Os três melhores discos da história do Brasil


Todos os dias eu tenho milhares de ideias de posts para esse blog que eu faço parte, apesar de postar uma vez a cada cinco anos. Normalmente eu penso em uma estrutura pra fazer o melhor artigo do mundo, e acabo percebendo que estou enferrujado na escrita e que fazer um post acima da média talvez exija um tempo que eu não tenho e por fim acabo procrastinando como um campeão.

Dessa vez eu tive um impulso diferente, pensei em um bom post para o blog e imediatamente abri o Blogger e aqui estou escrevendo, sem me preocupar com a qualidade, apenas jogando minhas ideias pra ver o que sai. Então pegue sua pipoca, escreva para o Stone pagar o meu salário, e venha comigo ver os três melhores discos da história do Brasil na minha opinião burra e ignorante.

Sobrevivendo no Inferno - Racionais MC's (1997)


Quem me conhece sabe o quanto esse álbum é importante pra mim. É sem dúvidas o melhor álbum de hip hop da história do nosso país e eu coloco esse trampo na mesma mesa de Illmatic (Nas), Raady to Die (Biggie), To Pimp a Butterfly (Kendrick Lamar), entre muitos outros que ocupam a prateleira mais alta dos discos de rap.

Tem uma citação sobre Sobrevivendo no Inferno que eu gosto muito, explicando como ele é bem estruturado:

"É organizado e pensado como uma espécie de culto. Tem a introdução, com cânticos de louvor, a leitura da Gênesis, a apresentação do pastor e os relatos de testemunhos. Depois vêm o grande relato, a atuação do diabo, e, no fim, um processo de reflexão”

É basicamente isso, um ritual e uma aula de sociologia brasileira. Sobrevivendo no Inferno é perfeito do início ao fim, já escrevi várias vezes no Twitter que eu tenho a sensação que o Mano Brown e sua rapaziada superaram o auge criativo, embora isso não faça sentido, pois o auge é o topo máximo que alguém pode chegar, mas eu acredito que alguma coisa move esse disco pra um novo plano indecifrável.

Jorge da Capadócia é uma excelente introdução, Genesis faz uma abertura para Capítulo 4, Versículo 3, que pra mim é o melhor rap brasileiro da história (desculpe amantes de vida loka parte 1 e 2). To ouvindo alguém me chamar é uma narrativa perfeita com uma mensagem foda que o grupo sempre passava apesar de muitos não entenderem infelizmente. Rapaz comum mostra como o Edi Rock é um dos maiores rappers da história apesar de estar sempre na sombra do Brown. E esse álbum é tão completo e perfeito que eu não posso deixar de citar o interlúdio numa batida FODALHAÇA que o mano KL Jay manda, que diga-se de passagem é o DJ Premier brasileiro.


Diário de um detento é outro clássico com uma narrativa 10/10 sobre o massacre do Carandiru que havia acontecido a alguns anos antes. Periferia é periferia é um hino para todos os manos. Qual mentira eu vou acreditar é um som divertido e versátil totalmente anos 90, bom demais. Mágico de Oz eu já chorei ouvindo. Fórmula mágica da paz eu só digo uma coisa: ESSA PORRA É UM CAMPO MINADO QUANTAS VEZES EU JÁ PENSEI EM ME JOGAR DAQUI. E o álbum termina da melhor forma possível com aquele salve pra toda a rapaziada.

Pra quem viveu e ainda vive na periferia como eu e a maioria dos brasileiros, esse disco tem um significado especial, não atoa eu durmo e acordo olhando para essa capa que emoldura o meu quarto e me lembra que estamos todos os dias sobrevivendo no inferno. CLÁSSICO CLÁSSICO CLÁSSICO!

