiy, Liar, e Thick Skull.
1.Travis Scott - UTOPIA
Em 2018 Travis lançou o seu famoso Astroworld, provavelmente o maior álbum de trap de todos os tempos e um dos álbuns mais influentes da música moderna ditando a sonoridade e a forma de se vender um álbum a partir dali. Ele conseguiu aumentar ainda mais a sua popularidade pós Astroworld com singles de muito sucesso como "HIGHEST IN THE ROOM", "OUT WEST" e "THE SCOTTS", então tudo o que o público se perguntava era: quando vamos ter a continuação do Astroworld??? bem, ela foi anunciada ainda em 2020 mas só viu a luz do dia esse ano, e valeu a pena todo esse tempo de espera??? claro, ela está em primeiro lugar aqui, então vamos falar mais sobre a utopia criada por Travis Scott. Eu respeito muito quando um artista sai da sua zona de conforto para fazer algo totalmente diferente do que tornou ele famoso, seria muito fácil para o Travis fazer um Astroworld 2, até porque o trap não mudou muito de 2019 para cá, as pessoas ainda estão seguindo o que ele fez lá, mas ele fez o oposto, logo na primeira faixa a gente vê onde o Travis está indo com a sua sonoridade, "HYENA" é introspectiva, com um som menos explosivo e mais obscuro, e isso dita perfeitamente para onde UTOPIA quer te levar. É impossível falar desse projeto sem citar Yeezus, o álbum de Kanye West de 2013 que foi controverso na época mas se provou a frente do seu tempo, e aqui o Travis bebe diretamente dessa fonte para fazer instrumentais que vão para uma pegada de rap industrial com uma vibe meio filme de terror nas batidas, com algumas produções do próprio Kanye dentro do projeto e a música "GOD'S COUNTRY" que deveria estar no álbum DONDA mas que funciona demais na pegada do Travis sendo uma das melhores do disco. Claro que é algo que pode ser criticado, pegar tanto de outro artista, mas para mim emoluar Kanye West é muito difícil e aqui é feito com perfeição, e as pessoas esquecem que o próprio Travis ajudou a fazer o som do Yeezus em 2013, então é ele voltando a um som que ele ajudou a colocar no mainstream uma década atrás. Mas claro que Travis não pode parar de ser o Travis dos hits em favor de apenas faixas obscuras, o disco tem sim os famigerados BANGERS como a viciante "SIRENS", e como o próprio Travis já disse várias vezes ele aqui é a cola que faz com que vários artistas dêem o seu melhor. Ele e Drake fazem mais uma colaboração excelente em um trapzão brabo em "MELTDOWN" com uma daquelas viradas de beat características do rapper, Playboy Carti faz a sua coisa em "Fe!n" e funciona perfeitamente, Beyoncé destrói tudo nos vocais de "DELRESTO (ECHOES)" em um dos melhores feats do ano, Westside Gunn faz um guest verse do caralho em "LOST FOREVER", 21 Savage continua a sua streak de roubar toda a atenção sempre que aparece na faixa de outros artistas em "TOPIA TWINS" e "TIL FUTHER NOTICE" e esses são apenas alguns dos inúmeros feats do álbum que o Travis consegue extrair o melhor dentro desse projeto. A música do Scott sempre foi sobre a vibe que ela te passa, e aqui ele consegue criar essa atmosfera dark mostrando a verdadeira essência do seu som, saindo do comercial e indo em direção dessa utopia sombria que ele tanto quer alcançar. Ao longo dos anos virou moda dentro do rap esses álbuns que são hypados por anos e anos ao ponto deles serem considerados perdidos ou lendas dentro do gênero, e recentemente muitos desses álbuns foram lançados e eu não senti que todo o hype que foi colocado neles por literalmente anos foi justificado na música, que normalmente era apenas mais do mesmo da sonoridade que aquela artista já estava fazendo antes, a grande excessão para mim foi o UTOPIA, eu ouvi esse álbum na madrugada que ele foi lançado e a sensação que eu tive escutando ele era que eu estava escutando algo grandioso, e essa sensação continuou comigo através do ano todo. Com certeza esse álbum não vai ter o sucesso mainstream do seu antecessor, mas com certeza vai ser um fan favorite para os fãs do artista que acompanharam sua evolução até aqui, e para mim é o melhor álbum que o Travis Scott já lançou. Os destaques são: HYAENA, THANK GOD, MODERN JAM, GOD'S COUNTRY, SIRENS, MELTDOWN, Fe!n, DELRESTO (ECHOES), LOST FOREVER, TOPIA TWINS e TIL FUTHER NOTICE.
E essa foi a minha lista de melhores álbuns de 2023, como sempre eu deixo claro que esse foi o corte final e que tem muitos álbuns que eu poderia ter colocado aqui, o Gunna finalmente fez algo que eu gostei com o álbum dele desse ano, eu achei o álbum do Ton Toliver cheio de bangers também, a trilha sonora do desenho do homem aranha também ficou muito boa. No Brasil eu curti muito a fusão de funk antigo com trap atual do Kyan com o MU540 com Um Quebrada Inteligente, e o Victor Xamã fez um dos álbuns mais underrateds do rap nacional com GARCIA. E por último eu quero deixar uma menção especial ao álbum de Flauta do Andre 3000 e um apelo: DEIXEM ELE TOCAR A FLAUTA DELE EM PAZ CARALHO. Por 2023 é isso, eu já estou escrevendo material para 2024 então em Janeiro eu já estou de volta no blog, até lá, boas festas para quem está lendo e flw.
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