Cartola II (1976)


Já faz algum tempo que eu navegava pela rede social maldita do pássaro azul quando me deparei com um meme interessante. Era uma imagem comparando o álbum do Cartola com aquele do Johnny Cash que tem "Hurt", apontando o do Cartola como superior. E aquilo me deixou pensativo, pois sou um grande fã de Johnny Cash e já tinha ouvido alguns hits do Cartola e também curtia. Resolvi ouvir uns dois discos do Cartola enquanto limpava o meu quarto e achei DO CARALHO. Especialmente esse segundo álbum de sua sagrada discografia.

Realmente era muito melhor que o disco do Johnny Cash, não desdenhando deste, que por sinal tem álbuns melhores que o American IV: The Man Comes Around. Mas o lirismo do Cartola e as batidas de samba e MPB me pegaram muito, um álbum bem costurado do início ao fim, pois já começa com um clássico que é "O Mundo é um Moinho" e vai passeando numa vibe de samba clássico e festivo com tons melancólicos que deram o tempero de disco perfeito. Quando chegou na sexta faixa com o também lendário hit "Preciso me encontrar" eu já sabia que estava ouvindo um clássico atemporal, essa faixa inclusive é uma das melhores composições da história do nosso Brasilzão.


Não satisfeito Cartola mandou mais clássicos como "As Rosas Não Falam", continuando o disco nessa pegada mais melancólica, fazendo sentido aquele meme citado no primeiro parágrafo, pois é semelhante com o Johnny Cash dos últimos anos de vida. Cartola finaliza com perfeição essa obra prima com "Cordas de Aço", marcando na história sua genialidade lírica e sua voz marcante que encantou um maluquinho escrevendo em um blog mais de 40 anos após a sua morte, justificando o seu legado imortal.

Clube da Esquina - Milton Nascimento (1972)


Não é nenhum exagero dizer que esse é o melhor álbum já feito na história do Brasil. Ouvir o Clube da Esquina foi um misto de emoções. Primeiro de susto, porque não consegui acreditar que aquela produção tão moderna e ousada tinha sido feita em MIL FUCKING NOVECENTOS E SETENTA E DOIS. E a última vez que eu tinha sentido isso foi assistindo o Poderoso Chefão, curiosamente sendo lançado no mesmo ano.

Esse álbum é especial em todos os detalhes, começando pela capa épica. E assim como no álbum do Cartola, o Milton Nascimento iniciou sua obra com uma das melhores músicas que eu já ouvi "Tudo o que você queria ser". O Milton já mostra todas as sua habilidades logo de cara com um vocal impecável, mandando uns falsetes incríveis que me fez levantar da cadeira e aplaudir sozinho de forma patética sozinho no meu quarto.

Eu só conseguia pensar "MANO COMO ESSE CARA CONSEGUE ALCANÇAR ESSAS NOTAS COM TANTA FACILIDADE SEM UM AUTOTUNE OU EDIÇÃO BARATA DO FL STUDIO??? COMO MEU DEUS????"


Eu só falei da primeira música, e acreditem que o restante segue a mesma linha, de forma mais ousada ainda. Milton e Lô Borges passeiam por vários gêneros musicais, como o rock, MPB, jazz, folk, etc. E tudo isso fluiu de forma tão natural que eu não consigo explicar, você percebe o Milton abrindo diversos caminhos e percorrendo por eles de forma simétrica. E assim como Cartola e Mano Brown, Nascimento capricha nas letras, e pra mim é um dos artistas mais completos de todos os tempos, domina todos os fundamentos com maestria e felizmente presenteou o Brasil e o mundo com um dos discos mais fantásticos já produzidos. Esse é daqueles clichês pra se dizer "você não pode morrer sem ouvir Clube da Esquina". Well, i'm ready to die.

Esses três discos pra mim são os melhores do Brasil, obviamente existem outros excelentes, mas no fim de tudo o melhor disco do Brasil é aquele que te faz sentir algo especial. Não vou falar pra você apreciar e valorizar a arte nacional pois já fui clichê demais nesse artigo, então até a próxima!

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